O bom resultado diante do Novorizontino, na segunda partida
pelas quartas-de-final do campeonato paulista, fez a gangorra da bipolaridade
palmeirense voltasse a pender para o pólo positivo – e com força. Chega a ser
engraçado.
Mas não são só palmeirenses que estão olhando o time com
bons olhos: a imprensa e até torcedores de outros clubes estão se referindo ao
Verdão com muito mais respeito que o costume. Pelo menos até a próxima
oscilação.
O placar dos jogos seguem sendo o fator primordial para as
análises do futebol jogado – o chamado resultadismo. O fato é que na última
terça o Palmeiras teve um volume de jogo bem semelhante ao que já vinha
apresentando nos outros jogos; a ligação entre defesa e ataque ainda foi feita
na maior parte das vezes através de lançamentos longos e o número de
finalizações desferidas e sofridas seguiu o bom padrão da temporada.
O que realmente fez com que a avaliação fosse diferente foi
o placar, resultado de uma tarde bastante feliz na execução das assistências e
das finalizações.
Os primeiros passos
Cesar Greco/Ag.Palmeiras
No ano passado, a primeira coisa que Felipão fez foi acertar a recomposição defensiva. O Palmeiras tornou-se um time extremamente competente na retaguarda e o índice de gols sofridos despencou. A equipe se recuperou de um início irregular no Brasileirão e venceu a competição até com uma certa folga, mesmo sem mostrar tantas virtudes lá na frente.
Felipão acertou e defesa e usou a ligação direta com o setor
ofensivo, recheado de grandes jogadores, para que eles se virassem para fazer
os gols. É claro, uma ou outra diretriz, mais as jogadas ensaiadas na bola
parada, foram a contribuição do treinador para que o time chegasse aos gols. O
resto, foi resultado do talento dos jogadores.
Cesar Greco/Ag.Palmeiras
Para este ano, a chegada de Ricardo Goulart deu uma
perspectiva diferente a nosso ataque. Sua mobilidade e seu gosto por pisar na
área, além do ótimo senso de posicionamento e de seu talento como finalizador, fazem
do camisa 11 um atleta indispensável em qualquer partida, dentro do
planejamento da administração da condição física.
Diante das características de Goulart, o sistema ofensivo,
bastante cru em 2018, pode ser desenvolvido em função de sua presença. E outra
peça fundamental para essa arquitetura é Gustavo Scarpa, com sua facilidade em
flutuar por todos os cantos do campo ofensivo e preencher os espaços que
Goulart deixa quando se manda para a área. Quem não tem essa característica é
Lucas Lima, que acabou perdendo espaço.
Um time-base com peças de ajuste para todas as situações
Com Goulart, Scarpa e Dudu, temos um trio ofensivo que, com
um centroavante com mais mobilidade e capacidade de trocar passes, como
Deyverson, pode construir ataques estruturados bem mais envolventes. Claro que
o apoio do segundo volante e dos laterais segue sendo essencial, mas esta
configuração básica parece ser capaz de incomodar qualquer sistema defensivo.
Mas o Palmeiras pode mais. Felipão tem nas mãos um elenco
com jogadores das mais diversas características, os quais ele pode usar não
apenas para poupar os atletas do excessivo desgaste físico, mas também para
adaptar nosso ataque da melhor forma às vulnerabilidades das defesas
adversárias.
Além do quarteto ofensivo já mencionado, Felipão tem à disposição
um verdadeiro bat-cinto de utilidades. Ferramentas diferentes para serem usadas
em desafios diferentes.
