Não gostamos de futebol; gostamos mesmo é do Verdão

Derby - Daronco
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

O Campeonato Brasileiro de 2017 tende a terminar com mais um asterisco. Não será novidade: muitos Brasileirões já foram decididos de forma “não-convencional”, mesmo nos pontos corridos. De cabeça, sem forçar muito, podemos mencionar os títulos de 1974, 1978, 1986, 1995, 2005, 2008 e 2009 como direcionados por movimentações extra-campo. E se puxarmos pela memória, a lista certamente aumentará.

Sempre haverá quem alegue que isso é choro de perdedor. Pode até ser. Mas as evidências estão aí: o roubo de Héber Lopes no gol de Borja, ao melhor estilo Carlos Simon, seguido pela operação no Derby, num jogo decidido num pênalti inventado por Jô, que ele mesmo converteu – o atacante do SCCP nem deveria ter jogado, já que deveria ter sido expulso na rodada anterior ao chutar um adversário.

O futebol desperdiçou uma história espetacular

Heber Roberto LopesO Palmeiras vinha de uma desvantagem de 17 pontos na rodada 22, numa arrancada que tendia a zerar a diferença na rodada 32 e culminar com o decacampeonato. Houve quem dissesse que era por obra do “Esquema Crefisa” – os mesmos que lançaram falsas polêmicas nos dias que sucederam o Derby, para tirar o foco do escândalo. Desculpem, não somos burros; não queremos saber de polêmicas com Clayson, com Neto ou com Chico Lang, e sim que parem de nos roubar.

O fato é que o Palmeiras, mesmo com uma troca de técnico, havia engrenado e o futebol estava prestes a ganhar uma incrível história de virada e superação. Assim como a virada do Vasco na final da Mercosul de 2000 é um episódio grandioso da história do esporte, o título do Palmeiras em 2017 seria um evento a ser lembrado por gerações a fio.

Mas o futebol e seus meandros parecem mesmo é gostar de asteriscos e rejeitaram esse capítulo. Não foi permitido ao Palmeiras protagonizar mais uma trajetória espetacular. Azar do futebol.

É assim desde o início

Palestra Italia 1915O Palmeiras representa desde seu nascimento a resiliência, a resistência. Um clube que nasceu para congregar a imensa comunidade italiana em São Paulo, que se ressentia não apenas da saudade da pátria-mãe, mas também da rejeição que sofriam no novo país – numerosos, falavam seu próprio idioma enquanto eram usados como mão de obra barata nas plantações e indústrias, enquanto as outras comunidades de imigrantes, menos numerosas, se forçavam a aprender o português mais rapidamente.

Chamados pejorativamente de carcamanos, os italianinhos do Palestra Italia em pouco tempo passaram a dar bailes de bola em clubes de elite com muito mais tempo de atividade – e também no outro time de origem popular, o SCCP.

O Palestra nunca foi engolido. Foi combatido. Teve até que mudar de nome. Mas resistiu, e seguiu encantando, atraindo o amor não apenas dos oriundi, mas também de todos os brasileiros que, além de apreciar um futebol bem jogado, compreendiam o significado de entrar em campo envergando o uniforme verde e branco.

Com o tempo, os times da elite paulista minguaram diante da força popular nos campos. O Palestra e o SCCP passaram a comandar o esporte e a população passou a se dividir na preferência entre os dois clubes: de um lado, os italianos e seus amigos, de outro, o imenso balaio de gatos. O sujeito não escolhe torcer para o SCCP, ele é escolhido; na maioria das vezes, entra no embalo da maioria e aceita. Já o palmeirense, com raízes italianas ou não, na contra-corrente, recusa-se a ser apenas mais um na massa descerebrada e escolhe seu clube.

Segue a resistência

O Palmeiras continua sendo roubado, nos tiram campeonatos que já ganhamos e os que continuamos tentando ganhar; os campeonatos decididos por forças alheias às quatro linhas seguem surgindo, e mesmo assim o Palmeiras permanece sendo o maior campeão nacional.

