O efeito borboleta que culminou na saída de Cuca do Verdão

Maurício Galiotte
Divulgação

A saída de Cuca no início da tarde de sexta-feira marca mais uma ruptura no projeto técnico do Palmeiras. Entretanto, ao contrário das trocas anteriores, desta vez a diretoria acertou no momento.

Uma troca em outubro mantém o planejamento para o ano seguinte intacto. O mercado ainda está se aquecendo e os ajustes a serem feitos no elenco do ano seguinte seguirão o projeto técnico do próximo treinador – resta saber se a diretoria pretende manter Alberto Valentim na função, após um ótimo trabalho ontem em Goiânia, ou se vai recorrer ao mercado para preencher a lacuna.

A segunda passagem de Cuca

Cuca
Divulgação

Como se sabe, Cuca deixou o comando técnico do Palmeiras em dezembro, após a conquista do Brasileirão, para cuidar temporariamente de projetos pessoais, situação previamente acordada com a diretoria antes mesmo de sua contratação. O sucesso do time que contava com Gabriel Jesus voando resultou na criação da Igreja Cuquista em nossa torcida. Seu substituto, Eduardo Baptista, teve que lutar contra seu fantasma – um dos maiores obstáculos enfrentados pelo treinador, que também não se ajudou ao demorar para encontrar um padrão técnico aceitável em meio às disputas do Paulistão e da Libertadores.

O fantasma era real e Cuca acabou sendo recontratado em maio, com uma estreia avassaladora: 4 a 0 no Vasco, na estreia do Brasileirão, deixando a torcida nas nuvens. Mas nas rodadas seguintes a magia se desfez. O elenco não tinha peças importantes do ano anterior e alguns remanescentes já não mostravam a mesma exuberância técnica. Cuca não conseguia extrair a mesma intensidade dos atletas e o Palmeiras, embora tenha se mantido como um dos times mais fortes do país, falhou em todas as competições e tende a encerrar o ano sem nenhuma conquista.

O sistema de marcação de Cuca, que exige que atacantes acompanhem os laterais adversários, não encaixou como no ano passado. O treinador já provou que o sistema é factível, mas exige precisão suíça. Quando se está vencendo, os jogadores acabam se desdobrando para manter o esquema funcionando. Mas quando os resultados não vêm é bem mais difícil extrair a doação extrema, física e mental, dos atletas.

Felipe MeloA situação complica quando se tem no elenco jogadores capazes de bagunçar a harmonia. Roger Guedes ganhou a antipatia de boa parte do grupo com um comportamento por vezes mimado, como no episódio em que reagiu mal a um trote corriqueiro dos companheiros. Como correspondia em campo, ao menos nos números, com ótimos índices de participação em gols, manteve o prestígio com o treinador, o que acabou sendo interpretado por muita gente como “proteção”.

Por outro lado, a chegada de Felipe Melo, que com seu jeito marqueteiro, conquistou boa parte da torcida. Contratado após a saída de Cuca, não se encaixava no estilo de marcação idealizado pelo treinador e acabou perdendo a posição. Inconformado, vazou um áudio explosivo, no qual disse que beberia champanhe com a queda do treinador. Mesmo depois de ser afastado do elenco, seguiu em sua queda de braço pessoal. Venceu e viu sua profecia se concretizar.

Espiral negativa

Barcelona x PalmeirasCuca entrou na espiral negativa que o derrubou por ocasião das eliminações na Libertadores e na Copa do Brasil. Gols nos minutos finais em partidas contra o Barcelona e Cruzeiro, que foram muito mais frutos de desatenção e inocência dos jogadores do que do sistema tático, tiraram o Palmeiras das disputas, o que minou a confiança dos atletas.

Daí decorreu a queda na intensidade que destruiu as chances de sucesso no Brasileiro. O Palmeiras perdeu pontos inadmissíveis após a eliminação na Libertadores: tropeços contra Vasco, Galo, Chapecoense e Bahia, todos em circunstâncias em que a vitória estava em nossas mãos, nos tiraram pontos que estariam nos deixando pau a pau com o líder do campeonato.

Cuca afundou nessa espiral quando não conseguiu manter o elenco 100% motivado e com fé em seu sistema. Bombardeado por situações extra-campo, teve que desviar o foco muitas vezes para os outros problemas já mencionados – situação agravada pela falta de blindagem por que passa a Academia de Futebol. Falharam os jogadores, falhou Cuca, falhou a diretoria.