Borja: o típico
homem de área, ideal para prender os zagueiros enquanto os meias chegam de
trás. Mesmo em má fase, segue sendo uma ótima opção para povoar a área quando o
time estiver em busca de gols nos minutos finais;
Arthur Cabral:
ainda em fase de reaquisição de ritmo de jogo, parece ter todos os atributos de
um centroavante: além da força física para jogar fixo na área, tem boa movimentação
e pode trocar passes; finaliza bem por baixo e no jogo aéreo;
Lucas Lima: como
quarto homem da linha de meias, alterando o esquema para o 4-1-4-1, não vai precisar
de tanta mobilidade, que nunca foi sua característica. Desta forma, pode
brilhar como em seus melhores momentos da carreira; com a intermediária
ofensiva preenchida, não precisa percorrer tanto espaço ou forçar passes mais
longos; sua grande capacidade de antever movimentos pode resultar em assistências
preciosas;
Raphael Veiga: tem
as mesmas características do meia clássico que Lucas Lima, com menos
virtuosismo, mas com mais capacidade física, o que faz com que ele possa se
converter num segundo volante quando o time está sem a bola – mais indicado
para quando o time precisar trocar passes para furar defesas contra um time que
tem está com o contra-ataque armado;
Felipe Pires: como ele mesmo se descreveu, é velocidade pura. Com suas características, é ideal para o jogo vertical, quando o time adversário avança a última linha e deixa espaços;
Carlos Eduardo: é
o rabiscador, ponteiro que tem no drible sua principal arma, embora ainda
precise evoluir no passe final; indicado para quebrar linhas compactas e
recuadas;
Willian: meia-atacante
de beirada com grande poder de finalização; também gosta de pisar na área e tem
ótimo senso de colocação e finalização. Indicado para jogar pelo lado quando Goulart
não puder estar em campo, para suprir exatamente essas características, de
preferência com Veiga por dentro. Quem tem Willian, não precisa de Pato;
Zé Rafael: joga
predominantemente pela esquerda, fazendo a mesma função de Dudu. A diferença é
que não é tão rápido; em compensação, tem mais aptidão para jogar afunilando e
fazer o papel do meia-armador no processo de constantes trocas de posição que a
dinâmica do ataque exige;
Ainda temos Hyoran
que reúne um pouco das características de Zé Rafael e Willian; e Guerra, que tem traços do jogo de Lucas
Lima e do próprio Goulart. Os dois estão alguns passos atrás dos companheiros
neste momento, mas são jogadores cujas qualidades podem virar esse jogo a
qualquer momento.
Um passo de cada vez
Cesar Greco/Ag.Palmeiras
Com a defesa acertada e o desenvolvimento pleno do sistema
ofensivo, depois de finalmente poder contar com Scarpa e Goulart ao mesmo tempo
(o que permite ao treinador desenvolver o esquema básico de ataque, que pode
ser alterado a qualquer momento com todas essas peças específicas mencionadas)
o Palmeiras será capaz de marcar gols com a mesma eficiência que consegue não tomá-los.
É de se imaginar que até o final de maio
esse estágio esteja cumprido.
É aí que pode ser iniciada a fase final da construção do
time, que é melhorar a transição para o ataque; fazer da ligação direta uma opção a ser usada quando a defesa
adversária está desguarnecida, e não a
única opção. O Palmeiras tem que saber fazer a bola chegar ao quarteto
ofensivo sem correr tantos riscos de perder a bola em tantos passes longos, forçados.
Essa fase, no entanto, não precisa ser feita no atropelo.
Mais importante que fazer esse ajuste é cumprir as tarefas básicas para se
ganhar um jogo: fazer gols e não tomá-los. Enquanto isso não acontece,
precisamos saber conviver com essa quantidade de lançamentos longos.
O desespero da torcida em ver o time “jogando bem” é compreensível,
mas a construção de um time que seja completamente equilibrado, forte na defesa
e no ataque, e que tenha recursos para construir as jogadas de forma rápida ou
cadenciada, conforme o momento do jogo exija, leva tempo. Algo que nenhum
técnico teve desde o início desta nova fase do Palmeiras, com a inauguração do
Allianz Parque.
Felizmente Felipão tem o estofo necessário para aguentar as pancadas que seus antecessores não suportaram; a construção da identidade desta equipe segue e, para a fase decisiva da temporada, que começa na segunda metade de agosto, é que podemos esperar um time completo: competitivo, e jogando “bem”. Por enquanto, só os resultados já estão de ótimo tamanho.
O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.