Amadorismo da Conmebol segue prejudicando o Palmeiras

O amadorismo da Conmebol, ainda por conta dos incidentes ocorridos em Montevideo, segue prejudicando o Palmeiras. O clube segue sem poder vender os ingressos para a partida contra o Atlético Tucumán, que acontece dentro de oito dias, no Allianz Parque, porque a entidade demora a divulgar as eventuais punições aos clubes, a serem definidas por seu Comitê Disciplinar. A diretoria trabalha com a hipótese de não poder haver torcida nesse jogo.

Troféu LibertadoresNormalmente, o Palmeiras começa a vender os ingressos com dez dias de antecedência, o que dilui um pouco o tráfego já caótico sistema de venda de ingressos pela Internet. Saber com antecedência se haverá uma partida (e se ela acontecerá com público ou não) é importante também para que toda a logística do evento seja feita sem atropelos pelo Palmeiras. A previsão otimista para que o parecer da Conmebol seja divulgado é sexta-feira.

O Estatuto do Torcedor determina que as vendas sejam iniciadas em, no máximo, 72 horas antes do início da partida – o que significa, na prática, 21h45 de domingo. Caso tenhamos o parecer até sexta-feira e o Palmeiras seja absolvido, a toda a operação poderá ser iniciada, com prazo bem mais curto que o habitual. Já será um problema.

Mas o problema será grande mesmo se não tivermos a definição até sexta-feira. Esperar que alguém mova uma palha para que o parecer saia no fim-de-semana é o mesmo que acreditar no coelho da Páscoa. Neste caso, a definição acontecerá só na segunda-feira e prazo legal para início das vendas não poderá ser cumprido, a não ser que o Palmeiras assuma o risco da operação por sua própria conta e risco.

Neste último caso, temos três hipóteses:
a) Palmeiras é absolvido e tudo se resolve, com muita correria; ou
b) Palmeiras é condenado, mas poderá cumprir a punição em outra partida, tudo se resolve com muita correria mas o time não poderá contar com a torcida no jogo seguinte, muito mais importante; ou
c) Palmeiras é condenado, precisará cumprir contra o Tucumán, e vai ter que arcar com todo o processo de devolução de dinheiro e com todas as complicações de uma operação dessa natureza.

Diante do risco de acontecer as duas últimas alternativas, o bom senso indica que, a não ser que tenhamos a definição até sexta, o Palmeiras deve recolher as vendas e jogar com os portões fechados, acarretando num enorme prejuízo financeiro. Mesmo que o parecer posterior seja de absolvição do clube.

A várzea é mais organizada

O incidente aconteceu há 20 dias. Os dados estão claríssimos e a Conmebol tem todos os elementos para emitir seu parecer. A entidade tem a obrigação de organizar decentemente os campeonatos que promove e deixar para definir se um jogo terá público ou não a menos de 72 horas de seu início é algo que não acontece nem na várzea.

Nossos jogos são operações que movimentam alguns milhões de reais e o Palmeiras precisa que as entidades que organizam os campeonatos – e que faturam alto por terem clubes tão importantes os disputando – desempenhem suas funções de forma compatível com esses valores. Essa demora é injustificável e inaceitável; as implicações podem significar prejuízo enorme. O Palmeiras pode faturar num jogo de Libertadores, limpos, quase 2 milhões de reais.

Perguntas pertinentes

  1. Por que será que a Conmebol demora tanto para divulgar um parecer aparentemente simples de ser definido? Quais são os interesses envolvidos e quantas ligações telefônicas estão nesse processo?
  2. Por que a CBF ainda não fez nada para defender um de seus mais importantes afiliados neste episódio, que já custou uma absurda punição de seis jogos a Felipe Melo e ainda pode custar muito mais, técnica e financeiramente?
  3. Por falar em venda de ingressos, quando é que a Futebol Card vai implementar um sistema que realmente funcione e seja capaz de estabelecer uma fila racional e justa para carregar os cartões de acesso?

De Dacunto a Felipe Melo: quem corre são os outros

Felipe Melo
REUTERS/Andres Stapff

A Conmebol julgou ontem os atletas envolvidos no conflito ao final da partida entre Peñarol e Palmeiras, em Montevideo. Felipe Melo foi condenado a seis jogos de suspensão mais ao pagamento de dez mil dólares. Já os uruguaios Mier, Nández e Hernandez receberam cinco partidas cada, além do pagamento da mesma quantia. Os dois clubes ainda serão julgados na próxima quarta-feira e poderão receber penas de perda de mandos de jogos. Cabe recurso.