Efeito Borboleta

Não deixa de ser interessante imaginar que se o Palmeiras não tivesse tomado um gol de fliperama em Guayaquil, e não tivesse tomado um gol de cabeça do lateral-esquerdo no Mineirão a cinco minutos do fim, os jogadores teriam mantido a confiança em alta, a intensidade continuaria sendo máxima e talvez o Palmeiras, mesmo sem o brilho do ano passado, pudesse estar comemorando o quarto título da Copa do Brasil e brigando pelo Brasileiro e pela Libertadores.

Como o “se”, sabemos, não existe no futebol, a corda arrebentou e Cuca perdeu.

Rei morto, rei posto

Alberto Valentim
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

O Palmeiras desperdiçou mais uma vez a chance de construir um ciclo longo com o mesmo treinador, definindo um padrão tático e técnico diferenciado do que se pratica no Brasil. Ao demitir o treinador campeão nacional, o clube que se candidata a ser o principal protagonista do futebol no país nivela-se à mediocridade geral num cenário que descarta técnicos em média a cada cinco meses.

Enfim, é hora de olhar para a frente, porque a bola não para. Alberto Valentim assumiu provisoriamente e, como Cuca, fez um primeiro jogo muito bom. Sabemos, entretanto, que um jogo não qualifica ninguém para nada e que se o interino de fato quiser ser efetivado, vai ter que mostrar uma evolução rápida e consistente – e não sabemos nem se ele terá tempo para isso, já que a planificação do ano que vem não pode começar em janeiro.

A diretoria precisa definir logo quem será o treinador de 2018 e desenhar as trocas no elenco de acordo com seu projeto técnico. Seja Valentim, ou outro nome que venha do mercado – os nomes ventilados pela torcida passam por Abel, Roger, Mano, Rueda e até Luxa – o Palmeiras não tem tempo a perder se quiser voltar às glórias desperdiçadas este ano.

Que as lições, mais uma vez, sejam aprendidas.


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O Palmeiras é o time de todos os anos

Cuca
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

A missão de tirar doze pontos em doze jogos não é impossível, mas é dificílima. Ao mesmo tempo em que tenta aperfeiçoar os sistemas defensivo e ofensivo e as transições quando se perde ou recupera a bola, Cuca já vai pensando no ano que vem. Em coletiva ao final da tarde de ontem, disse que quer “ganhar tudo” em 2018.

A declaração pode parecer arrogante, mas diante de todo o cenário que vemos neste final de 2017, é quase uma obrigação do Palmeiras, que segue com todo o potencial financeiro e estrutural de ponta que alcançou nos últimos anos. O resultado só pode ser o protagonismo.

Dentro de campo

Mattos e Cuca
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

Pouca gente botava fé no Grêmio no início deste ano, mas o time gaúcho, comandado pelo professor Renight, conseguiu uma química interessante com uma equipe surpreendente, recheada de garotos. Algo similar pode ser dito sobre o SCCP, que deu liga e encaixou uma sequência quase mágica no primeiro turno do Brasileirão – mesmo tendo “voltado ao normal” agora, tem uma vantagem confortável para administrar.

Planejamento e dinheiro no futebol não garantem conquista de títulos. São meios para diminuir a chance de fracassos – mas as coisas se resolvem sempre dentro de campo; o Grêmio e o SCCP de 2017, de forma positiva, são exemplos claros, ao passo que Flamengo e Atlético-MG estão na outra ponta desta análise. E o Palmeiras não ficou muito longe: embora esteja mostrando um futebol superior, iniciou 2017 como o grande favorito e tem hoje chances remotas de conquistar algo ainda este ano.

Cuca já deve estar fazendo reuniões com Alexandre Mattos montando o roteiro de contratações e dispensas para 2018, algo que ele já declarou que gosta muito de fazer, e normalmente faz muito bem. Diante da mais que provável sequência de seu trabalho, podemos esperar um início de ano bem mais forte e entrosado em 2018 do que em 2017, quando houve uma ruptura no trabalho.

