Planejamento x resultados: no Derby dos analistas, o jogo já acabou

Bruno Henrique
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

Com o final do primeiro turno do Brasileirão, podemos ver muita gente na mídia “especializada” fazendo as mais variadas contas. Muito se comenta sobre o quanto gastaram os principais times do país, especialmente o Palmeiras e o SCCP, para então fazer uma comparação de seus resultados em campo.

A surpreendente campanha que o rival faz no Brasileirão impele os mais variados escribas, honestos e desonestos, clubistas e imparciais, a discorrer sobre as qualidades do time de Carille, decretando a competência da diretoria do rival e a incompetência de Alexandre Mattos.

Diante de tanta coisa que se lê por aí, faz-se necessário organizar alguns pontos.

O rival tem mesmo resultados melhores?

Não necessariamente, a despeito do título paulista e dos sete ou oito dedos já colocados na taça do Brasileirão. A esta altura, se você não for palmeirense ou for muito impaciente, já deixou de ler o texto, achando que lá vem mais uma besteira que esses blogueiros clubistas costumam escrever. Mas se você teve paciência para continuar, obrigado, e vamos em frente.

Três fatores explicam as diferenças entre os resultados entre os dois rivais, a despeito do elenco claramente superior do Palmeiras:

  • “Liga” – com muita competência de sua comissão técnica, o SCCP montou um time consistente com um elenco tecnicamente um pouco acima da média, mas que conseguiram a tal da liga, o ingrediente mágico do futebol que fez até um Leicester da vida vencer uma Premier League. O Palmeiras parece estar chegando perto desse estágio, mas com muito atraso, resultado da já exaustivamente debatida sequência de duas trocas de treinador;
  • Sorte – o mata-mata do Paulistão, que não influencia no calendário das outras competições, teve aqueles 30 minutos aleatórios que mudam o rumo de qualquer campeonato – quando o Palmeiras foi dominado pela Ponte em Campinas, levou três gols que deram ao time de Carille o adversário dos sonhos em qualquer final – o troféu do estadual deu ao SCCP confiança para seguir o trabalho com o time-base que, incrivelmente, tem poucas baixas físicas na campanha – o que também pode ser competência da comissão técnica além de sorte.
  • Eliminações convenientes – ironicamente, o SCCP foi recompensado por dois fracassos, algo que, desta vez, não tem nada de competência: a não classificação para a Libertadores e a queda prematura na Copa do Brasil, o que os ajudou ainda mais a direcionar todas as forças no Brasileirão, um campeonato que premia a regularidade e perdoa apagões de meia hora. O Palmeiras perdeu preciosas semanas de entrosamento e sacrificou partidas com times mistos para lutar pela Copa do Brasil, da qual acabou eliminado por outros 30 minutos ruins; e pela Libertadores, pela qual ainda está na briga – e forte.

E é exatamente nesta luta que permanece viva que o Palmeiras ainda pode ter um resultado melhor na temporada que o rival. Diante das circunstâncias, o Palmeiras deu all in. Arriscou o Brasileiro pela América e provavelmente já está fora da luta pelo deca, mas se vencer a Libertadores, ao fim do ano o resultado terá sido melhor que o de qualquer clube brasileiro. O jogo ainda não acabou, ao contrário do que fazem as análises publicadas nos últimos dias. É absolutamente prematuro decretar em agosto que os resultados do rival são melhores. Quem faz isso usa de desonestidade intelectual para atender a interesses que podem variar do clubismo tosco ao fanatismo político.

E o planejamento?

Fábio Carille foi efetivado como técnico do SCCP após o clube colecionar recusas de técnicos medalhões. Jô voltou ao time que o projetou como o centroavante que sobrou no mercado, desacreditado, enquanto Guerrero, Pratto, Ricardo Oliveira, Fred, Ábila (??!?!) e claro, Borja, dividiam os palpites de quem seria o melhor centroavante do futebol brasileiro de 2017 dentre a mídia especializada. Rodriguinho era apenas mais uma opção de elenco para a meia, tão desacreditado quanto Guilherme, atrás de Marlone, Giovanni Augusto e Marquinhos Gabriel. Cássio aparentava estar em plena decadência, mas seguiu como titular.

