Planejamento: Palmeiras tem uma lacuna no elenco aparentemente esquecida

Alexandre Mattos
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

O Palmeiras mais uma vez sai na frente dos adversários e está prestes a fechar o elenco para 2018, bem antes do Natal. Algumas indefinições ainda travam o processo, na defesa e no meio-campo.

Na retaguarda, o destino de Mina é o que vai deflagrar ou não uma nova contratação na zaga, tudo depende do que for definido entre Palmeiras e Barcelona – o Dortmund teria também entrado na parada. Da Alemanha também vem outra interrogação – a contratação de Rafinha ainda se arrasta. E do lado esquerdo, Vítor Luís ainda não foi oficializado como opção para a lateral esquerda – um setor que tem apenas Diogo Barbosa e Michel Bastos certos, neste momento.

Ricardo Goulart e Gustavo Scarpa são jogadores que negociam com o Palmeiras, que, no entanto, encara os atletas corretamente como negócios de oportunidade. São jogadores de qualidade indiscutível, mas que não preenchem nenhuma grande lacuna no elenco. O que o Palmeiras precisa mesmo, do meio para a frente, é de um NOVE-NOVE para brigar com Borja.

Para tentar visualizar melhor as opções que Roger Machado pode ter do meio para a frente e justificar essa necessidade, que se não for preenchida pode ser um daqueles erros de planejamento de elenco que cornetamos aos finais das temporadas, é preciso esmaecer o conceito de posição fixa que fomos condicionados a criar assim que começamos a nos afeiçoar a futebol.

Tarja na testa

Borja
Marco Galvão/Estadão Conteúdo

Do meio para a frente, hoje, só parece ser possível colocar tarja na testa de jogador que faz três funções: o volante-destruidor, que desgraçadamente recebeu a pecha de “brucutu”, o CINCO-CINCO; o meia-armador clássico, que joga por dentro e distribui o jogo, o DEZ-DEZ; e o centroavante tradicional, aquele que joga enfiado, segurando os zagueiros, cujo habitat é a área: o NOVE-NOVE.

Quem não se encaixa exatamente nessas definições, orbita em torno de mais de uma função, que podem ou não ser as mencionadas. Para ilustrar melhor esse raciocínio, nada mais adequado que encaixar as peças de nosso elenco atualizado nesse mapa. Os jogadores estão divididos em funções, da menos para a mais ofensiva, de acordo com suas características de jogo:

  • CINCO-CINCO: Felipe Melo e Thiago Santos;
  • Volantes mais leves, com alguma característica de armadores, mais defensivos que ofensivos: Bruno Henrique e Jean;
  • Meias com características de marcação, que compõem bem uma linha defensiva, mais ofensivos que defensivos: Tchê Tchê e Moisés
  • DEZ-DEZ: Lucas Lima e Raphael Veiga
  • Meias que também jogam por dentro, mas com mobilidade e capacidade de jogarem abertos: Guerra, Hyoran e Allione
  • Pontas, jogadores de velocidade que partem para cima do adversário e criam espaços; eventualmente também caindo por dentro: Dudu, Keno, Roger Guedes e Artur
  • Falsos noves, jogadores de definição mas com bastante mobilidade – Willian Bigode e Deyverson
  • NOVE-NOVE: Borja

Com essa variedade de posições e “meias-posições”, qualquer treinador pode idealizar as combinações e assim dispor de um bom leque de esquemas a serem usados conforme os adversários e as situações específicas de cada jogo. Notem que, mesmo sem sem Scarpa e Goulart, estamos com pelo menos duas boas opções em cada uma delas

Como exemplo, numa eventualidade de perdermos Lucas Lima e Raphael Veiga para o mesmo jogo, podemos recorrer sem grandes prejuízos a Guerra, Hyoran ou a Moisés. O mesmo raciocínio se aplica a qualquer outra função – menos uma: se for necessário, pelas características do adversário, jogar com um centroavante enfiado, forte, que aguente os trancos da zaga, só temos um no elenco – Borja. Numa lesão, convocação, ou suspensão, Roger Machado ficará vendido.

