
Estatística do desempenho do Palmeiras contra times do G6 desvia a discussão para as consequências, e não para as causas.
Um tema curioso ganhou força nas discussões da nossa torcida recentemente: o tal desempenho do Palmeiras contra “times do G6”. Alguém enxergou esse recorte como indicativo de algo, empacotou, colocou um laço e entregou para a torcida, que abraçou.
Vamos tirar logo da frente as obviedades: levando ao pé da letra, a estatística não faz sentido algum, já que o campeonato é contra 19 times, não contra apenas 5, e o que importa é o resultado final – dos últimos 4 campeonatos, o Palmeiras levantou 2; dos últimos 9, ganhou 4. E times que foram supostamente bem nesse recorte contra “times do G6” não necessariamente ganharam o campeonato nesses anos.
Também é bem discutível usar essa estatística apenas como ilustração de que o Palmeiras não joga bem contra times fortes, o que explicaria as eliminações recentes em mata-matas, um dos argumentos mais usados. Não para em pé, porque recentemente, o Palmeiras venceu algumas competições eliminatórias, perdeu outras tantas. Às vezes, perdeu para times fortes, que se encaixariam no conceito de “times do G6”; às vezes, perdeu para times pouco expressivos, como CRB e Defensa Y Justicia.
E o que definiu essas disputas, seja contra o Boca, São Paulo, Flamengo ou CRB foram os detalhes de cada jogo. Assim como nas disputas em que ganhamos. Nossos adversários também lamentam os detalhes quando perdem para nós. Os resultados têm sido muito mais produtos da imprevisibilidade de um jogo de futebol que de uma tendência clara ou de uma deficiência contra “times do G6”.
Ganhar um campeonato de forma absoluta, sem ser ameaçado, como exige essa parte da torcida, é raro. O Flamengo conseguiu isto no Brasileirão de 2019; o Palmeiras no de 2022. Num passado recente, é difícil apontar outras conquistas em que os detalhes não estiveram envolvidos.
Por que a estatística “times do G6” é uma falácia
A estatística se torna evidentemente uma falácia quando se tenta encontrar a solução para o suposto problema. A comissão técnica e os jogadores vão mudar o jeito de jogar por conta da posição do adversário na tabela? Existe alguma medida prática que faça o time jogar melhor contra “times do G6”? A pergunta não tem resposta porque aponta para uma consequência, não para uma causa.
Permanecemos fortes em todas as disputas. Nesta década, só deixamos de terminar um Brasileirão no pelotão de elite quando abandonamos a competição para nos dedicar aos mata-matas, e ainda assim, em tempos da pandemia.
Nos mata-matas em que fomos eliminados, sempre disputamos até o fim, no limite. Jamais fomos varridos, como meros coadjuvantes. Logo, o que se faz de fato necessário é entender os detalhes onde Palmeiras vem falhando, seja contra quem for, e atacar essas frentes.
A parte mental dos jogadores tem falhado e isto é visível tanto nas tomadas de decisão com a bola rolando, quanto nas disputas por pênaltis. As arbitragens seguem nos removendo de campeonatos ano após ano.
E é claro que nossos jogadores cometeram erros decisivos, como Gustavo Gómez, ao deixar de dar um tranco em Merentiel, só para mencionar nosso incontestável capitão. E algumas decisões táticas, ao final dos jogos que nos eliminaram, acabaram se mostrando erradas. Tudo isso pertence ao futebol.
Exigir o melhor, sempre, não é errado. Saber que dava para ter ganho mais ainda é, de certa forma, frustrante. Mas essa frustração, muitas vezes, embaralha o raciocínio e nos faz alimentar argumentos com estatísticas que mostram apenas as consequências, não as causas.
O trabalho feito no futebol do Palmeiras nos últimos anos é de excelência. Não existe torcida no Brasil que não estaria satisfeita com o resultado obtido pelo Verdão nos últimos anos. O que não significa que não há onde melhorar. Precisamos manter o raciocínio afiado para direcionar nossas críticas para o que realmente está nos impedindo de ganhar mais troféus ainda, e não para falácias sem sentido algum.
Desculpa. Sabemos como mensagens como esta são chatas de ler. Escrevê-la foi mais chato ainda, acredite!
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