O SCCP não optou por soluções incrivelmente funcionais e econômicas. Se pudesse, teria gasto tanto quanto Palmeiras, Flamengo e todos os times que investiram muito mais para 2017, exatamente porque estavam classificados para a Libertadores e já tinham garantidos premiações e direitos de transmissão da Conmebol. As eliminações convenientes forçaram nosso rival a gastar pouco. Com uma boa dose de sorte, e muita competência para fazer o time dar liga, está nadando de braçada no Brasileiro.

Mattos cometeu alguns erros no planejamento do elenco no início do ano – mas nunca se pode perder de vista que o clube foi obrigado a mudar de técnico duas vezes e o preço disto é ter um time com o desenvolvimento atrasado. Usou o orçamento incrivelmente superior para montar um elenco indiscutivelmente forte, que caminha para se tornar o time mais poderoso do país, mas que neste momento, diante da tabela de classificação do Brasileirão, parece ser um fracasso – e essa aparência pode se confirmar em caso de eliminação na Libertadores. Um risco que o Palmeiras se viu obrigado a correr.

O planejamento do futebol do Palmeiras para 2017, a montagem do elenco, o atraso no desenvolvimento, o all-in na Libertadores e todas as devidas ponderações serão objeto de um post específico a ser publicado ainda nesta terça-feira. Fiquem atentos.

Ainda sem identidade, Palmeiras paga o preço do sabático de Cuca

Mattos e Cuca
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

O Palmeiras vai a Recife com nada menos que onze desfalques, entre lesionados, suspensos e jogadores que fazem recuperação física. Cuca será obrigado a modificar bastante o time que empatou contra o Flamengo e, mais do que nunca, recorrer a seu “vasto e qualificado” elenco para jogar de forma competitiva contra o Sport, na Arena Pernambuco. O time de Luxa está em ótima fase, vem de uma goleada sobre o lanterna e será um dos jogos mais difíceis do campeonato.

Logo na sequência, o time vai a Belo Horizonte decidir a vaga nas semifinais da Copa do Brasil. Diante de imposições do regulamento, o Palmeiras voltará a perder vários jogadores, poderá contar com a volta de outros tantos, e mais uma vez terá que modificar bastante a escalação.

Pelo Brasileirão

Fabiano, Thiago Martins, Michel Bastos, Felipe Melo, Moisés, Tchê Tchê, Arouca, Guerra, Willian Bigode, Borja e Dudu estão fora do jogo contra o Sport. Jean tende a voltar ao time – não se sabe se na lateral ou no meio. Como Mayke vem subindo de produção, o camisa 2 pode jogar no meio. Zé Roberto, que seria outra opção para jogar como volante, pode também continuar na armação ou voltar para a lateral, onde jogou o segundo tempo na última partida. Raphael Veiga e Egídio estão de prontidão. No ataque, tudo indica que o trio será comporto por Roger Guedes, Deyverson e Keno – até porque, a única alternativa entre os que sobraram é Erik.

O rascunho do time que deve entrar em campo contra o Sport: Jailson; Mayke (Jean), Mina, Edu Dracena e Egídio (Zé Roberto ou Juninho); Jean (Bruno Henrique) e Thiago Santos; Roger Guedes, Zé Roberto (Raphael Veiga) e Keno; Deyverson (Erik).

Pela Copa do Brasil

Para a partida em Belo Horizonte, Cuca ganhará seis reforços, mas perderá outros cinco atletas. Felipe Melo e Guerra, que ficaram na capital paulista fazendo trabalhos físicos, juntam-se à delegação. Suspensos no Brasileirão, Michel Bastos, Tchê Tchê, Dudu e Borja voltam a ficar à disposição.

Os cinco jogadores que não podem jogar a competição, seja por já terem atuado em outros times, seja por terem chegado após o término das inscrições, são Mayke, Luan, Juninho, Bruno Henrique e Deyverson.

Assim, o rascunho do time que precisa vencer o Cruzeiro é Jailson; Jean, Mina, Edu Dracena e Michel Bastos (Egídio); Felipe Melo (Thiago Santos) e Tchê Tchê; Roger Guedes, Guerra e Dudu; Borja.

O preço do sabático

Como se pode ver, são times muito diferentes entre si, em três partidas consecutivas. Cuca, sob pressão constante, tem que extrair o melhor do elenco a cada jogo, tendo (re)assumido o comando do time há menos de três meses e com jogadores com pouco ou nenhum tempo em campo, o que dificulta demais a tarefa de dar identidade e padrão ao time – quanto mais de desenvolver variações táticas consistentes.