E se…?

Borja
César Greco / Ag.Palmeiras

Deyverson, já vimos, pode ser uma boa opção no ataque, mas não faz a função de jogador de força que por vezes pode ser a saída para furar uma defesa. O mesmo podemos dizer de Willian Bigode. Os dois são os que mais se aproximam de um NOVE-NOVE no elenco.

Borja é um jogador que continua merecendo nossa confiança. Passado o período de adaptação ao futebol brasileiro, bem diferente do que ele jogava na Colômbia, existe a expectativa que, bem servido por garçons do nível de Dudu e Lucas Lima, ele finalmente arrebente de fazer gols. Mas… e se não acontecer?

Pensando além das posições tradicionais, focando um pouco mais nas funções que cada atleta pode exercer, é nítida essa lacuna no elenco. Borja precisa de alguém que o substitua nas eventualidades e que lhe faça uma sombra real. E o Palmeiras precisa de um jogador pronto para assumir a titularidade no comando de nosso ataque por toda a temporada caso o colombiano desgraçadamente não engrene.

Temos que confiar e dar moral a Borja, mas no planejamento, não podemos nos basear no que torcemos para acontecer; precisamos nos antecipar às possibilidades para não ter que sair correndo no meio da temporada e contratar um NOVE-NOVE que estiver sobrando no mercado, como aconteceu em 2017. Abre o olho, Mattos!


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Projeto do Palmeiras restabelece a ordem natural e histórica do futebol

Apresentação de Roger Machado
Fellipe Lucena‏/Lancepress!

Com apenas três contratações confirmadas e mais duas ou três, no máximo, a serem anunciadas, o Palmeiras vai começar o ano com um elenco bastante coeso. Os atletas que entrarão em 2018 têm bagagens muito distintas, mas a maioria absoluta terá duas coisas em comum: qualidade técnica e tempo de casa, o que já faz do Palmeiras, de saída, um dos times de destaque do ano que vem.

Nossa torcida ainda traz vícios de uma época não muito distante, quando a solução para um time cujos resultados estavam aquém do esperado era “mandar todo mundo embora” e contratar, contratar, contratar. Essa tendência se tornou mais proeminente com a mal-interpretada baciada de 2015 – um movimento necessário para o momento estratégico do Palmeiras. Poucas vezes uma torcida ganhou tantos presentes de uma vez só.

Quando se troca praticamente todo o elenco, como era necessário acontecer com o de 2014, parte das contratações naturalmente não vingam e novas reposições são necessárias. Isso causou novos ciclos em 2016 e 2017 – não tão intensos como o de 2015, mas suficientes para manter nossa torcida mimada, à espera de novos e numerosos presentes a cada ano que começa.

A falta de títulos nesta temporada decorreu muito mais de erros estratégicos do que da qualidade do elenco, com uma ou outra ressalva – que já foram ou estão em vias de serem corrigidas. Iniciaremos 2018 com poucas, porém precisas contratações. O torcedor que vive inebriado por presentinhos novos, ainda mais por ser bombardeado pela imprensa sobre o demonizado poder financeiro do clube, vai ter que se contentar com uma quantidade menor para esta janela. Poucos, mas bons, ou ótimos – esperamos.

Uma nova fase

Fernando, do sub-20Fechando esse ciclo inicial, uma nova etapa que envolve a integração com a base deve ser iniciada e intensificada nos próximos anos. Paralelamente à recuperação do elenco, nossas categorias de base evoluíram assustadoramente – os títulos conquistados a rodo nesta temporada são apenas consequências de um trabalho magnífico que começou em 2013 e que agora rende seus frutos.

Boa parte das contratações com o perfil “jovens de destaque que podem crescer e se valorizar”, como Rodrigo, Erik e Hyoran, serão substituídas por promoções de meninos formados em casa, que já cresceram com o DNA do clube e que poderão evoluir para se tornarem titulares, com potencial real para se tornarem atletas dominantes.

Ao mesmo tempo, nota-se que essa integração vai ao encontro de um conceito maior ainda: o do desenvolvimento de uma identidade de longo prazo para o futebol do clube, já abordada neste post.

