Aqui, criticamos Abel Ferreira. E criticar não é fritar.
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O momento tático de Abel Ferreira no comando do Palmeiras é o mais irregular desde que assumiu o time, em novembro. Num momento de muitos desfalques, o time vem perdendo rendimento. Mas também jogou abaixo do que pode recentemente com o elenco completo.
Conforme suas próprias definições, o Palmeiras de Abel é, ou deveria ser, um camaleão que não aceita rótulos: nem propositivo, nem reativo; nem posicional, nem transicional. Não joga com linha de 3, nem de 4, nem de 5.
Um dos desafios de ser imprevisível é fazer com que os jogadores compreendam essa dinâmica e saibam se adaptar bem a todos os planos de jogo. A cada adversário, um programa diferente; um esquema diferente, uma formação diferente. E é necessário muito estudo por parte de atletas e comissão técnica para que as engrenagens girem.
Além disso, é necessário ter um elenco afiado, não só para ter as ferramentas corretas para cada proposta ou para rodar as peças em busca da manutenção física, mas também para repor as ausências causadas por lesões e as cada vez mais frequentes convocações.
Abel Ferreira parece estar encontrando dificuldades em todas as frentes. Quando não são as lesões e convocações, são os casos de Covid-19 que estão desfalcando o time – isso sem falar nas trágicas perdas de Edson e Cristiano, membros da equipe de apoio.
Neste momento, o time se encontra desfalcado de atletas fundamentais para a dinâmica coletiva, desde Weverton, que participa taticamente com seu bom jogo com os pés, passando pela liderança de Gustavo Gómez, pela velocidade de Viña e pela energia de Danilo e Patrick de Paula.
Mas mesmo com estes jogadores à disposição, o Palmeiras perdeu força, a ponto de ser batido pelo apenas mediano time do SPFC, que ainda está em processo de desenvolvimento do trabalho de Hernán Crespo, nas finais do estadual. A dificuldade se repetiu no clássico do último fim-de-semana, quando o Palmeiras, com desfalques, apenas empatou com o fraquíssimo time do SCCP, que deve lutar para não ser rebaixado no Brasileiro. Com ou sem desfalques, o rendimento caiu.
Uma via de duas mãos com problemas visíveis
Abel Ferreira tem potencial para ser o técnico mais longevo da História do futebol brasileiro. Há apenas sete meses no país, o português ainda não fincou raízes; sua família segue do outro lado do oceano. Mas se sentir que tem respaldo para implantar de fato sua filosofia no Palmeiras e que terá segurança para comandar o projeto por longos anos, essas raízes podem começar a se ramificar no solo da zona oeste da capital paulista.
Cesar Greco
É uma via de duas mãos. Abel precisa manter o grupo de atletas sob seu controle e entender a situação financeira do clube, as limitações de orçamento e fazer pedidos dentro da realidade. E claro, tomar as decisões corretas.
Obviamente, para que todo esse fluxo aconteça, a diretoria do clube também precisa fazer sua parte, vindo a público para manter o treinador respaldado e se esforçando de verdade para proporcionar ao comandante um elenco qualificado. Estão devendo.
Mas mesmo com o fraco trabalho de Anderson Barros e de Mauricio Galiotte, Abel pode mostrar mais. Suas escolhas nos clássicos contra SPFC e SCCP foram bastante questionáveis. Em duelos em que o Palmeiras, por sua maior qualidade, poderia ter se imposto, preferiu a cautela.
São oscilações de desempenho, não de potencial. Abel e sua comissão técnica já mostraram o que podem fazer; a decisão da Supercopa, contra o Flamengo, foi um grande momento de todo o grupo, apesar do resultado ruim. É preciso diferenciar erros pontuais de tendências.
Problema de cultura – ou da falta dela
Cesar Greco
Nosso treinador não está acima do bem e do mal; ninguém está. Abel pode e deve ser cobrado, para que melhore. E isso não pode ser maliciosamente confundido com um processo de fritura.
Quem mais quer que o Palmeiras caia novamente no velho ciclo de demitir o treinador é a imprensa clubista – aquela fatia desonesta de profissionais que veste a camisa de clubes rivais por baixo e que usa de seus microfones para manipular a opinião das torcidas, aumentando a temperatura conforme seus interesses.
Abel Ferreira é grande, mas pode ser maior ainda. E infelizmente o disclaimer ainda é necessário: esta crítica tem a intenção de fomentar uma discussão nesta direção, não de fritá-lo. Abel precisa continuar mergulhado nos estudos e entender por que suas escolhas não foram as melhores nestes clássicos estaduais. Nosso treinador precisa, em sua auto-crítica, reconhecer seus erros, coisa que não fez nas entrevistas pós-jogo.
Ao mesmo tempo, Abel precisa de apoio da diretoria, na forma de respaldo público e de reforços verdadeiros.
E por fim, é necessário o apoio da torcida, que para isso, terá que evoluir em sua cultura sobre futebol e entender de uma vez por todas que a saída mais fácil, que é a troca, nem sempre é a melhor. Ainda mais quando temos à nossa disposição uma equipe profissional com tanto potencial – e que já nos deu um título que não vencíamos há muito tempo.
Insistir no ciclo de trocar o técnico a cada 7 ou 8 meses por uma oscilação não é mudar para melhorar. É continuar fazendo exatamente a mesma coisa.
O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.