Todas essa situações são consequência do período sabático que Cuca tirou nos primeiros meses do ano – condição já prevista antes mesmo de sua primeira chegada. Cuca não comandou a renovação de parte do elenco no começo do ano e nosso elenco foi reforçado com peças a pedido de Eduardo Baptista, e nem todas se encaixam exatamente no modelo que Cuca, que também não deixava claro quando voltaria ao mercado de treinadores.

Diante da evolução lenta do trabalho de Eduardo Baptista e o fim das férias de Cuca, Alexandre Mattos teve que agir rápido, para não ter o risco de vê-lo assumir compromisso com um de nossos concorrentes – e tanto Flamengo, quanto Santos, Grêmio e Atlético-MG estavam vivendo períodos de instabilidade e seus técnicos balançavam.

Com a volta de Cuca, novos jogadores tiveram que ser contratados – inelegíveis para a Copa do Brasil. Todos ainda buscam a adaptação ao elenco, em pleno mês de julho, com o time já dentro dos funis das copas. Cuca declarou esta semana ter “90% do time ideal definido”, mas o que vemos em campo parece ainda bem longe disto. O Verdão ainda busca sua identidade técnica em 2017, enquanto nossos principais concorrentes já fazem ajustes finos.

O Palmeiras deveria estar vivendo um ano de plenitude, exercendo a superioridade técnica do elenco, que por sua vez traduz a excelência administrativo-financeira que o clube atingiu. Mas a interrupção do trabalho, que durou quatro meses, comprometeu todo o ano – o time segue disputando os campeonatos, mas com muito mais dificuldades do que se imaginava. Tem dois placares para reverter e em ambos a situação não é simples. No Brasileiro, até estaria no bolo, apenas um pouco abaixo do aceitável, não fosse a campanha fora da curva de nosso rival – justo eles.

O Palmeiras tem totais condições de ter sucesso ainda este ano, mesmo com todos esses problemas. Mas o ano de 2017, seja qual for o resultado em dezembro, será uma ilustração perfeita de que no futebol, nem com um clube rico e organizado, nem com todo o cuidado no planejamento, é possível se ter a certeza de conquistas ou de um ano tranquilo.

Que o raciocínio sirva para 2018: mais uma vez entraremos organizados, saudáveis financeiramente e desta vez com o mesmo técnico. Em tese, muito mais favoritos e com muito mais chances que este ano. Mas mesmo sem outro período sabático em vista, vai saber que imprevistos o destino nos reserva.

E agora, José?

Cuca errou na escalação para o jogo de ontem contra o Cruzeiro, no Allianz Parque. Ao escalar Edu Dracena e Zé Roberto juntos, deixou o lado esquerdo muito lento. E isso já era pedra cantada, conforme se pode ler no pré-jogo. Mas há algumas razões que podem tê-lo induzido a cometer esse erro.

Jean não tinha condições físicas. Sem poder contar com Arouca, Felipe Melo e Bruno Henrique, única alternativa para a volância, ao lado de Tchê Tchê, era Gabriel Furtado. O menino, de 17 anos, foi muito bem no jogo-treino contra o São Caetano e no primeiro tempo em Campinas, mas talvez Cuca não tenha sentido confiança para lançá-lo num jogo de tamanha envergadura. Thiago Santos foi para o jogo com sabe-se lá quanto % de sua condição física e o primeiro e terceiro gols do Cruzeiro saíram em jogadas de velocidade aproveitando um enorme vazio no meio-campo.

Cuca pode ter imaginado que Robinho e Thiago Neves não representavam ameaças velozes para o lado esquerdo que ele montou, ainda mais com a proteção por seu homem de confiança. De fato, em tese, não eram. Mas na hora de fazer a cobertura no lance do primeiro gol, Zé Roberto não conseguiu acompanhar a linha de Diogo Barbosa pelo meio e o cruzamento por baixo encontrou Thiago Neves livre. E não foi a primeira vez nesta temporada que levamos um gol em cima de sua falta de explosão.