Fora de campo

Torcida do Palmeiras no Allianz ParquePara que o Palmeiras siga sendo uma potência dentro de campo, é necessária uma estrutura administrativo-financeira sólida. A despeito de ter investido uma quantia superior a R$50 milhões em dois atacantes que ainda não satisfizeram às expectativas, o clube segue superavitário, a ponto de projetar a quitação de todas as dívidas bancárias ao final do ano que vem e de formar um fundo de emergência, uma espécie de “poupança” – algo jamais visto no futebol brasileiro.

O poderio só não é maior ainda porque as históricas turbulências políticas voltaram a atrapalhar os bastidores do clube, algo que havia sido erradicado nos quatro anos da gestão anterior, mas que ressurgiu como resultado das escolhas políticas que a atual diretoria vem fazendo e que precisam ser bem administradas.

Rompendo costumes

Paulo Nobre e Mauricio GaliotteNo Brasil, os doze times de camisa mais importantes se acostumaram a viver ciclos. É cultural: dirigentes “arrojados” contraíam dívidas, o que rendia times fortes, que muitas vezes chegavam a conquistas – mas a conta sempre chegava, levando os sucessores a apertarem o cinto, administrando as dívidas e lutando contra a recessão e a impossibilidade de montar times competitivos. É daí que historicamente vem a pressão absurda para se ganhar títulos assim que o “modo gastança” é acionado.

Mas a extinção das dívidas bancárias e com receitas recorrentes sempre presentes (que decorrem da não-antecipação, outra prática que o Palmeiras aboliu) colocaram o Verdão em um patamar superior de forma estável. A força administrativa, financeira e esportiva em que se transformou o Palmeiras nos últimos anos dá ao clube a condição de passar um ano em branco sem que isso se torne o fim do mundo.

Depois de dois anos seguidos chegando a títulos nacionais, o Verdão não encaixou em 2017, é fato. Mas diferentemente do que a falta de profissionalismo na administração de clubes de futebol no Brasil nos fez acostumar, o Palmeiras não viveu nestes anos apenas o auge de um ciclo curto, que virá seguido de recessão.

O time de todos os anos

2018 está chegando e todos apontarão seus favoritos, como sempre acontece. Quatro ou cinco, entre as doze grandes camisas, serão as preferidas da imprensa e da torcida. Certamente uma delas será verde. “Lá vem eles de novo”, dirão.

Mesmo sem chegar a títulos nesta temporada, o Palmeiras segue com o protagonismo. Seremos novamente o time do ano que vem, e provavelmente o do ano seguinte.

O Palmeiras se tornou o time de todos os anos. Os outros que se virem para sair desse ciclo de gastança/recessão. Nossa estrutura está muito sólida e será preciso algumas temporadas seguidas fazendo muitas besteiras para nos tirar dessa condição. Acostumem-se.


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Hora de olhar para a parte meio vazia do copo

Mosaico
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

Doeu bastante e ainda está doendo. A eliminação da Libertadores, nos pênaltis, machucou na alma. A quinta-feira do palmeirense foi tétrica. Enquanto tentávamos lidar com as feridas abertas, os analistas se dividiam entre o escárnio e a análise objetiva – e foi uma tarefa árdua pinçar um ou dois textos que realmente tivessem algo a acrescentar ao que o senso comum do torcedor já vem detectando.

Tragédia consumada, nos apegamos ao velho copo meio cheio para não entrar em depressão profunda. Os trilhões de euros investidos não se tornaram um time competitivo a tempo, mas formam uma base excelente. Se a política predatória do clube social não atrapalhar, Alexandre Mattos vai seguir sendo o comandante do futebol. Cuca também fica para o ano que vem e a pré-temporada de 2018 já começou. Estamos na pole position.

Mas desta vez, temos que olhar bastante para a parte vazia do copo se quisermos aproveitar bem esta boa posição de saída. Se não corrigirmos o que deu errado em 2017, patinaremos na largada e ficaremos novamente para trás.

O que deu errado?

A principal causa dos problemas deste ano foi a sequência de troca de treinadores. No Brasileirão, perdemos um Derby em casa. Ficamos a quatro pontos de uma meta razoável estabelecida no início do campeonato e a 15 do líder – uma vitória nesse clássico nos deixaria a apenas um ponto da meta e a nove do líder, uma distância reversível.

Nos mata-matas, fomos eliminados por Ponte Preta, Cruzeiro e Barcelona – o de Guayaquil, não o da Catalunha. Foram confrontos diferentes, mas que tiveram algumas características em comum.

