O “grande orçamento” do Palmeiras: cada centavo contou

Willian e David Braz
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

O Palmeiras venceu o Santos nos pênaltis na noite de terça-feira, depois de ter sido derrotado no tempo normal por 2 a 1 numa noite muito ruim de quase todo o time. A classificação para as finais veio com muita emoção – muito mais do que gostaríamos.

O Palmeiras tem muito mais time que o Santos, apesar dos desfalques de Borja e Gustavo Scarpa. O Palmeiras vinha de uma sequência muito boa, com cinco vitórias sem sequer levar gols, ao passo que o Santos vinha numa maré oposta, com apenas uma vitória nos oito jogos anteriores. O Palmeiras tem um orçamento compatível com suas ambições, um dos maiores, senão o maior, do Brasil, muito superior ao do Santos.

Nada disso valeu quando os times entraram em campo. O gramado encharcado diminuiu logo de cara a diferença técnica entre os times. Mesmo assim, o Palmeiras dominava a partida e, mesmo após levar o primeiro gol, chegou ao empate e continuou dando as cartas. O Santos jogava por bolas esticadas a seus rápidos atacantes e torcia para algo extraordinário, contra todas as probabilidades, acontecer antes que o Palmeiras fizesse o segundo.

Mas nosso time não estava numa noite exatamente inspirada e o extraordinário aconteceu, exatamente como planejou o técnico santista Jair Ventura: explorando a velocidade de seus atacantes, o time conseguiu chegar em nossa área; mesmo com nossa defesa ocupando a área o Santos conseguiu o segundo gol numa jogada de pinball, em que a bola rebateu várias vezes e sempre ficou em boas condições para os atacantes alvinegros. Para o adversário, não poderia haver melhor momento para sair esse gol: no fim do primeiro tempo, para não dar tempo do Palmeiras reagir em seguida e permitindo ao treinador refazer o plano de jogo no vestiário.

Com 45 minutos pela frente, as diferenças técnicas foram para o espaço, dando lugar às emoções. Nossos jogadores não trabalharam bem a possibilidade real de eliminação, depois de abrir 500 pontos, ter o melhor ataque e defesa e 35 jogadores na seleção do campeonato. O controle da bola, o balanço do jogo, todas nossas maiores qualidades simplesmente desapareceram e o Palmeiras virou um time comum.

Isso é mata-mata. Os melhores times do mundo têm direito a uma jornada ruim e de perder pontos para times bem piores que o Santos nos pontos corridos. Mas numa fase eliminatória isso é fatal e o Palmeiras mostrou que ainda não tem confiança total em seu futebol para reverter uma situação em que tinha totais condições para tal. É a maior lição que nosso grupo, ainda em evolução, precisa tirar desse jogo.

O jogo terminou e a vaga ficou para os penais. Os dez minutos que separaram o jogo da disputa no gol do tobogã foram fundamentais para que nossos jogadores esfriassem a cabeça e virassem a página. Com a bola parada, a capacidade de foco voltou. Todo o treinamento de cobranças feito na véspera, sem a presença da imprensa, foi executado com perfeição.

Depois de vencer a Copa do Brasil em 2015, o Palmeiras tinha perdido as três disputas de que participou – para o Nacional, na Copa Antel, em janeiro de 2016; no Paulista de 2016 para o Santos; e na Libertadores de 2017, para o Barcelona. Desta vez, nossos jogadores, com cobranças perfeitas, não deram chances a Vanderlei, um dos melhores goleiros do país. Jailson, por sua vez, defendeu uma das quatro cobranças do Santos e garantiu nossa vantagem.

Olha o orçamento aí

Jailson
Djalma Vassão/Gazeta Press

A virada mental protagonizada pelo Palmeiras tem tudo a ver com o tal orçamento que nossos adversários usam como arma motivacional. Esse poder financeiro é o que faz com que o Palmeiras tenha uma estrutura física tão superior à da maioria dos clubes brasileiros. E essa estrutura é cercada pelos melhores profissionais. Tudo isso dá confiança aos jogadores. E confiança, numa disputa de pênaltis, é tudo.