O futebol, com sua irresistível atração por asteriscos, parece não gostar do Palmeiras. Não tem problema, nós também não gostamos tanto assim do futebol; gostamos mesmo é do Verdão. E vamos ganhar mais campeonatos nos próximos anos, sendo duas vezes melhor do que é preciso e passando por cima dos adversários, das arbitragens, das falsas polêmicas e dos asteriscos. VAMOS PALMEIRAS!


Verdazzo é patrocinado pela torcida do Palmeiras.

Aqui, o link para se tornar um padrinho deste site: https://www.padrim.com.br/verdazzo

Doze vitórias: já vencemos esse desafio antes

Tchê Tchê
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

Cuca mencionou na quarta-feira e Tchê Tchê repetiu na entrevista desta sexta-feira: o desafio imposto pela comissão técnica e pelos próprios jogadores do Palmeiras nesta reta final de 2017 é vencer todos os doze jogos que restam.

E a motivação é tão grandiosa quanto simples: se chegar a tal feito, o time alcançará a marca de 79 pontos e fatalmente chegará ao decacampeonato, contando com tropeços do rival – incluindo um Derby em Itaquera.

A meta é ousada – mas não podemos esperar nada menos de um grupo que ainda tem nas veias o desejo de ser campeão. Com bastante tempo para treinamentos técnicos e táticos desde a eliminação na Libertadores, o time vem evoluindo a olhos vistos, e o acidente no clássico contra o Santos deve ser visto como uma exceção, sobretudo porque houve um fator aleatório que alterou a natureza do jogo.

O diabo é que, além da dificuldade natural que alguns desses jogos vão oferecer, em doze jogos existe uma chance muito grande de que fatores aleatórios quaisquer voltem a interferir. É por isso que vencer doze jogos seguidos é uma tarefa quase impossível. Quase, porque em se tratando de Palmeiras, essa palavra não existe.

Nos 103 anos de História, o Palestra/Palmeiras conseguiu quatro sequências de 12 ou mais partidas sem sequer ceder o empate.

Sequência 1: Abril a Dezembro de 1926

Heitor Marcelino
Heitor Marcelino (imagem: palmeiras.com.br)

Foram 14 vitórias, contando os nove jogos que deram ao Palestra o título invicto do Paulistão da APEA,com 100% de aproveitamento. Entram nesta conta amistosos contra o XV de Piracicaba, Fluminense e uma seleção de jogadores gaúchos.

Mais duas partidas encerram a série, disputadas no mesmo dia, válidas pelo Torneio Início do Paulista de 1927 – jogos com 30 minutos de duração. De qualquer forma, foram 12 partidas completas de 90 minutos sem derrota. Destaques para Heitor, o maior artilheiro de nossa História, e Amílcar Barbuy, que além de jogador ainda era o técnico.

25/04/1926 – Palestra Italia 3 x 0 Auto – Campeonato Paulista
02/05/1926 – XV de Piracicaba 2 x 4 Palestra Italia – Amistoso
16/05/1926 – Palestra Italia 5 x 1 Sírio – Campeonato Paulista
30/05/1926 – Palestra Italia 3 x 2 Fluminense – Amistoso
06/06/1926 – Santos 2 x 3 Palestra Italia – Campeonato Paulista
20/06/1926 – S.C.Internacional (SP) 0 x 1 Palestra Italia – Campeonato Paulista
27/06/1926 – Palestra Italia 3 x 1 Ypiranga – Campeonato Paulista
01/08/1926 – Palestra Italia 3 x 1 Portuguesa – Campeonato Paulista
15/08/1926 – Palestra Italia 3 x 2 SCCP – Campeonato Paulista
29/08/1926 – Palestra Italia 5 x 0 A.A.São Bento – Campeonato Paulista
05/09/1926 – Palestra Italia 7 x 1 Sílex – Campeonato Paulista
12/10/1926 – Palestra Italia 6 x 0 Seleção do Rio Grande do Sul – Amistoso
05/12/1926 – Palestra Italia 1 x 0 Auto – Torneio Amistoso
05/12/1926 – Palestra Italia 4 x 0 A.A.São Bento – Torneio Amistoso