José Roberto da Silva Júnior tem um lugar cativo na galeria de ídolos do Palmeiras. Sua presença foi fundamental na retomada da grandeza do clube a partir de 2015, desde sua histórica preleção antes do primeiro jogo da temporada. Com liderança e excelência técnica, foi o símbolo do primeiro título de uma nova era do Palmeiras. No Brasileirão de 2016, protagonizou um lance histórico, contra o próprio Cruzeiro, em Araraquara, que também foi um dos símbolos da conquista. Por tudo isso, merece todo o respeito na reta final de sua carreira. Cuca precisa usá-lo em ocasiões específicas, em partidas que sua experiência no meio-campo seja bem-vinda. Se insistir em usá-lo como lateral, pode acabar esmaecendo o brilho de sua passagem pelo Palmeiras.

Na direita, mais problemas

Fabiano foi substituído aos 31 minutos logo após o terceiro gol do Cruzeiro, após levar um facão de Alisson. A jogada foi em velocidade e é muito difícil de marcar quando sai bem encaixada. Já no primeiro gol, nenhuma responsabilidade; ele estava na área ofensiva buscando o cabeceio num escanteio e havia cobertura. A vaia de grau 8 na escala Wesley que recaiu sobre ele provavelmente foi efeito da frustração coletiva de ver o time tomar de 3 com meia hora de jogo – mas ele não estava bem de qualquer forma.

Circunstâncias

Se parece definitivo que não podemos mais usar Zé Roberto na esquerda, a alternativa imediata a ele é Egídio. Com mais de dois anos de clube, o camisa 6 jamais passou segurança enquanto defensor; ontem, diante da postura avassaladora do Palmeiras no ataque no segundo tempo, saiu-se bem. Mas sabemos que ele não é uma alternativa confiável.

Para o Brasileiro e a Libertadores, Juninho surge como opção para fazer a lateral esquerda, mas é uma solução do tipo “cobertor curto” – seu desempenho no apoio é deficiente. Para a Copa do Brasil, Michel Bastos poderia ser a solução, embora não tenha apreço em atuar na posição em que surgiu para o futebol. Ontem, Michel estava fora de combate.

Já na direita, sem poder contar com Mayke e Jean, só foi possível usar Tchê Tchê ontem porque o time abriu mão de um volante diante da necessidade de atacar – e mesmo assim, arriscando ficar sem volantes porque Thiago Santos estava amarelado.

Em resumo: no início do ano, julgou-se que os laterais que encerraram o ano passado seriam suficientes para os desafios de 2017: Jean, Fabiano, Zé Roberto e Egídio – com Tchê Tchê e Michel Bastos fazendo as terceiras opções. Hoje, concluímos que a avaliação foi equivocada.

Mattos já se mexeu, trazendo Mayke e Juninho, que também não são soluções completas, mas é com eles que vamos até o fim do ano, sem poder usá-los na Copa do Brasil. De qualquer forma, diante de tantas circunstâncias negativas, não deixa de ser notável o remédio que Cuca conseguiu administrar ontem ao time para chegar ao empate, mexendo em quase todas as posições com apenas três substituições.

Vazamento

Não deixa de ser notável também o fato de que Cuca foi surpreendido pela postura tática do Cruzeiro. Outro jogo em que ele teve dificuldades no primeiro tempo foi contra o SPFC, no Morumbi. Em ambos, um ponto em comum: a escalação vazou bem antes do jogo começar. Ontem, por volta de 17h, a imprensa já tinha a informação – e provavelmente Mano Menezes também, assim como Rogério Ceni algumas semanas atrás.

Maurício Galiotte
César Greco / Ag.Palmeiras

Cuca até brincou coma situação depois do clássico, sugerindo que o SPFC poderia ter algum espião nos prédios que ficam a mais de 300m da Academia de Futebol. Na verdade, era um recado claro à direção, alertando que esses vazamentos estão atrapalhando o time. Deu certo; o ambiente voltou a ficar relativamente blindado e, com a escalação protegida, o time conseguiu envolver os adversários nos últimos jogos. Ontem, no entanto, essa proteção falhou. Alguém deu com a língua nos dentes e tomamos um baile no primeiro tempo que poderia ter sido fatal.