Com a bola parada na cal, o jogador tem a possibilidade de realizar um movimento, um ato mecânico simples que só precisa de treino e foco para ser bem executado. O Palmeiras só precisou de um tempinho para respirar, focar e voltar a exercer sua superioridade.

O treinamento bem executado, a confiança, a excelência nas cobranças e a própria chance de disputar a vaga mesmo depois de uma derrota (pelo placar do primeiro jogo), tudo isso também é resultado do “grande orçamento” que temos. É também por causa dessa condição que não precisamos mandar um moleque de 19 anos bater pênalti.

Todas as vezes que alguém mencionar o poder econômico do Palmeiras, no fundo, está respeitando ou temendo esta capacidade de reação demonstrada ontem depois de um jogo muito ruim.

Em mata-mata, o que vale é a classificação

Comemoração
Djalma Vassão/Gazeta Press

O adversário eliminado se auto-elogia usando nosso orçamento na argumentação. A imprensa desdenha da classificação cobrando um avanço menos sofrido dado o poder econômico. Tudo besteira. Em mata-mata, o que vale é a classificação.

O grande orçamento tem muito mais peso no Brasileirão. E o Palmeiras é o maior favorito para o campeonato que começa daqui a 17 dias, que é o campeonato em que temos que colocar as maiores esperanças. Uma derrota destas, no Brasileirão, se dilui em meio a uma série de ótimas vitórias, como as que vínhamos tendo e não pesa tanto. Num mata-mata, como o de ontem, e como na Copa do Brasil e na Libertadores, pode ser fatal e nem sempre conseguiremos ainda a chance de avançar nos penais.

E por causa desse poder é que o Palmeiras, numa das piores noites do ano, mesmo assim saiu vencedor. Não podemos cair na pilha da imprensa e dos adversários: cada centavo contou.


Fran VituzzoEste post é dedicado ao meu amigo Fran Vituzzo, conselheiro do Palmeiras, dos bons, dos melhores, daqueles que todos deveriam ser iguais, que nos deixou na noite de ontem, após o jogo. Vai assistir do camarote do céu à próxima conquista do Verdão. VALEU FRAN!

Entres tantas certezas, apenas uma se sustenta: não foi a gritaria na internet

A sensacional vitória no clássico de ontem à noite voltou a encher os palmeirenses de certezas – como acontece em todos os jogos, seja na boa, seja na ruim. As de ontem foram, basicamente, que os xingamentos da torcida depois da derrota para o São Caetano funcionaram e os jogadores entraram com vergonha na cara; correram bastante e por isso venceram – simples assim.

Talvez isso seja uma meia-verdade, se é que isso existe.

Xingando muito no TwitterA atitude dos nossos jogadores foi a que sempre sonhamos e foi determinante para o resultado. O equilíbrio com que o Palmeiras tratou a disciplina tática e a chamada pilha, dosadas na combinação correta, temperadas com a incrível participação dos mais de 34 mil palmeirenses presentes, foi o que matou o SPFC.

A origem dessa mudança de atitude, entretanto, parece muito mais ligada ao significado de cada jogo do que às cobranças nas redes sociais que beiraram a histeria.

E-qui-lí-brio

São poucos os jogadores que conseguem entrar em todas as bolas com vitalidade sem perder a concentração, sem desligar do raciocínio que comanda a fundamental ocupação de espaços.

Nossos jogadores conseguiram imprimir volume nos momentos-chave e souberam diminuir o ritmo quando necessário. O time respondeu, mais uma vez, à necessidade de vencer num jogo grande após um resultado frustrante. O que vimos foi um banho de bola.

Victor Luis vs. SPFC
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

O SPFC foi esmagado na parte mental logo que a bola rolou. O som ensurdecedor da torcida, somado com três ou quatro roubadas de bola surpreendentes logo nos minutos iniciais, minou a confiança dos adversários. A jogada de Dudu entrando na área conduzindo a bola rente à linha de fundo ilustra muito bem a postura de cada time em campo.