Felipe Melo, que já havia sido suspenso preventivamente e não pôde jogar contra o Jorge Wilstermann na Bolívia, tem ainda mais cinco jogos por cumprir: contra o Tucumán, na partida derradeira da fase de grupos, e nas partidas pelas oitavas e quartas-de-finais, caso o Palmeiras siga avançando. Em caso de eliminação, a punição valerá para a Sul-Americana.

É quase desnecessário pontuar o quanto a punição é absurda. As imagens são claras, os jogadores do Peñarol, como de hábito, reagiram mal à eliminação e deliberadamente deflagraram o conflito, escolhendo Felipe Melo, por todo seu histórico, como alvo. Nosso atleta, experiente, evitou ao máximo o confronto e se defendeu num momento extremo. A má intenção uruguaia fica escancarada pelo fato dos portões de acesso ao vestiário terem sido trancados, evitando que nossos jogadores deixassem o gramado para encerrar o conflito.

Quando termina a má intenção do Peñarol, aparece a da Conmebol. O patético relatório do oficial de segurança da entidade chama para si a responsabilidade do cerramento dos portões, justificando a atitude pela presença de seguranças do Palmeiras, que entraram no gramado exatamente para isolar nossos jogadores e evitar o conflito. Para a Conmebol, o que Felipe Melo fez foi mais grave que o que fizeram os uruguaios – e apenas três deles mereceram punições.

Cheiro ruim

Nossa torcida reagiu com indignação à divulgação da punição. Há quem defenda o abandono da competição como medida extrema, o que significaria um ato de desagravo ao “amadorismo”, para não sugerir outras intenções, da entidade.

Vamos e venhamos: a punição exagerada não cheira bem. O fato do Palmeiras estar bem calçado financeiramente e de caber recurso – e de ainda haver outro julgamento relacionado a perda de mandos nos faz pensar em outras intenções, relacionadas a acertos nos bastidores. O vasto histórico da entidade permite que essas ilações sejam feitas sem cair na leviandade.

Tudo o que nossos adversários sonham é que o Palmeiras se retire da Libertadores. Bem ou mal, o que está em jogo é o título do continente e o Verdão é um dos principais candidatos ao troféu. Abrir mão da disputa em nome de um levante que, sabemos, não dará em nada, além de ser inócuo abrirá caminho para que times como o Flamengo fiquem mais próximos da conquista.

Cadê a CBF?

Maurício Galiotte já fez o que estava a seu alcance: foi à imprensa e reclamou com veemência, reafirmando a condição do Palmeiras de vítima no episódio. Além dos recursos legais, cabe até um protesto formal – tão eficaz quanto pedir “por favor” para que a pena seja revogada.

Quem elege a diretoria da Conmebol são as confederações nacionais. A responsabilidade de se insurgir contra essas medidas é da CBF. É obrigação da entidade da Barra da Tijuca agir nos corredores da Conmebol em defesa de seus afiliados. Cadê?

O mais irônico é que tudo isso acontece em meio a insinuações de favorecimento ao Palmeiras, seja pelo poderio financeiro da patrocinadora, seja pela origem supostamente palmeirense do presidente da CBF – aquele que não pode deixar o país para não ser preso e que lutou com todas as forças pela viabilização da construção do Itaquerão.

Combustível

Cabe à nossa torcida engolir mais essa e transformar a punição indigesta em combustível para empurrar o time rumo ao bicampeonato. Temos time e temos técnico. Se confirmada, a punição será apenas mais um obstáculo a ser vencido.

Nos inspiremos em nossa História. Em 1942, foi o SPFC quem correu. Em 1944, armaram e tiraram o nosso médio argentino Dacunto da partida decisiva. No final, sempre deu Palmeiras. Com Dacunto ou sem Dacunto; com Felipe Melo ou sem Felipe Melo, nós ganhamos. VAMOS PALMEIRAS!