Enquanto pessoas alheias ao futebol tiverem acesso a informações cujo segredo é fundamental para um bom desempenho em campo, todo o esforço dos jogadores e comissão técnica acabam ficando em segundo plano. A confidencialidade da escalação e o fim dos vazamentos, que já foi tema de uma cobrança formal do grupo Fanfulla (não respondida pelo presidente), seguem sendo uma realidade distante da Academia de Futebol.

O Palmeiras, a análise seletiva da imprensa e a luta contra o amadorismo

Há pouco mais de quatro anos, o Palmeiras estava numa situação desesperadora. Rebaixados para a segunda divisão com algumas rodadas de antecedência, víamos nosso então presidente desfilar de sunga pelas areias do Leblon pouco antes de embarcar para a Argentina, onde, em seu último ato no cargo, contrataria Riquelme para reforçar o time que disputaria a Série B – deixou tudo apalavrado.

Paulo Nobre assumiu a presidência em janeiro e rapidamente desfez o negócio. Depois de analisar a situação financeira, só não conseguiu desfazer a contratação de Fernando Prass porque já estava tudo assinado – R$300 mil por mês para um goleiro era um valor fora da realidade para o Palmeiras daquela época.

A contratação de Prass foi apenas mais um exemplo que no futebol, às vezes, fazer tudo errado pode dar certo. Com receitas futuras adiantadas e já comprometidas; o precipício financeiro tinha data para chegar: em abril de 2013 o Palmeiras não teria dinheiro para pagar sequer a conta da luz. A imprensa criticava, com razão, o amadorismo e a desorganização de nossa diretoria.

Reconstrução

Allianz ParqueA nova equipe então bolou um plano de reconstrução financeira emergencial, apoiado no poder econômico pessoal de Paulo Nobre. Era isso ou fechar as portas e refundar o clube com um novo nome e nova razão social – frase literal proferida numa das reuniões de diretoria naquele período. O novo clube teria que disputar a Série B1 do Paulista e tentar a classificação para a Série D do Brasileiro, para subir ano a ano até voltar à Série A.

O plano para oxigenar as finanças foi colocado em prática funcionou, mas não impediu que o clube, ainda semiamador na gestão do futebol, levasse mais um enorme susto no final de 2014. Desta vez, o acaso nos ajudou e a tragédia não se consumou. Com o fôlego renovado, o clube partiu então para uma nova fase: o Allianz Parque surgiu, o Avanti decolou; e logo depois surgiu o forte patrocínio da Crefisa. Foram sucessivos incrementos no orçamento que possibilitaram ao Palmeiras profissionalizar de vez o departamento de futebol e estamos desfrutando do resultado desde então. Desde 2015, o Palmeiras vem montando times mais fortes ano a ano.

Histórico

O futebol brasileiro já viu o predomínio de vários clubes nas últimas décadas. E desde que o futebol se profissionalizou, em 1933, inevitavelmente, o sucesso esportivo caminha lado a lado com o sucesso financeiro – um é consequência do outro, num círculo virtuoso, até que algum dirigente amador chega e mata a galinha dos ovos de ouro.

A partir da década de 90 o futebol mundial deu um salto de qualidade e deixou de ser apenas esporte. Bilhões de dólares foram despejados nos cofres dos times ao redor do planeta, resultado de uma convergência de fatores econômicos cuja locomotiva foi a televisão. Mais do que nunca, o dinheiro passou a ser o diferencial entre um time protagonista e um figurante.

O Palmeiras já esteve na situação de ser o clube dominante entre 1993 e 2000, durante a cogestão da Parmalat. Outros times tiveram seus momentos de predominância, e todos colheram os resultados financeiros do sucesso em campo, reinvestindo e estendendo seus domínios. O dinheiro e as taças andam lado a lado. Um bom orçamento não garante todas as conquistas, mas se um sistema vencedor for mantido e aprimorado, as conquistas continuarão vindo, inevitavelmente.

Os clubes e suas galinhas

Kia JoorabchianTodas as grandes camisas do futebol brasileiro tiveram suas galinhas dos ovos de ouro. O Botafogo, e até o Bangu, foram sustentados por cartolas envolvidos com jogo do bicho. O Flamengo, por anos, teve o aporte da Petrobrás, além de desfrutar de uma fatia imensamente superior à do resto dos clubes vinda dos direitos de televisão. Depois de tentar sem sucesso roubar o estádio dos outros, o SPFC construiu o Morumbi com recursos de origem duvidosa e por décadas teve a receita do aluguel do estádio, para shows e para todos os clássicos, e até para jogos dos rivais contra clubes menores.