Essa é a tendência enquanto este projeto do futebol palmeirense, que entra em seu quarto ano de execução, estiver em vigor. Independiente de pessoas – presidentes e diretores passam; o clube permanece – o que importa é o conceito, que precisa estar cada vez mais enraizado e em constante adaptação às evoluções do mercado e, principalmente, do esporte.

Restabelecendo a ordem natural das coisas

TorcidaNossos torcedores, sobretudo os que estão abaixo da casa dos 30 anos, ainda não se acostumaram com isso. Tendo visto pouco ou nada dos times vencedores da década de 90, amam o Palmeiras mas cresceram assistindo a rivalidade entre SCCP e SPFC aumentar enquanto nosso time foi ficando de lado, em segundo plano – uma espécie de Santos – e a perda do respeito se espalhou por outros estados. O palmeirense, em pleno surgimento das redes sociais, virou uma espécie de primo revoltado da família.

Felizmente a ordem natural das coisas está voltando a se restabelecer. O Palmeiras, salvo dois hiatos assustadores nas décadas de 80 e 2000, retomou seu histórico posto de protagonista – e pela primeira vez, na era da internet e das zoações sem limites. As provocações, que antes eram quase em tom de piedade, novamente trazem embutidas a inveja de quem queria estar em nosso lugar. E quem também voltou a seu lugar histórico na escala foi o SPFC, que cada vez mais clona o que o Palmeiras fez de pior nos anos de dificuldades.

Nossa torcida – principalmente a ala mais jovem – só precisa aprender a viver nesta nova-velha realidade, entendendo exatamente como os rivais hoje nos enxergam e equilibrando a elevação da auto-estima com o repúdio à soberba. É questão de tempo.


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Amanhã é dia de festinha de criança, não de balada

Sub-15Amanhã será um dia histórico para a base do Palmeiras. Disputaremos finais em todas as categorias e duas delas serão no Allianz Parque (confira o roteiro completo aqui).

Mais de 20 mil ingressos gratuitos foram retirados na bilheteria do Allianz Parque. Os meninos vão jogar para uma enorme multidão. Muito jogador profissional treme, imaginem crianças de dez anos.

No jogo válido pela final da Copa do Brasil Sub-17, na última quarta-feira, a torcida do SCCP xingou nosso goleiro o tempo todo. Não entendem que a base é diferente. Fazer pressão, ser um jogador a mais fora das linhas, é válido quando o objetivo é ganhar, ser campeão. Amanhã, não se tratará disso. Ir ao Allianz Parque amanhã só tem um significado: fazer uma grande festa palmeirense, de apoio a uma molecada, que tem que sair do estádio feliz da vida não importa o que aconteça dentro de campo. Ninguém pode ir ao estádio com o objetivo de se sentir campeão, de projetar a eventual vitória dos meninos em si próprio, como muita gente faz com o futebol profissional.

Estamos falando de base. Meninos que ainda estão aprendendo a competir. Sequer dominam os fundamentos do esporte. Precisam de apoio, do início ao fim. A cada passe certo, a cada drible, um aplauso. Mas as palmas serão mais importantes ainda nos erros.

O tratamento aos adversários é igualmente importante. Não é porque estarão do outro lado vestindo camisas do Santos e do SPFC que esses meninos merecem o mesmo tratamento bélico que dedicamos aos profissionais. Ao contrário, eles também merecem aplausos – até se receberem o troféu de campeões. (obs – não se sentir à vontade aplaudindo alguém vestindo essas camisas é perfeitamente compreensível. Neste caso, o silêncio é o mais adequado)

Nem o juiz deve ser xingado. Amanhã é uma festinha de criança. Não podemos nos comportar como se estivéssemos numa balada.

Levar o jogo para o Allianz Parque foi uma atitude bacana da diretoria, que proporciona a muita gente a chance de conhecer o estádio e de fazer uma bela festa, mas o sucesso dessa iniciativa depende muito da educação de nossa torcida. Vamos mostrar a todos o que sempre falamos no dia-a-dia: somos muito melhores que a torcida do SCCP, sabemos nos comportar.