Mas não é possível jogar o tempo todo em intensidade máxima. O Verdão, então, soube jogar também nos momentos em que o SPFC tentou colocar a bola no chão e fazer valer sua condição de time grande. O máximo que permitiu foi uma bola na trave, num lance de rara felicidade de Shaylon e Trellez. Neutralizando e cansando o adversário, o Palmeiras voltou à carga e esteve bem mais próximo do terceiro do que o SPFC do primeiro – aliás, chegamos ao terceiro, que a péssima arbitragem nos subtraiu.

Torcida à beira de um ataque de nervos

Em jogos menores, em início de temporada, o time pode se dar ao luxo de fazer experiências. É até necessário. Nesses jogos, como o de segunda-feira, é natural que o foco esteja totalmente na parte tática e zero na intensidade. Ontem, ao contrário, pode ter sido apenas um jogo em que tudo deu certo, mas também pode ser sinal de que esse grupo pode estar atingindo a maturidade (até antes do esperado) ao exibir disciplina tática e pilha em quantidades corretas, nos momentos exatos.

Fabiano vs. São Caetano
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

Não podemos ter certeza de nada; o tempo dirá o quanto nosso elenco está evoluindo. A conta da derrota de segunda, é claro, é do treinador – o que não necessariamente é algo ruim. Roger pode ter arriscado os pontos em nome do desenvolvimento de peças que lhe parecem úteis. Ele provavelmente tirou lições importantes daquela partida. E pagou com o preço mais alto possível por essas informações: três pontos.

Transformar a frustração por uma derrota para o São Caetano num movimento de manada para derrubar a comissão técnica, condicionando a sequência do trabalho à vitória no clássico é um erro tão grosseiro quanto recorrente em nossa torcida, sempre à beira de um ataque de nervos. Felizmente a vitória veio, caso contrário estaríamos sujeitos à firmeza da diretoria – e sabe-se lá o quanto estava respaldado o trabalho da comissão técnica até ontem à noite. E não é possível que, em sã consciência, depois de tudo o que aconteceu no ano passado, um palmeirense ainda sustente que trocar de técnico seja sempre a solução.

Por isso, a única certeza que parece mesmo existir é a de que é melhor exercitar a paciência, evitar jogar gasolina em cima de uma pilha em que pode haver um braseiro escondido. O preço a ser pago pode ser bem maior que três pontos na fase de classificação do Paulista.


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Apenas dez jogos: o Palmeiras é um time em construção

Guerra enfrenta o Junior, em Barranquilla
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

A partida contra o Junior, na noite de ontem em Barranquilla, encerrou a primeira parte da temporada. Após dez jogos, o time experimentou a condição de sensação da temporada, e rapidamente foi transformado a mico do ano, fadado ao fracasso. Como vimos, nem uma coisa, nem outra. O Palmeiras é um time em construção.

A partir de agora, o time se concentra na reta final do Paulistão; com mais nove jogos, podemos conquistar uma taça que não vem há quase dez anos e que aumentará a confiança do time, mesmo sendo um torneio menor. Nessa trajetória, teremos apenas um jogo pela Libertadores – contra o Alianza, em casa, encravado entre os dois jogos das finais.

Nestes dez jogos disputados até agora, Roger Machado usou 21 jogadores. Mayke, Fernando Prass, Moisés e Juninho jogaram apenas uma vez; os outros 17, no mínimo, participaram de cinco partidas – metade do total. Considerando que Moisés, Edu Dracena e Diogo Barbosa são atletas que fatalmente estarão entre os que jogarão com frequência assim que suas condições físicas permitirem, temos um elenco com 20 protagonistas – uns mais, outros menos usados, mas com igual importância para o equilíbrio do conjunto.

A seguir, o Verdazzo apresenta uma série de dados referentes às dez partidas iniciais de 2018, que servem para o leitor fazer projeções para tentar entender para onde Roger está conduzindo o grupo.