Liderança dentro de campo
Felipe Melo
Divulgação

O Barcelona, a exemplo do Cruzeiro, usou a velha catimba para esfriar o jogo nos momentos em que nossa pressão tendia a nos levar aos gols da classificação, mas o Palmeiras não foi capaz de colocar a bola no chão e se impor.

Faltou ao Palmeiras um líder em campo. Felipe Melo, contratado no início do ano tendo essa como uma de suas supostas qualidades, não conseguiu conquistar o elenco para ser essa referência; sua personalidade forte apenas inibiu outras lideranças e o Palmeiras acabou órfão.

Dudu é dinamite, é coração, é energia pura; é o capitão do time, mas não tem o perfil inato da liderança. Para piorar, vimos nosso camisa 7 sair bruscamente do jogo com uma lesão muscular.

Essa lacuna pode ser ocupada agora por Moisés, que volta de longo período lesionado. Nos 20 minutos em que ele esteve em plena forma física contra o Barcelona, desequilibrou o jogo de forma assombrosa, tanto com a bola no pé quanto orientando o posicionamento do time. Caiu de rendimento assim que sua condição física o limitou, algo que deve deixar de acontecer ao longo das próximas partidas. Conseguirá?

Exigência física questionável
Cuca conversa com Dudu em 2016
César Greco / Ag.Palmeiras

O Palmeiras arriscou – e perdeu – os pontos da partida contra o Atlético-PR para que nossos titulares tivessem plenas condições de jogar contra o Barcelona. Mesmo assim, perdeu Dudu a 20 minutos do fim do jogo. Já estava sem Willian Bigode, artilheiro do time no ano. Não obstante, o time todo se mostrava exausto ao final da partida, a exemplo do que aconteceu contra o Cruzeiro, sem fôlego para buscar a pressão final. Tal situação leva o torcedor comum a desconfiar da preparação física.

Com raras exceções, ninguém conhece nada do assunto, mas todo mundo sabe dar palpite e questiona-se o suposto excesso de lesões musculares.

No rigor dos números, o time teve cinco contusões deste tipo no ano, um número aceitável: Fabiano, em fevereiro; Dudu, contra o Inter no jogo de volta da Copa do Brasil; Felipe Melo, contra o Fluminense; Willian Bigode, contra o Flamengo; e novamente Dudu.

O que pode estar contribuindo, tanto para a fadiga quanto para as lesões musculares, é a exigência tática de fazer os jogadores de ataque darem piques que atingem muitas vezes 80 metros para perseguir as descidas dos laterais adversários. Esse problema decorre de uma preferência tática de nosso treinador.

Porco Doido sem apoio
Mina
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

A marcação alta que visa as roubadas de bola não está funcionando por dois fatores. Se a pressão é bem-sucedida, o passe buscando um finalizador bem colocado não está saindo como no ano passado: com a lesão de Willian, nem Borja, nem Deyverson conseguiram encontrar o melhor posicionamento para aproveitar esta arma – o segundo, ao menos, ainda tem a justificativa de ter acabado de chegar.

Mas o que preocupa mesmo é quando a pressão não dá resultado e o adversário tem um longo espaço entre a primeira e a segunda linhas do Palmeiras para articular seu ataque. Plantados no campo defensivo, nossos zagueiros e laterais ficam expostos a contra-ataques rápidos e nossos goleiros estão sendo bombardeados enquanto nossos atacantes correm desesperados para tentar fechar o espaço, caindo no problema já mencionado de correr demais sem necessidade.

Vazamentos
Treino Palmeiras Allianz Parque
Twitter – @b_ferri

O Barcelona levou tão a sério a questão de esconder a escalação que divulgou, de forma oficial, três formações diferentes nas horas que antecederam a partida. Essa informação, em tempos de duelos táticos cada vez mais ferozes, é muito valiosa, a despeito que opiniões que minimizam a situação.

No Palmeiras isto não vem sendo levado a sério. O time que Cuca iria levar a campo vazou mais uma vez na véspera do jogo. Guillermo Almada agradeceu.

Enquanto um grande número pessoas alheias ao futebol entre conselheiros, patrocinadores e “amigos” seguirem tendo livre acesso ao ambiente sagrado do vestiário, à Academia de Futebol em geral e aos ônibus e hotéis, vai ficar difícil estancar esses vazamentos.