Desde já, parabéns ao departamento de base do Palmeiras pelo brilhante trabalho e a todos meninos!


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Roger Machado é o técnico a ser demitido pelo Palmeiras em 2018

Roger MachadoO título, claro, é uma provocação. No decorrer desta rápida leitura vocês entenderão o porquê.

O Palmeiras acertou com Roger Machado para dirigir o time na temporada 2018. A informação é do repórter Tossiro Neto, do portal globoesporte.com, e encerra uma novela que ameaçava se arrastar e atormentar nossa ansiosa torcida.

Muito mais importante que amainar os ânimos entre os palmeirenses, é claro, foi definir o treinador para assim dar um norte nas contratações que devem ser feitas para reforçar o time.

Com o treinador definido, os jogadores a firmarem contrato com o Palmeiras preencherão as necessidades técnicas de acordo com o planejamento tático que Roger vai implantar. Mas isso é pouco, como veremos a seguir.

Perfil do novo treinador

Roger MachadoRoger Machado mostrou em seus dois trabalhos mais relevantes – Grêmio (entre maio de 2015 e setembro de 2016) e Atlético (entre novembro de 2016 e junho de 2017) algumas qualidades interessantes:

  • Treinos curtos e intensos
  • Jogo ofensivo, propositivo
  • Rapidez na recomposição das compactas linhas defensivas e nas saídas para o ataque
  • Amplitude das linhas com a posse de bola, alargando o campo
  • Não se prende a um esquema específico

No Grêmio, em 2015, usou o 4-2-3-1, com Luan jogando com falso 9 – foi o responsável por compreender as características do menino e lançá-lo para o futebol com sucesso. O Grêmio, com um time de moleques comandado por Douglas Pança-de-Cadela, chegou em terceiro lugar no Brasileirão daquele ano.

No Atlético, preferiu o 4-1-4-1, com Rafael Carioca flutuando entre as duas linhas e Danilo, lateral de origem, formando a linha de 4 mais alta junto com Elias, Cazares e Otero – o melhor momento do Atlético na temporada.

Um de seus maiores problemas em ambos os trabalhos, de onde saiu com aproveitamento em torno de 60%, foi a fragilidade defensiva nas bolas aéreas. Para que seu trabalho apoiado em alta intensidade surta efeito, o físico dos atletas é bastante exigido – assim como era com Cuca, por razões diferentes.

Um clube que não sabe o que quer

Alexandre Mattos e Mauricio GaliotteO Palmeiras bateu na porta de Abel Braga, mas acabou ficando com Roger Machado. Perfis tão distintos sobre a mesa mostram que a diretoria está completamente perdida em relação ao que pretende para o Palmeiras no ano. Tudo o que sabe é que trará um treinador competente e que acredita em seu trabalho. A escolha foi boa, mas o clube não sabe bem a razão.

É essa falta de ambição para se criar uma filosofia de trabalho que faz com que, na primeira ou segunda oscilação – e elas virão – o técnico seja o bode expiatório de mais uma crise. Não importará se Roger, que é uma boa escolha, ainda estiver queimando as pestanas em meio ao desenvolvimento tático do time, algo que demanda muitos, muitos meses: se não vencer o Paulista provavelmente será um Eduardo Baptista reloaded: demitido, porque o Palmeiras não o contratou para executar um projeto do clube, e sim um projeto idealizado por ele mesmo que hoje provavelmente está apenas na fase de rascunho.

Por algumas circunstâncias – por exemplo, a conquista do título paulista – talvez sobreviva e chegue até a Copa do Mundo, mas se o time não estiver dando chocolate nos adversários em meados de agosto ou setembro, bastará um tropeço em casa contra um pequeno após uma derrota num clássico e a demissão se consumará.

Fica aqui registrado o desejo profundo para que a “profecia” não se concretize. Que Roger tenha tempo para implantar sua filosofia e respaldo da diretoria para, no mínimo, chegar até o fim do ano, para só então ser reavaliado – não em função de conquistas de títulos, mas do estabelecimento de um padrão convincente de jogo, em busca do tão sonhado resgate da identidade para nosso clube.