O Santos, por anos, foi sustentado com o dinheiro do dono de uma rede de faculdades local, que se tornou presidente do clube. O Galo surfa no dinheiro de um torcedor-banqueiro, que financiou a montagem de um time que chegou à conquista da Libertadores. O Fluminense, por muitos anos, foi uma espécie de Unimed FC.

O Cruzeiro só se consolidou como time de expressão nacional depois que a família Perrella o controlou, durante anos; seu patriarca tem braços em várias atividades – de origem na pecuária, foi presidente da FIEMG, faz transportes por helicóptero e é senador. O Grêmio (que junto com o Inter recebe aquela mesadinha esperta de um banco estatal gaúcho) e, mais uma vez, o Flamengo, foram pontas de operação de uma empresa suspeita, a ISL, parceira comercial da FIFA.

O SCCP é um caso à parte, já fez de tudo: teve presidente que misturava o dinheiro do bolso com o do clube (Vicente Matheus); já teve patrocínio de torcedor (Kalunga); já ganhou (e ganha) muito mais dinheiro do que os outros times da TV, já teve grana de empresas suspeitas, por mais de uma vez (Banco Excel, HMTF, MSI).

E quase todo mundo tira uma casquinha da Caixa Econômica Federal.

Análise seletiva

Mauro Cezar
Reprodução

A mesma imprensa que criticava o Palmeiras a desorganização quatro anos atrás, agora critica pelo sucesso. Não há registros da imprensa falando em doping financeiro, em mecenato, ou em qualquer outro termo depreciativo aplicado a nenhum dos times mencionados no histórico acima. Mas todos se lembram do “esquema Parmalat”, expressão carregada de veneno cunhada pela imprensa, inconformada com o predomínio do Palmeiras quando teve a multinacional italiana como parceira.

O Palmeiras tem novamente o elenco mais encorpado do futebol brasileiro e é o principal favorito para vencer os campeonatos que disputa. E nunca se relacionou tanto quanto agora os domínios que cada time já exerceu no futebol com o dinheiro que o clube angariou para se chegar a esse domínio. Nunca se ouviu tanto a ponderação “…diante do volume de recursos investido” para se comentar o desempenho de um clube em campo, quanto nos dias de hoje. Antes, time campeão era time campeão. Falava-se sobre os jogadores, sobre o técnico, sobre o jogo. Dinheiro era só um detalhe.

A imprensa esportiva no Brasil, em regra geral, é incapaz de analisar um jogo de futebol. Agora metem-se a ponderar o jogo com análise financeira, com altas pitadas de clubismo. O resultado são essas baboseiras despejadas nos sofás e mesas dos intermináveis programas de debate. Não importa o quanto os outros clubes que dominaram o futebol brasileiro nas últimas décadas tiveram de auxílio financeiro, legítimo ou não: a análise é seletiva; só o domínio do Palmeiras é ponderado e muitas vezes depreciado pelo poderio econômico, como se fosse imoral ser bem-sucedido financeiramente.

O Palmeiras contra o amadorismo

Mustafá Contursi
Keiny Andrade/Folhapress

Futebol se tornou profissional em 1933. Desde então, o dinheiro anda junto do sucesso esportivo. Quando o Palmeiras não esteve atolado na incompetência de seus dirigentes, algo que só passou a acontecer desde que Mustafá Contursi construiu sua ascensão política em meados da década de 70, teve sucesso nas duas frentes.

O Palmeiras tem que se preocupar em não deixar que o anacronismo prevaleça e destrua tudo o que foi construído nos últimos anos. Todos os clubes brasileiros tiveram chances de estabelecer um domínio longo, mas fracassaram exatamente pelo amadorismo das instituições, incapazes de se proteger da vaidade de sócios influentes e de interesses pessoais. Se o Palmeiras aproveitar a chance e solidificar o sistema, estabelecerá um domínio por longos anos e, por cansaço, calará a imprensa, que se renderá quanto às críticas ao modelo financeiro e passará a cobrar seus clubes favoritos para que façam o mesmo.