Números

  • Thiago Martins enfrenta o Junior, em Barranquilla
    Cesar Greco / Ag.Palmeiras

    Thiago Martins é o atleta que mais minutos esteve em campo: com 954 minutos jogados, é o único que esteve presente em todos os jogos, completos;

  • Além dele, apenas Jailson, Antônio Carlos, Lucas Lima e Dudu foram titulares em todos os jogos. Willian Bigode também esteve presente em todas as partidas, mas em dois deles entrou no decorrer do jogo;
  • Keno foi o jogador que mais entrou durante os jogos: 8 vezes. Bruno Henrique e Gustavo Scarpa, 5 vezes cada, vêm em seguida (importante lembrar que este último ficou quatro partidas em trabalho físico e só esteve disponível em seis);
  • Lucas Lima, 7 vezes, e Tchê Tchê, 6 vezes, foram os jogadores mais substituídos;
  • Dos jogadores disponíveis, apenas Weverton e Luan, além dos meninos Luan Cândido e Daniel Fuzato, não tiveram a chance de entrar em campo;
  • O Palmeiras marcou 17 gols em dez jogos. Depois de passar dois jogos em branco contra Ponte Preta e SCCP, o time reagiu na Colômbia e chegou à razoável média de 1,7 gols por jogo;
  • Borja enfrenta o Junior, em Barranquilla
    Cesar Greco / Ag.Palmeiras

    Borja é o artilheiro do time, com 6 gols em 9 jogos – ótima média de 0,66 gols por partida. Em seguida, aparecem Dudu, Keno e os improváveis Thiago Santos e Bruno Henrique, com dois gols cada;

  • Bruno Henrique, com o jogo “fora da curva” na Colômbia, tem a incrível média de um gol a cada 80 minutos jogados. Thiago Santos vive um fenômeno parecido, com um gol a cada 118 minutos. Em seguida, aparecem Keno (um gol a cada 126 minutos) e Borja (um gol a cada 128 minutos);
  • O Palmeiras recebeu 16 cartões amarelos, o que dá a média de 1,6 cartões por jogo. Borja também é o líder neste item, com 3 cartões recebidos; Lucas Lima, Victor Luis, Felipe Melo e Antônio Carlos vêm em seguida com 2. Nesses dez jogos, o Verdão recebeu apenas um cartão vermelho – “aquele”, do Jailson.

Raio-X: 10 jogos

Conclusões?

Roger Machado
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

Não há exatamente muitas conclusões a se tirar deste levantamento. O que podemos perceber são algumas tendências do pensamento do treinador. O leitor pode enriquecer a discussão com suas impressões nos comentários.

O Palmeiras venceu seis partidas fáceis no início da caminhada, contra adversários, à exceção do Santos, muito inferiores tecnicamente. Oscilou, teve um jogo atípico em Campinas e um Derby contra um time mais entrosado, onde, apesar de prejudicado pela arbitragem, mostrou claramente que ainda está em evolução e que não é a máquina que as seis vitórias iniciais poderiam sugerir aos menos experientes.

Nossa torcida não se caracteriza pela paciência, mas neste momento, é tudo o que nosso time precisa. Uma derrota num Derby é um grande ímã de problemas; o ambiente fica efervescente e a porção clubista da imprensa aproveita para jogar gasolina na fogueira. Só nesses quatro dias entre as duas últimas partidas tivemos três deflagradores de crises; boa parte de nossa torcida, descontente com o Derby, adorou comprar todas elas.

Moisés
Cesar Greco / Fotoarena

Temos que ser inteligentes. Compreender o momento de construção do time. Já pudemos ver momentos de brilho encantador entremeados com outros de confusão e perplexidade. Gustavo Scarpa, Edu Dracena, Moisés e Diogo Barbosa são peças importantíssimas que serão decisivas para que o potencial que podemos ver neste momento se transforme em realidade.

Todos os números apresentados dão uma pequena noção de como Roger pretende fazer isso ao longo da temporada. Por enquanto, temos um belo material bruto e um time em construção.

Este grupo tende a maturar definitivamente na parada para a Copa do Mundo – a partir de julho, podemos esperar um time realmente forte, encorpado, que tende a levantar o Brasileirão naturalmente se conseguir administrar o elenco em todos os aspectos – físico, técnico e moral; e com um pouco de sorte – e inteligência da torcida – pode levantar também algum(ns) dos mata-matas.