Furos no elenco
Egídio
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

O tema foi tratado aqui no Verdazzo no início da semana e os erros individuais que provocaram a eliminação apenas esquentaram ainda mais a discussão.

Egídio era o jogador mais contestado do elenco e mesmo assim, com muita coragem, foi para a batida. Falhou e possivelmente encerrou sua passagem pelo clube (injusta, caso se confirme) de forma trágica.

Jean e Fabiano estavam à disposição para substituir Mayke, mas foi Tchê Tchê quem fez a lateral direita.

E a enormidade que Moisés jogou nos faz questionar quem deveria ter feito esse papel, mesmo sem a mesma qualidade, em sua ausência. Nenhum jogador de nosso elenco chegou nem perto – o que mais se aproximou foi Guerra.

Mattos que prepare a carteira, pois precisamos ir ao mercado – de preferência já nos próximos meses. Em outubro de 1995, ano que começou cercado de altíssimas perspectivas e que terminou sem nenhum título, o Palmeiras anunciou dois jovens reforços contatados junto ao Guarani para 1996: Djalminha e Luizão. Os negócios não precisam ser sacramentados tão cedo como há 22 anos, mas já podem muito bem ser encaminhados nos bastidores.

E veio o dia 10

Assim como em 1995, o ano de 2017 tende a passar em branco. O mundo não acabou na quarta-feira, e depois do dia 9 veio o dia 10, como Cuca havia previsto. 2018 é logo ali, mas para que as decepções deste ano não se repitam – e aí as consequências seriam bem mais catastróficas – o Palmeiras precisa olhar com muita seriedade para as questões apontadas acima no que diz respeito ao ambiente de trabalho, à formação de elenco e ao projeto técnico. Gostamos de olhar o copo meio cheio, mas a parte vazia precisa de muita atenção.

O presidente Maurício Galiotte terá muito trabalho pela frente nos próximos dias.

Apêndice: Montagem do elenco

O texto abaixo serve como apoio para o post principal: “Futebol é momento”: trabalho de Mattos não pode depender da Libertadores e visa destrinchar a atuação de Alexandre Mattos na montagem do elenco do Palmeiras em 2017, diante da atuação dos jogadores até o início de agosto.

Defesa

EgídioNo gol, foram mantidos os atletas que brilharam em 2016. Escolha aparentemente acertada, mas que teve sobressaltos com a má fase de Fernando Prass, que pode nos ter custado alguns pontos no Brasileirão – rapidamente contornada com a promoção de Jailson.

Nas laterais, o ano começou com Jean e Fabiano na direita, tendo Tchê Tchê como quebra-galho – também uma escolha razoável e o setor parecia bem guarnecido. Mas nenhum dos três correspondeu tecnicamente em 2017, além de sofrerem com problemas físicos. A solução foi recorrer ao mercado e Mayke foi uma boa solução, apesar do começo oscilante. Por ter chegado tarde, não pôde ser usado na Copa do Brasil e sua falta foi sentida nos confrontos contra seu ex-time. Contesta-se o não aproveitamento de João Pedro, mas parece pouco provável que o prata-da-casa tivesse uma performance suficiente.

O lado esquerdo talvez seja o maior erro do diretor na montagem no início do ano. Zé Roberto é um jogador que dispensa apresentações e Egídio, apesar da longa fase ruim que vem desde o início de 2016, teve a confiança do dirigente fortalecida pelas ótimas campanhas no Cruzeiro em 2013 e 2014. A estatura dos dois impedia que se contratasse um reforço de peso para a posição, e quem veio como terceira opção foi Michel Bastos, como quebra-galho – sua função primordial era ajudar na meia, pelos lados. É de se imaginar que esta tenha sido a definição mais dura na formação deste elenco, mas hoje é fácil apontar que Mattos errou – e diga-se, não foi por abrir mão de Victor Luis, que vem sendo superestimado por atuações apenas satisfatórias na lateral do Botafogo.