Enquanto isso não acontece, teremos mais alguns anos de mecenato pra cá, Crefisa pra lá, e silêncio quanto a sócio torcedor e bilheteria. Um dia o palmeirense vai se acostumar com esse tratamento da imprensa – ou então vai apoiar mais a mídia alternativa palmeirense. O Verdazzo segue fazendo seu trabalho diariamente.

Está nas mãos da atual diretoria manter o atual poderio, apoiado no profissionalismo, sem deixar que pressões políticas ponham tudo a perder. As receitas estão equilibradas, o fluxo está sob controle, e há profissionais cuidando para que tudo se mantenha. Não haverá desculpas se este sistema ruir.


O Verdazzo é patrocinado pela torcida do Palmeiras.

Aqui, o link para se tornar um padrinho do site: https://www.padrim.com.br/verdazzo. Já somos mais de 200!

Palmeiras coloca estrela vermelha na camisa para celebrar o Mundial de 1951

Em sessão ordinária do Conselho Deliberativo do clube, a diretoria do Palmeiras apresentou uma mudança discreta, porém importante na camisa a ser usada pelos jogadores nas partidas: a introdução da estrela vermelha logo acima do escudo do clube – ou, no caso, do “P” – para fazer referência à conquista da Copa Rio, em 1951.

A divulgação da mudança imediatamente provocou uma enorme discussão na torcida; a maioria se posicionou contrária ao adereço.

Estrela VermelhaA estrela está prevista em nosso estatuto há muito tempo. É bem possível que a Copa Rio não fosse tão contestada pelos ignorantes de plantão se o Palmeiras a tivesse valorizado como merecido desde o dia seguinte à conquista. Mas o Palmeiras conquistava tantos campeonatos que o Mundial de Clubes Campeões acabou ficando em segundo plano e esquecido por muitos anos.

Muitas das críticas da torcida se baseiam na ideia de que a colocação da estrela seria como passar recibo às provocações dos adversários. “Não precisamos de estrelinha para afirmar nossa grandeza”, dizem, com boa dose de razão.

Existe também uma corrente bem menos razoável que repudia o símbolo, pois a relaciona com o PT, partido que vem sendo um dos esteios da bipolarização política irracional por que passa o país. A mera visualização de uma figura vermelha com cinco pontas dispara um gatilho mental e o sujeito começa a hiperventilar de ódio com as pupilas dilatadas.

Para esses, mais radicais, vale a pena lembrar que o símbolo do comunismo é a foice e o martelo. Uma estrela vermelha é um símbolo universal; um partido político não pode se sobrepor a isso. Quanto ao argumento do desprezo à autoafirmação, pode até ser válido, desde que se dê ao fato mais importância do que ele realmente tem.

Desnecessária, mas inofensiva

Estrela VermelhaA colocação da estrela vermelha sobre o escudo não é novidade. No final da década de 80 e início de 90,o Palmeiras chegou a exibi-la em seu uniforme, junto a mais duas estrelas brancas, que celebravam os Brasileiros de 72 e 73.

A decisão da diretoria é apenas uma correção histórica, feita com décadas de atraso. Diante de tamanho intervalo de tempo, é desnecessária, mas também é inofensiva, não arranca pedaço nenhum. Não merece mais que um ou dois tweets de revolta.

No longo prazo, ela tende até a acabar com essa provocação de outras torcidas a respeito de “não ter mundial”. Daqui a dez ou quinze anos, se o adereço permanecer em nossa camisa, qualquer torcedor saberá que o Palmeiras venceu um Mundial em 1951 desde que conheceu nossa camisa e não terá força para contestar nada. Terão que procurar outra coisa para tentar nos provocar. Se é que alguém em nossa torcida ainda se preocupa com isso.

Conselho ocioso

As reuniões do Conselho Deliberativo têm sido muito pouco produtivas. Debatem as piscinas, a bocha, ou estrelinhas, quando poderiam estar discutindo pautas muito mais relevantes – por exemplo, as mudanças no estatuto que realmente trarão avanço ao clube, ou a apuração de responsabilidades na escandalosa contratação de Wesley, em 2012.

Mas as pautas do Conselho Deliberativo, sabemos, obedecem às vontades de um certo cacique que acha que o marketing do Palmeiras seria bom se batesse na porta da Vulcabrás, entre outros conceitos brilhantes.

É com isso que nossa torcida deveria se revoltar.