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Duas frentes de trabalho para acabar com a maldita sensação de déjà vu

Derby
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

O Palmeiras perdeu mais um Derby em Itaquera, no final-de-semana. Esta derrota perfez uma rara sequência de quatro seguidas no clássico – a última vez que eles nos impuseram isso na História foi entre 1983 e 1985. Assim, o placar de sequências de quatro ou mais vitórias foi igualado, com quatro para cada lado. A diferença é que o Palmeiras ostenta uma sequência de cinco e outra de seis triunfos.

A partida do último sábado traz uma desagradável sensação de déjà vu, já que guarda semelhanças com dois Derbies disputados no ano passado.

De certa forma, lembra o clássico disputado em 22 de fevereiro, pelo Paulistão, quando o Palmeiras, apesar do período de desenvolvimento do time em virtude de ter um treinador contratado na virada do ano, fazia melhor campanha no campeonato, enquanto o rival parecia bem mais longe, vindo de resultados ruins e ainda buscando encontrar um time titular confiável. Com um gol de Jô, no final do jogo, o Palmeiras foi derrotado pela contagem mínima.

Por outro lado, a partida do último sábado remete ao Derby de 5 de novembro, que terminou com o placar de 3 a 2 e que teve larga influência da arbitragem. Nos dois jogos, apesar da interferência dos homens do apito, o Palmeiras também mostrou falhas dentro de campo que precisam ser ajustadas.

Fomos roubados, mas claro que poderíamos ter jogado melhor

Instagram
Reprodução Instagram

A primeira reação do torcedor contra o próprio time é aquela que infelizmente já virou rotina de alguns anos para cá: achar que “faltou raça”. Daí a chamar este ou aquele jogador de vagabundo e pipoqueiro é um pulo. Daí para pior. Houve alguns episódios tétricos: torcedores procuraram o Instagram da esposa do Dudu e o xingaram – não pouparam nem uma foto em que aparece apenas um dos Duduzinhos. É caso de sociopatia gravíssimo.

Mesmo sem chegar a esses extremos, boa parte da nossa torcida canaliza a frustração da derrota contra nossos jogadores de forma exagerada. A necessidade de se achar culpados e de vociferar pelo teclado é um fenômeno alarmante. E não é justo.

Faltou atitude? Talvez, mas será que foi por falta de “tesão”? Será que foi por desinteresse? É bem pouco provável.

Nossos atletas no primeiro tempo, mesmo jogando ligeiramente melhor que o adversário, não conseguiram abrir o placar. A intensidade de jogo poderia ter sido maior, o time poderia ter atacado de forma mais compacta. Erros dos jogadores, talvez do técnico – jamais saberemos se o posicionamento equivocado dos nossos jogadores foi orientação do Roger ou se eles não executaram o que o treinador pediu. No final, mesmo com nossa defesa postada, um buraco na marcação e muita felicidade de Rodriguinho determinaram a abertura do placar.

Raphael Claus
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

No segundo tempo houve jogo por dez minutos, um massacre do Palmeiras, com muita atitude – tanto que Cássio aproveitou um choque com Borja para paralisar o jogo por três minutos para esfriar nosso time, sentindo o perigo. Assim que a partida recomeçou, uma bola vadia caiu no pé de Renê Júnior e o resto é o que já sabemos.

A partir desta sequência, o Palmeiras de fato morreu em campo e é impossível não relacionar este comportamento com as decisões da arbitragem. Nosso time se sentiu muito prejudicado e perdeu o foco, compreensivelmente – ao menos para quem tem a referência da prática de esportes de forma competitiva na vida. Quem não tem, fala que é vagabundagem.

Faltou aproximação entre os atletas com a posse de bola. Tchê Tchê estava fora de sintonia e não deu apoio a Felipe Melo, perdemos a disputa pelo meio de campo. Nosso time podia ter mais vibração no primeiro tempo – algo que 10% do estádio a nosso favor poderia providenciar, mas que o time deles, que da mesma forma não teve o apoio dos seus quando veio ao Allianz Parque em 2017, não se ressentiu – muito, mas muito provavelmente porque já estava se sentindo bem naquele jogo, coisa que nosso time não conseguiu.