No miolo da zaga, a saída de Vitor Hugo era iminente e Roger Carvalho encerrou seu ciclo – para seus lugares, Mattos trouxe Antônio Carlos, boa aposta da Ponte, enquanto entregava a titularidade a Mina e Edu Dracena. Luan, do Vasco, era uma aposta para substituir Mina depois da Copa e a negociação foi fechada em março. E Juninho, destaque do Coritiba, chegou assim que a saída de Vitor Hugo foi concretizada. Mais uma vez, a Copa do Brasil foi prejudicada pelo regulamento, já que os dois últimos não tinham mais condição de jogo, mas a composição do setor pode ser considerada plenamente satisfatória, sobretudo na megaoperação em torno de Mina – além de torná-lo uma transação altamente lucrativa para o clube, ainda foi mantido como jogador alviverde por dois anos mesmo já fechado com o Barcelona. Uma negociação perfeita.

Meio-campo

Felipe MeloFelipe Melo era um antigo sonho de Mattos que só não veio antes por duas razões: os valores pedidos pela Internazionale e a resistência de Cuca. Felipe Melo conseguiu a liberação sem custos ao mesmo tempo em que Cuca deixava o Palmeiras. O casamento, abençoado por Eduardo Baptista, ficou fácil, ainda mais porque o empresário do Gabriel, de forma pouco profissional, apresentou uma proposta de renovação indecente apenas para forçar sua saída para seu clube de coração. Felipe Melo foi um dos destaques na mão do novo treinador, mas o time não embalou e Cuca voltou. Temos aqui o primeiro efeito colateral claríssimo dos problemas que essas trocas de treinadores em sequência causaram.

A lesão de Moisés foi um agravante. Bruno Henrique foi contratado no meio da temporada; Thiago Santos evoluiu a olhos vistos e agora o setor parece estar voltando aos trilhos, mas é óbvio que nesta posição, tão importante no acerto tático de qualquer equipe, o Palmeiras patinou por longos meses. Não parece culpa do planejamento, nem dos técnicos, nem dos jogadores; apenas uma fatalidade.

Foi na armação que tivemos o maior número de mudanças na virada do ano: saíram Allione e Cleiton Xavier, e entraram Guerra, Michel Bastos, Raphael Veiga e Hyoran. Os dois últimos, claramente, foram apostas para as temporadas seguintes. O venezuelano não demorou muito e pegou o jeito do futebol brasileiro – não sem antes cometer um erro crucial na trajetória do time: um vacilo no Derby do Paulistão, que decretou uma imerecida derrota e embalou o rival. Uma fatalidade que não desabona sua contratação; Guerra é um dos melhores meias-armadores em atividade no país.

Ataque

Borja
AFP

Willian Bigode e Keno foram contratações que agradaram a quase todos – o primeiro, um fazedor de gols que mantém o perfil discreto, campeão por onde passa. O segundo, apesar de não ser garoto, foi uma das revelações do Brasileirão de 2016 e veio para disputar a reserva de Dudu com Erik.

Mas o Palmeiras precisava de uma reposição que compensasse a saída de Gabriel Jesus. A grande contratação do início de 2017 foi a do colombiano Miguel Borja. À época, havia uma pequena discussão com relação a Lucas Pratto, que estava no Atlético-MG – o argentino, já adaptado ao futebol brasileiro, poderia ser uma aposta menos arriscada, embora com um valor de revenda bem menor.

O jogo duro do Atlético-MG, receoso em reforçar um rival da Libertadores, mais o potencial explosivo de Borja, o rei da América, somado a seu potencial econômico, fez o Palmeiras investir grande parte de seu orçamento no colombiano. Com a celebração do acordo, não houve palmeirense que não tenha comemorado; não houve rival que não tenha arrancado os cabelos. Alecsandro, Barrios e Rafael Marques, sem perspectivas de serem aproveitados, pediram para sair, e mesmo assim o ataque ficou bem servido, com as manutenções de Dudu e Roger Guedes.

Borja atravessa sérias dificuldades de adaptação ao que Cuca deseja; provavelmente nem teria vindo se Cuca não tivesse saído. A bem da verdade, tampouco se encaixou no esquema de Eduardo Baptista. Talvez ele precise de tempo; talvez seja um mico. Uma coisa é certa: foi uma contratação sensacional, mas que para este ano não deu certo e precisou de uma reposição: Deyverson, um achado de Mattos no mercado espanhol.

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“Futebol é momento”: trabalho de Mattos não pode depender da Libertadores

Alexandre MattosTítulo brasileiro incontestável. O maior patrocínio. A maior renda. O maior programa de sócio-torcedor. O melhor estádio. O melhor elenco. Finanças em dia.

