Com elenco forte e competitivo, o Palmeiras ainda sofre com um problema recorrente: o baixo aproveitamento em cobranças de pênalti.
O Palmeiras de Abel Ferreira convive com um problema que, desde a chegada do treinador, sempre foi bastante evidente: os pênaltis.
Essa deficiência já custou caro em diversas competições. São raras as ocasiões em que o Palmeiras saiu vitorioso em disputas de pênaltis, o que demonstra uma fragilidade preocupante nesse fundamento.
Após a derrota por 2 a 0 para o Flamengo, no último domingo, pelo Campeonato Brasileiro, o auxiliar técnico João Martins comentou sobre a chance desperdiçada na partida:
“São fatos, números, e não podemos fugir disso. Sobre ser sempre do mesmo lado, é o jogador quem decide. Temos que melhorar, sem dúvida. Foi a oportunidade mais clara, e precisamos ser mais eficazes. Sabíamos que, se saíssemos na frente, dificultaríamos a tarefa do Flamengo.”
Pênalti para o Palmeiras: show de incompetência
Em 2025, o Palmeiras teve oito cobranças de pênalti no tempo regulamentar e desperdiçou quatro, com um aproveitamento de apenas 50%.
06/02/2025 – Palmeiras 1 x 1 Corinthians – Estêvão ❌
10/03/2025 – Palmeiras 1 x 0 São Paulo – Raphael Veiga ✅
25/05/2025 – Palmeiras 0 x 2 Flamengo – Piquerez ❌
Já nas decisões, o aproveitamento é pior ainda, e muito. Desde que Abel assumiu o comando do Palmeiras, o time foi para as penalidades em 8 oportunidades e só venceu uma vez, num ridículo aproveitamento de 12,5%:
Artilheiro do Palmeiras na temporada, Raphael Veiga anotou seu 13º gol de pênalti pelo clube
No último sábado, o Palmeiras recebeu o Red Bull Bragantino no Allianz Parque, em jogo que marcou o reencontro da torcida com o time no estádio, e saiu derrotado por 4 a 2. Com isso, o Verdão chegou a seu quarto jogo sem vitória no Campeonato Brasileiro e viu a distância para o líder, Atlético-MG, aumentar.
Para o meia Raphael Veiga, que fez o segundo gol da equipe na partida, a má fase coletiva é difícil de explicar. Nos jogos anteriores, o técnico Abel Ferreira chegou a cobrar mais concentração dos atletas.
“É difícil falar se é falta de atenção ou não. São lances pontuais. Ninguém entra com vontade de falhar, mas realmente estamos cometendo erros que não podem acontecer, que estão terminando em gols dos adversários. E também, quando conseguimos chegar bem no ataque, temos que ser mais decisivos. Jogaremos uma final de Libertadores nas próximas semanas e não podemos deixar que algo externo nos influencie em campo. Temos que resolver”, disse o camisa 23.
“Sabemos que não estamos no máximo e não estamos mostrando em campo o que a gente já desempenhou. A gente sabe o tanto de bons jogos que já fizemos e nós somos cobrados para manter isso. A má fase não é nada intencional. Tem coisas que não estão acontecendo. Agora é trabalhar, não tem outro jeito de sair dessa situação”, completou.
Na busca pela reabilitação no Brasileirão, o Palmeiras terá pela frente o Bahia, nesta terça-feira, na Arena Fonte Nova. No retrospecto geral, as duas equipes já se enfrentaram 58 vezes e o Verdão tem ampla vantagem: 30 vitórias, 19 empates e 9 derrotas.
Raphael Veiga mantém artilharia e 100% de aproveitamento nos pênaltis
Cesar Greco
Com o gol marcado no sábado, Raphael Veiga chegou ao 12º na temporada e segue na liderança isolada da artilharia; Rony e Willian, ambos com 10 bolas na rede, completam o top-3. A fase goleadora do meio-campista vem desde a temporada passada, quando anotou 18 gols e foi o vice-artilheiro do time, atrás apenas de Luiz Adriano com 20 tentos.
Com o contrato renovado recentemente até o final de 2024, Veiga manteve também o aproveitamento impecável nas cobranças de pênaltis. Seja no tempo regulamentar ou nas disputas eliminatórias, o camisa 23 nunca desperdiçou uma cobrança pelo Palmeiras. Foram 13 chutes e 13 gols.
Confira a lista com todos os pênaltis convertidos:
Palmeiras 1 x 0 Athletico-PR – Campeonato Brasileiro (2019)
Palmeiras 4 x 0 Godoy Cruz (ARG) – Copa Libertadores (2019)
Palmeiras 1 x 1 SCCP – Campeonato Paulista – (disputa – 2020)
Palmeiras 2 x 0 Fluminense – Campeonato Brasileiro (2020)
É pênalti para o Palmeiras! Correu… Bateu… Errou!!!
Esta tem sido a tendência nas últimas quatro cobranças do Verdão. Felipe Melo fez graça e chutou para fora contra o Novorizontino. Keno bateu mal e Magrão defendeu, contra o Sport. Bruno Henrique bateu forte, no travessão, contra o Bahia. E Jean recuou para João Ricardo, do América.