Sem apoio da CBF, Palmeiras vê Conmebol carregar contra si nos relatórios

Portão do estádio Campeón Del Siglo
Reprodução Fox Sports

A Conmebol suspendeu preventivamente Felipe Melo, além dos jogadores do Peñarol Nández, Mier e Lucas Hernandez, por três jogos, como consequência dos episódios pós jogo na última quarta-feira. Esta é a pena mínima prevista para situações como a que se viu no estádio Campeón Del Siglo. Os jogadores ainda serão julgados formalmente pelo tribunal disciplinar da Conmebol, de onde sairá a pena definitiva.

Nosso departamento jurídico já preparou a defesa e Leonardo Holanda, advogado do Palmeiras, entregou pessoalmente a documentação na Conmebol na manhã de ontem. Mas pelo visto a tarefa será dificílima: os documentos emitidos pelo árbitro e principalmente pelo delegado do jogo fazem relatos patéticos do que realmente aconteceu e que estão registrados nas câmeras, praticamente canonizando os jogadores do Peñarol e imputando a Felipe Melo a culpa do ocorrido. Diz o relatório do juiz:

“Ao final do jogo, o senhor Felipe Melo, com a camisa 30 do Palmeiras, faz um gesto supostamente de saudação ao céu, gerando reação tanto de jogadores titulares como de reservas do Peñarol, na qual pode se individualizar o senhor Matías Mier, camisa 10 da equipe do Peñarol, que, em atitude provocativa, perseguiu o senhor Felipe Melo. Em um dado momento, ocorre uma agressão mútua entre ambos os jogadores com golpes de punho, o que motiva a reação de outros jogadores de ambas as equipes. Foi difícil identificar quem estava envolvido”

Os pontos destacados apontam que
1) foi a comemoração de Felipe Melo, que pelos vídeos não apontam nenhuma provocação, que geraram reação dos uruguaios; e
2) que o soco desferido por Felipe Melo por estar sendo perseguido por Mier motivou a confusão geral, quando está claro que o pau já estava quebrando – Fernando Prass foi agredido por três uruguaios ao mesmo tempo antes do soco de Felipe Melo.

Para piorar, o relatório do delegado do jogo Mario Campos destaca que Felipe Melo fez o gesto se dirigindo ao banco do Peñarol – o que é claramente uma mentira. Já o relatório do oficial de segurança relata ter mandado fechar os portões de acesso ao vestiário colocando a culpa em quatro seguranças do Palmeiras que invadiram o campo para proteger nossos jogadores.

Ainda nesse relatório, o funcionário da Conmebol diz que os santos jogadores do Peñarol tentavam acalmar seus torcedores, que estavam envolvidos em outro conflito com nossa torcida – depois de atirarem bombas e objetos o tempo todo. Não é mencionada a agressão sofrida por Willian dentro da área nos segundos finais da partida, ainda com a bola em jogo, nem o cerco de Nandez e Quintana sobre Felipe Melo assim que o juiz deu o apito final, nem a agressão tripla sofrida por Fernando Prass.

A Conmebol historicamente defende os clubes de língua espanhola contra os brasileiros. Os relatórios fazem o possível para abrandar a responsabilidade do Peñarol – jogadores e clube – e carregam contra tudo que estava vestindo verde.

Em meio a tudo isto, é estarrecedor o posicionamento de parte da imprensa brasileira, que reverbera a versão de que Felipe Melo foi o causador da confusão, embora exista uma porção importante que isente o jogador e o Palmeiras de qualquer responsabilidade.

Cadê a CBF?

Pior do que a já esperada perseguição da ala clubista da imprensa é o silêncio absoluto da CBF, entidade cuja existência está apoiada na defesa dos interesses dos clubes brasileiros interna e externamente. Não houve nenhuma menção, muito menos repúdio aos ocorridos no site oficial ou nas redes sociais da entidade. Diante desta omissão, o Palmeiras fica completamente à mercê da vontade do tribunal da Conmebol, dependendo apenas de sua própria capacidade de defesa.

Sem apoio da CBF, sendo atacado pelos clubistas da imprensa, o Palmeiras segue seu caminho rumo a conquista da Libertadores, um campeonato que tem tudo para ser o mais legal do planeta, mas que segue capengando pela falta de profissionalismo dos dirigentes da Conmebol, incapazes de garantir seriedade compatível com a quantia de dinheiro que movimentam. Na várzea é muito mais organizado.

Esperem para ver as arbitragens de nossos próximos jogos.