Tudo conspirava a favor do Palmeiras no início de 2017, a não ser por um fato, que está longe de ser apenas um detalhe: Cuca, o comandante do ênea, estava de saída para um período de apoio à família. Isso já havia sido acordado entre Cuca e Alexandre Mattos antes de sua chegada, em abril de 2016. Mattos apostou que, com a futura conquista do Brasileiro, Cuca mudaria de ideia. Perdeu e teve que refazer o plano para 2017, contratando Eduardo Baptista.

Vamos voltar um pouco mais no tempo: a inoperância de Marcelo Oliveira na virada de 2015 para 2016 mereceu duras críticas, já que era o momento do então treinador planejar e executar a evolução do time campeão da Copa do Brasil. Marcelo dormiu sobre os louros da conquista e jogou a Libertadores de 2016 pelo ralo, o que culminou com sua demissão.

Um time chega à maturação no segundo ano de trabalho de um técnico. O Palmeiras perdeu a chance de atingir esse estágio em 2016 e também em 2017. Com Cuca se tornando uma carta fora do baralho, Mattos teve que virar a página e iniciar um novo projeto, do zero. Eduardo Baptista não tem o perfil nem um pouco parecido com o de Cuca, apontam alguns críticos. Mas a bem da verdade, ninguém é parecido com Cuca, nem o Cuquinha.

Apêndice: a montagem do elenco

Alexandre Mattos é criticado pela forma com que montou o elenco para a temporada de 2017. Por ser uma análise razoavelmente extensa, disponibilizamos um texto em separado que serve de apoio ao tema principal. Consulte a análise completa das movimentações do elenco neste link.

O uso do dinheiro

Mattos e BorjaMattos não conseguiu evitar a rejeição de boa parte da mídia por ser o artífice de um projeto que envolve cifras extraordinárias. Mesmo desprezado pelo Governo Federal (via Caixa) e pela RGT, que em momento algum valorizaram a força da camisa do Palmeiras, o clube conseguiu recursos para sanar suas finanças e ter o maior orçamento do futebol brasileiro. E usa tais recursos de forma agressiva, como deve fazer um bom competidor.

Essa agressividade é uma ameaça real a todos os outros clubes – assim, a mídia dita imparcial, mas hipocritamente clubista, trata de distorcer os fatos e vilanizar o Palmeiras, usando Mattos como personificação do inimigo, aproveitando ainda que há alas da política interna do clube que também têm interesse em enfraquecê-lo, vazando informações com esse intuito. Até o ano passado, tal vilanização era projetada em Paulo Nobre.

Mattos tinha um orçamento e o usou para montar um elenco muito, muito forte. E parte dos contratados são investimentos de longo prazo, para serem nossos titulares em 2019 ou 2020. A intensa movimentação no mercado, que aparentemente é sua marca registrada, foram necessárias nestes três anos em que montou nossos elencos – cada ano com sua característica própria. A tendência é que em 2018, finalmente mantendo o treinador, o projeto seja apenas aperfeiçoado, com uma ou outra contratação pontual, sem medo de investir quantias vultosas em poucos, mas ótimos reforços.

O aparente tiro n’água dado com Borja não pode ser analisado de forma isolada. O colombiano, como qualquer jogador, faz parte de um grande pacote, uma espécie de balança que envolve todas as compras e todas as vendas. Um eventual prejuízo com Borja, a ser realizado apenas quando se souber o preço de sua venda, é facilmente neutralizado com um ou dois “Vitor Hugos”. E a coleção de sucessos comerciais de Mattos é muito maior que a de equívocos.

O all in na Libertadores

O jogador Borja, da SE Palmeiras, disputa bola com o jogador Bianchi, do C Atlético Tucumán, durante partida válida pela fase de grupos, da Copa Libertadores, no Estádio Monumental José Fierro.
César Greco / Ag.Palmeiras

De forma simplista, definiu-se que o Palmeiras abriu mão do Brasileirão para ganhar as copas. A eliminação da Copa do Brasil, atrelada à derrota em Guayaquil dá uma perspectiva de fracasso total em caso de eliminação da Libertadores. Tal perspectiva é equivocada. A estratégia do Palmeiras não é para uma temporada. O ano de 2017 foi muito prejudicado em seu início, a despeito de tantas condições positivas elencadas no início do texto. Para piorar, um desempenho atípico do principal rival coloca uma lente de aumento em todas as decepções do ano.