Tudo isso ainda parece ter origem no atual estágio de desenvolvimento do time. Contra times fracos, os resultados vieram. Num ambiente extremamente hostil, contra um time mais ajeitado, e com a decisiva ajuda da arbitragem, o resultado não veio. Pensando friamente, não foi nenhuma zebra e já dizíamos antes do jogo, por todos esses motivos, que os favoritos eram eles.

Poderíamos ter jogado melhor, mas claro que fomos roubados

Roger Machado
Fabio Menotti/Ag.Palmeiras

Roger Machado ainda deve fazer ajustes no time titular. Nosso elenco é muito rico e ele tende a conseguir, com o tempo, achar a melhor combinação de jogadores e encontrar a melhor dinâmica de jogo para eles. Keno, Guerra e Gustavo Scarpa estão a postos para novas experiências. Diogo Barbosa é uma peça importante que ainda não estreou. Moisés é um craque cuja condição física ainda é uma incógnita. Roger ainda tem muito para evoluir com o time.

Isto dito, não podemos jamais deixar de lado a influência que a arbitragem sofre para apitar jogos do SCCP. Em seu site, a RGT soltou uma matéria quase criminosa no sábado tamanha a intimidação que causou na arbitragem. Nos momentos que antecederam ao jogo, o bandeirão desfraldado pela torcida local continha, descaradamente, as logomarcas dos canais por assinatura da emissora. Após o clássico, quase em tom de escárnio, exibiu matéria com a mãe de Jailson na arquibancada do Itaquerão, uniformizada, torcendo por seu time e por seu filho.

Bandeirão SCCPÉ fato que a arbitragem tem medo de apitar contra o time de Itaquera. “Pênalti para o SCCP” é uma piada generalizada na Internet. O Palmeiras precisa, de alguma forma, se defender disso. Boa parte da torcida espera um pronunciamento do presidente Maurício Galiotte. Talvez seja necessário, talvez não – uma declaração forte pode até reforçar, mas jamais será suficiente para, por si só, impor o respeito que nossa camisa demanda.

Estamos sendo roubados sistematicamente – até na base os juízes nos prejudicam. É necessário agir nos bastidores de forma incisiva, e se nossa diretoria tem tentado fazer algo neste sentido, não está surtindo efeito algum e a estratégia precisa ser revista.

Nosso patrocinador tem um peso enorme nas receitas da RGT, o principal agente dessa pressão. Mas a presidente da Crefisa e conselheira do clube Leila Pereira é uma neófita e ainda não sabe como usar esse poder para agir nos bastidores e defender os interesses do time – algo que nosso presidente poderia incentivar e eventualmente mostrar o caminho, até porque, ela já declarou a intenção de um dia presidir o clube.

Duas frentes a se trabalhar

Maurício GaliotteFomos roubados e podíamos ter jogado melhor. As duas coisas não se excluem. Fechar os olhos para qualquer um desses aspectos é limitar a análise, é enxergar apenas uma parte do problema. Nossa torcida precisa perceber o cenário de forma ampla e apoiar, em vez de se converter em mais um problema.

Roger está em início de trabalho e, tanto quanto o elenco, precisa de blindagem. Se os resultados não vierem, será preciso muita força para suportar a pressão interna – o erro que comentemos no ano passado não pode se repetir. Já Maurício Galiotte está mais perto do fim do que do começo de seu mandato e já passou da hora de resguardar, de uma vez por todas, nossos interesses.

As duas coisas se resolvem com muito trabalho: o treinador, treinando; o presidente, presidentando. Só assim não termos novamente a mesma maldita sensação de déjà vu quando voltarmos a enfrentá-los, provavelmente nas finais do Paulistão.


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Após cinco rodadas, panorama do futebol brasileiro sugere um 2018 verde

PalmeirasA torcida do Verdão está em lua-de-mel com o time. A nuvem negra que parecia ter estacionado sobre o clube no ano passado rapidamente se dissipou com o início dos trabalhos de Roger Machado. O time evolui de forma muito interessante em campo e os resultados apareceram muito rápido.