Antes dessas, Dudu acertou as duas que cobrou, contra Mirassol e Novorizontino, perfazendo dois acertos em seis batidas em 2018 – isso sem contar a decisão do Paulistão, na qual o Palmeiras também saiu derrotado.
Em 2017, o retrospecto também não foi bom: foram nove pênaltis, com cinco acertos e quatro erros, mais a eliminação da Libertadores para o Barcelona de Guayaquil. Tem coisa errada aí.
Lance livre
O pênalti é o lance menos futebolístico do futebol, um esporte em que a bola está sempre viva e a aleatoriedade dos acontecimentos prevalece. A bola está parada e a conclusão do lance é instantânea, basta um toque na bola. Assemelha-se muito ao lance livre do basquete.
Grandes arremessadores de lance livre têm seus pequenos rituais antes de arremessar a bola. Hortência batia a bola várias vezes e respirava fundo antes de mandar para dentro. Stephen Curry mastiga o protetor bucal enquanto se concentra. Do outro lado, se a torcida é contra, a arquibancada do ginásio faz de tudo para desconcentrar o rival, desde a trivial agitação de bastões até simulação de partos na arquibancadas – o vídeo abaixo é hilário.
De forma análoga no futebol, desconcentrar o batedor é uma excelente maneira de aumentar as chances de erro. Nem sempre existe a proximidade entre a arquibancada e o gol para que os torcedores façam suas performances e quem acaba exercendo esse papel é sempre o goleiro. Quem não se lembra de Fernando Prass apontando um canto nas decisões por pênaltis da Copa do Brasil? Ou do famoso “acabou, Petros”?
A primeira decisão por pênaltis que me recordo de assistir foi a decisão do Brasileirão de 1977, quando o goleiro Waldir Peres do SPFC infernizou a vida dos batedores do Galo, revertendo uma decisão em que os atletas de seu time haviam errado as duas primeiras cobranças – os jogadores do Atlético cobraram TRÊS pênaltis por cima do gol.
Poucos gênios têm a capacidade e a frieza de esperar a decisão do goleiro e decidir no último instante em qual canto vai bater. E acabam manjados, fazendo com que muitos goleiros acabem esperando no meio e obrigando o batedor a improvisar o chute num dos cantos – a chance de defesa aumenta se o pênalti não for muito bem batido.
Por isso, se o batedor não for um abençoado como Evair ou o Ceifador, só existe uma maneira de bater pênaltis: ignorar completamente o goleiro e bater onde treinou exaustivamente. Não importa que o goleiro saiba onde vai a bola: se o pênalti for fora de sua área de alcance, pode telegrafar, mandar fax ou whatsapp, que o goleiro não pega.
Treino mecânico e mental
Treinar, treinar e treinar. Como os arremessadores do basquete, batida de pênalti é treino constante. O batedor deve ensaiar exaustivamente dois lugares para bater, e mandar sempre num deles á sua escolha. Nos cantos, de preferência alta – em qualquer área da zona indefensável da figura abaixo serve. Dosar a força da batida é importante para que o chute não saia por cima. E isso é T-R-E-I-N-O.
Bem treinado mecanicamente, o atleta terá mais confiança na hora de bater. E então só vai faltar executar a outra parte: o isolamento mental. Ao ajeitar a bola na cal, o jogador já deve decidir onde vai bater. Não deve olhar para a torcida, muito menos para o goleiro. Deve fechar os ouvidos, e se concentrar no que fez nos treinos. E ainda precisa esquecer todo o contexto, entrar numa bolha, e só focar em acertar o gol. O atacante precisa virar uma espécie de robô. Não é simples, mas bem treinado, qualquer atleta pode chegar a 90% de eficiência nos pênaltis, o que pode fazer com que seu time dificilmente seja batido numa decisão.
Ciência
Para atingir esse nível de efetividade, é necessário que a comissão técnica entenda como cada jogador responde a essas situações de pressão e identifique o melhor método para que ele consiga entrar na tal bolha.
O Palmeiras demitiu em 2017 o coordenador científico Altamiro Bottino, que rapidamente foi contratado pelo SPFC, e não contratou ninguém em seu lugar. Uma de suas atribuições poderia ser introduzir no clube esse tipo de treinamento, identificando a melhor forma de trabalhar cada atleta para que se transformassem em máquinas de bater pênaltis e tornasse o Palmeiras imbatível nesse tipo de lance.
Apenas dinheiro não resolve nada. É preciso ser um clube de futebol. Enquanto a atual diretoria pensar que apenas contratar jogadores caros basta para o Palmeiras ganhar títulos, e que fazer pizzadas políticas no clube social é mais importante, continuaremos jogando títulos fora. Perdemos o Paulista, em casa. Já jogamos três pontos fora no Brasileiro e a classificação na Copa do Brasil já poderia estar bem encaminhada. Vão esperar sermos eliminados mais uma vez da Libertadores?
O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.