O Palmeiras em momento algum abrir mão do Brasileirão deliberadamente; escalar times alternativos em partidas que antecedem decisões pelas copas foram soluções que deveriam ser suficientes para não perder esses pontos diante da força do elenco – mais uma vez, o atraso no desenvolvimento do time fez com que esses preciosos pontos nos escapassem. Mesmo assim, fechamos o turno com 32 pontos, apenas 4 abaixo do considerado suficiente para uma campanha campeã – de novo é preciso destacar que o desempenho irreal do rival tornou o planejamento insuficiente, e é isto que força o clube a dar o chamado all in na Libertadores. Mas o mundo não acaba em dezembro e os investimentos feitos em 2017 seguirão sendo muito úteis em 2018.

Sempre de olho

Cuca conversa com Maurício Galiotte e Alexandre Mattos
César Greco / Ag.Palmeiras

Alexandre Mattos não está acima do bem e do mal. Ele pode e deve ser avaliado a cada passo que dê, diante da importância de sua função.

Mattos apostou errado que manteria Cuca ao final de 2016. Mas sem essa aposta, não teríamos sequer conquistado o ênea.

A lateral esquerda se tornou, de fato, um enorme problema. Difícil, mas não impossível, de ser detectado no início do ano.

Felipe Melo foi uma aposta errada; seu histórico apontava para uma boa chance de problemas, embora sua qualidade técnica e seu perfil guerreiro dentro de campo fossem tentadores para quem tem na Libertadores o principal objetivo da temporada. Deu errado, mas a correção de rota foi rápida e veio antes até da dispensa, com Bruno Henrique.

Borja custou muito dinheiro para ter um desempenho tão abaixo do esperado. No campo, com atraso, Deyverson chegou para compensar o problema, e o tempo ainda dirá o tamanho do prejuízo (ou do lucro) financeiro. Talvez Mattos tenha entrado de forma amadora no oba-oba da torcida e da imprensa em cima do colombiano, talvez pudesse ter detectado que ele teria tantas dificuldades. Não se tem notícias, no entanto, de nenhuma sugestão concreta de como essa tendência seria de fato detectada. E nem se questiona isso, afinal, “ele é quem ganha rios de dinheiro e tem obrigação de saber isso”.

Futebol não é momento

Alexandre Mattos
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

Ser o diretor de futebol do Palmeiras, com o maior orçamento do futebol brasileiro, desperta a vigilância permanente dos olhos da imprensa, da torcida e de diretores e conselheiros. Estar nessa função por três anos é mergulhar num coquetel difícil de ser resumido em poucas linhas, dado que a tendência no futebol é sempre analisar o todo pelo instante. Detratores ficam à espreita do fracasso para bombardear o profissional, apoiados numa frase que, de forma incrível, ainda persiste no futebol brasileiro: “futebol é momento”.

Para qualquer planejador, essa verdade é a maior mentira do mundo. Por exemplo: o Palmeiras perdeu para o Atlético-PR, com o time reserva, para aumentar as chances de se classificar na Libertadores. Há quem diga que a derrota, pelo placar mínimo num jogo equilibrado, decreta que o “elenco forte” é uma falácia – mais uma vez, visando minar o planejamento do elenco.

O Palmeiras viverá na noite desta quarta-feira um jogo fundamental para as pretensões do time em 2017. Em caso de sucesso, o time segue muito forte rumo à conquista idealizada no início do ano. Em caso de derrota, seja amanhã, seja nas fases posteriores, o ano não é perdido: passará apenas a ser um ano lamentavelmente sem conquistas, o que são coisas diferentes. Planejamento não é mais um conceito que se encerra ano após ano; é um processo contínuo.

Eventualmente sem a Libertadores, um 2017 sem conquistas será a base de um 2018 em que, novamente, o Verdão entrará muito forte em todas as disputas, graças a uma enorme conjunção de fatores que envolvem o que hoje é a gigantesca Sociedade Esportiva Palmeiras – e um dos mais importantes deles é a atuação deste gigantesco Alexandre Mattos, que entre acertos e erros, é o profissional mais competente do mercado na função. Sorte nossa de tê-lo trabalhando pelo Verdão. Isso enquanto não conseguem derrubá-lo.


O Verdazzo é patrocinado pela torcida do Palmeiras.

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