Sequência 2: Maio de 1932 a Janeiro de 1933

Romeu Pelicciari
Romeu Pelicciari (imagem: palmeiras.com.br)

Foram novamente 14 vitórias: os onze jogos que deram ao Palestra o título do Paulistão, mais uma vez com 100% de aproveitamento, mais três amistosos: um contra o Ypiranga e dois contra combinados de jogadores cariocas. Brilhava a figura de Romeu Pelicciari, que marcou deenas de gols – dois deles numa goleada por 8 a 0 sobre o Santos. No ano seguinte, aconteceria mais um 8 a 0, desta vez num Derby.

01/05/1932 – Palestra Italia 4 x 0 Sírio – Campeonato Paulista
08/05/1932 – São Paulo da Floresta 2 x 3 Palestra Italia – Campeonato Paulista
22/05/1932 – Palestra Italia 2 x 1 A.A.São Bento – Campeonato Paulista
29/05/1932 – Palestra Italia 3 x 1 S.C.Internacional (SP) – Campeonato Paulista
02/06/1932 – Palestra Italia 7 x 1 Ypiranga – Amistoso
12/06/1932 – Palestra Italia 3 x 1 Juventus – Campeonato Paulista
19/06/1932 – Palestra Italia 7 x 0 Atlético Santista – Campeonato Paulista
03/07/1932 – Palestra Italia 4 x 2 Ypiranga – Campeonato Paulista
06/11/1932 – Palestra Italia 3 x 0 SCCP – Campeonato Paulista
20/11/1932 – Portuguesa 0 x 3 Palestra Italia – Campeonato Paulista
05/12/1932 – Palestra Italia 9 x 1 Germânia – Campeonato Paulista
11/12/1932 – Palestra Italia 8 x 0 Santos – Campeonato Paulista
18/12/1932 – Seleção de Niterói 0 x 4 Palestra Italia – Amistoso
08/01/1933 – Palestra Italia 8 x 1 Seleção do Rio de Janeiro – Amistoso

Sequência 3: Novembro de 1961 a Janeiro de 1962

Palmeiras 61/62
Palmeiras 61/62

O time que tinha lendas como Valdir, Djalma Santos, Valdemar Carabina, Geraldo Scotto, Aldemar, Zequinha, Julinho, Américo Murollo, Chinesinho e Vavá conseguiu 12 vitórias seguidas: os seis jogos finais da campanha do Paulistão; em que as 22 vitórias, 6 empates e 2 derrotas deram ao Verdão o vice-campeonato, 3 pontos atrás do Pelé FC.

Em janeiro de 1962, em excursão pela América do Sul, o Palmeiras fez 14 jogos, venceu 13 e empatou um – o sétimo jogo, contra o Millonarios. Tivesse vencido, e a sequência de vitórias teria alcançado a impressionante marca de 20 jogos. Mas a História ainda nos reservava mais.

26/11/1961 – Portuguesa Santista 1 x 5 Palmeiras – Campeonato Paulista
29/11/1961 – Palmeiras 3 x 2 Santos – Campeonato Paulista
03/12/1961 – Palmeiras 3 x 1 Portuguesa – Campeonato Paulista
06/12/1961 – Palmeiras 3 x 1 XV de Piracicaba – Campeonato Paulista
09/12/1961 – Esportiva Guaratinguetá 0 x 3 Palmeiras – Campeonato Paulista
17/12/1961 – Palmeiras 1 x 0 Jabaquara – Campeonato Paulista
09/01/1962 – Universitário 2 x 3 Palmeiras – Amistoso
12/01/1962 – Alianza de Lima 0 x 1 Palmeiras – Amistoso
15/01/1962 – Deportivo Municipal 1 x 2 Palmeiras – Amistoso
18/01/1962 – Pátria 1 x 4 Palmeiras – Amistoso
21/01/1962 – Once Caldas 1 x 2 Palmeiras – Torneio Amistoso
24/01/1962 – Millonarios 0 x 4 Palmeiras – Torneio Amistoso