No Campeonato Paulista, o Palmeiras é o líder absoluto após cinco rodadas, com 100% de aproveitamento. Tem o melhor ataque e a melhor defesa. Individualmente, nossos atletas lideram quase todas as estatísticas do campeonato.

A estrutura proporcionada à equipe é fantástica; e sempre melhorando – ontem foi divulgada uma nova parceria com uma empresa que vai fornecer mais tecnologia para o departamento de análise de desempenho. Nosso treinador pode se dar ao luxo de abrir mão de atletas como Moisés e Edu Dracena, que precisam de mais atenção no preparo físico no início de temporada, porque tem outros atletas no elenco que suprem suas ausências.

O que aumenta ainda mais o otimismo é olhar para os possíveis adversários pelo Brasil e ver que todos têm problemas – alguns muito sérios. Vamos dar uma rápida olhada, superficial, nas outras grandes camisas do futebol brasileiro:

Fluminense Perdeu todos os seus principais atletas, não teve nenhuma reposição à altura e mais uma vez recorre à base e a gringos que falam espanhol de procedência duvidosa.

BotafogoAcordou do sonho de 2017 e voltou à realidade: um time sem nenhuma qualidade, agora treinado pelo ex-auxiliar do ex-auxiliar. O raio não caiu no mesmo lugar de novo e o trabalho é fraco.

InternacionalAinda se recupera do trauma da Série B com um time cujo maior astro é o eterno D’Alessandro e a esperança de gols alterna entre Damião e Pottker.

SPFCTroca de jogadores como quem troca de lingérie. A diretoria se esconde atrás de ex-ídolos, o time não tem identidade alguma e mesmo com ingressos baratos o Morumbi voltou a ficar vazio.

Atlético-MGA administração das trocas no elenco nesta janela foi muito duvidosa. Perdeu totalmente a pré-temporada ao apostar em Oswaldo para demití-lo no começo de fevereiro. Está muito atrasado.

SantosDepois de três anos, a base do time foi desmontada. Bruno Henrique tem uma lesão séria no olho e a esperança é num moleque que se preocupa mais com as sobrancelhas do que com jogar bola.

VascoFaz um começo de temporada consistente – mas a qualidade do elenco e o pesadelo eterno na política interna não permitem sonhos muito altos.

SCCPPerderam os dois jogadores mais importantes do time e não conseguiram reposição. Situação financeira segue dramática e o presidente recém-eleito é suspeito de fraudar o processo.

GrêmioAinda não começou a temporada, vem jogando com o time B enquanto os titulares descansam do final de ano puxado. Luta para manter Arthur e Luan, pilares da conquista da América. Se perdê-los, cai muitos degraus.

FlamengoMudou pouco em relação ao ano passado mas parece ter poucas ambições – os bons resultados no risível Campeonato Carioca tiram o foco da inércia do comando. A falta de estádio próprio segue sangrando os cofres do clube.

CruzeiroDe todos os adversários, é o que tem mostrado o melhor futebol. Mas a administração financeira, segundo relatos, é uma bomba-relógio. E ainda por cima tem o Egídio como titular.

Vamos com calma…

É claro que alguns desses clubes também tem muitos pontos fortes, sobretudo os que foram posicionados mais abaixo na lista. E nós também temos nossos problemas que ainda precisam ser resolvidos.

Sabemos que no futebol as coisas mudam muito rápido. Às vezes, basta um fato novo para desencadear uma cadeia de eventos negativos difícil de reverter. E o inverso, para os adversários, também é verdadeiro.

E, mais importante que tudo, sabemos que futebol se resolve lá dentro do campo.

Mas que as coisas parecem estar muito favoráveis a um ano plenamente verde, isso parece. Se você fosse um torcedor de outro time e fosse apontar superficialmente os pontos fracos do Palmeiras, como fizemos acima, eles provavelmente não existiriam.

Conhecemos nossos problemas porque acompanhamos o Palmeiras de perto. É perfeitamente possível pontuar que eles são mais administráveis do que os de qualquer outro clube mencionado. Após as cinco rodadas iniciais, sem subir no salto, podemos nos dar o direito de sonhar alto com 2018.

Bom carnaval a todos.


Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.

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