Sequência 4: Fevereiro a Maio de 1996

Palmeiras 1996
Palmeiras 1996

Sob o comando de Vanderlei Luxemburgo, vimos o time mais letal da História do futebol mundial. Foram 21 jogos, sendo 18 pelo Paulistão e 3 pela Copa do Brasil, em que a pergunta não era “quem ia ganhar”, mas sim “quanto ia ser”.

O lendário ataque dos 102 gols que tinha como protagonistas Djalminha, Rivaldo, Müller e Luizão chegou ao cúmulo de, num espaço de oito dias, fazer 24 gols em quatro jogos, culminando com uma sova de 6 a 0 no Santos na Vila Belmiro.

11/02/1996 – Palmeiras 4 x 1 Juventus – Campeonato Paulista
14/02/1996 – SPFC 0 x 2 Palmeiras – Campeonato Paulista
25/02/1996 – Palmeiras 3 x 1 Portuguesa – Campeonato Paulista
28/02/1996 – Sergipe 0 x 8 Palmeiras – Copa do Brasil
03/03/1996 – SCCP 1 x 3 Palmeiras – Campeonato Paulista
06/03/1996 – Palmeiras 3 x 1 Guarani – Campeonato Paulista
09/03/1996 – Araçatuba 1 x 2 Palmeiras – Campeonato Paulista
16/03/1996 – Botafogo-SP 0 x 8 Palmeiras – Campeonato Paulista
19/03/1996 – Palmeiras 4 x 1 Rio Branco – Campeonato Paulista
21/03/1996 – Palmeiras 6 x 0 América-SP – Campeonato Paulista
24/03/1996 – Santos 0 x 6 Palmeiras – Campeonato Paulista
30/03/1996 – Palmeiras 4 x 0 XV de Jaú – Campeonato Paulista
03/04/1996 – Atlético-MG 1 x 2 Palmeiras – Copa do Brasil
06/04/1996 – Ferroviária 1 x 5 Palmeiras – Campeonato Paulista
10/04/1996 – Palmeiras 4 x 0 Novorizontino – Campeonato Paulista
13/04/1996 – Mogi Mirim 1 x 2 Palmeiras – Campeonato Paulista
16/04/1996 – Palmeiras 5 x 0 Atlético-MG – Copa do Brasil
18/04/1996 – Palmeiras 5 x 0 União São João – Campeonato Paulista
21/04/1996 – Juventus 1 x 5 Palmeiras – Campeonato Paulista
28/04/1996 – Palmeiras 3 x 2 SPFC – Campeonato Paulista
01/05/1996 – Portuguesa 1 x 2 Palmeiras – Campeonato Paulista

Com exceção da campanha de 61/62, que contou com amistosos, as sequências listadas resultaram em títulos. É isso que Cuca e seus comandados buscam nas próximas 12 partidas. São situações raríssimas – se me pedissem para apostar uns cobres nesse evento, eu não toparia; a chance disso acontecer é reduzidíssima.

Mas eu também me esquivaria de apostar contra esse feito; não convém duvidar dessa camisa verde. Até porque, mesmo com uma campanha não tão perfeita, pode ser possível chegar ao caneco. Uma pontuação de 75 ou 76 pontos, que ainda permite um ou dois tropeços, também tende a render mais uma taça. Ainda dá, VAMOS PALMEIRAS!