Seja bem-vindo, Roger Machado.

Sem uma identidade definida, pouco importa quem será nosso novo técnico

Alberto Valentim
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

O resultadismo continua dando as cartas no futebol brasileiro. Diretoria, técnicos e jogadores servem ou deixam de servir contando apenas com os últimos resultados – às vezes, apenas o último.

Alberto Valentim, de forma corajosa, afirmou ontem após a partida que não quer mais seguir como auxiliar e que pretende seguir a carreira como técnico principal. É pouco provável, justo após uma derrota para o Avaí, que seu desejo seja atendido no Palmeiras.

O problema maior para Valentim é que, embora o desempenho ofensivo esteja bastante satisfatório, a defesa segue tomando muitos gols e não dá segurança alguma ao torcedor. A linha alta proposta pelo treinador tem sido presa fácil até para ataques pífios como o do Sport e o do Avaí, que havia marcado apenas 25 gols em 35 jogos. E não há sinais claros de evolução, ao menos por enquanto. A seu favor, Alberto pode argumentar que não teve tempo para isso.

Um time sem identidade em campo

A questão maior é que o Palmeiras quer definir seu técnico, mas ainda não definiu exatamente o que quer. 4-1-4-1, Porco Doido, linha alta – são todos esquemas ou detalhes circunstanciais que não obedecem a escola alguma. O Palmeiras não tem uma identidade futebolística.

Após atingir a excelência fora de campo, com alto poderio econômico e instalações completíssimas, o clube ainda não se estabeleceu como escola de futebol. O time profissional é mutante: joga com a cara de seu treinador, que costuma durar, em média, cinco meses.

Essa situação contrasta, por exemplo, com a do nosso maior rival, que mesmo com problemas financeiros tem uma identidade de campo muito bem definida, implantada por Tite em 2010 e adaptada por seus sucessores – Mano Menezes, o próprio Tite, de volta, e Fábio Carille. Cristóvão Borges tentou mudar essa identidade e teve vida curtíssima. Pode-se questionar a beleza dessa fórmula em campo, mas não sua eficiência. Mesmo mudando os técnicos e com jogadores de nível técnico apenas satisfatório, tendo Tite como referência o time chega aos resultados.

Tempo e respaldo

Coletiva Eduardo Baptista Uruguai
Reprodução

É muito claro que os resultados serão consequência da implantação dessa identidade. Para isso, é necessário tempo. Mesmo com os resultados não aparecendo, o técnico precisa ser mantido até essa identidade se consolidar.

Como exemplo, temos Eduardo Baptista, que tinha um desempenho superior a 60% e estava, lentamente, implantando um sistema de jogo que poderia hoje estar bastante sólido. Mudamos o treinador após a eliminação no Paulista, no desespero de ganhar taças ainda em 2017. Perdemos tempo de desenvolvimento de identidade e os campeonatos não vieram do mesmo jeito.

Não há certezas no futebol. Eduardo Baptista poderia ter feito um excelente trabalho no longo prazo e poderíamos estar com um time voando neste final de ano – possivelmente ganhando mais um Brasileirão. Ou ele poderia continuar empacado na procura do equilíbrio entre ataque e defesa e, quem sabe, estaríamos lutando pelas últimas vagas da primeira fase da Libertadores – ou mesmo pior. Jamais saberemos.

O que está claro é que para nos estabelecermos como grande potência do futebol brasileiro, precisamos de uma identidade dentro de campo para representar todo o poderio conquistado fora das quatro linhas. Uma identidade que deve servir como espelho até mesmo para as categorias de base. E isso só virá quando um treinador tiver tempo para implantar essa identidade. Às vezes ela vem rápido e com conquistas logo de cara. Às vezes, demora mais. E às vezes não vem e é preciso recomeçar do zero – o ponto onde estamos neste exato momento.

Quem, então?

“Cascudo”, “moderno”, “paizão”, “estudioso”, “disciplinador” – os adjetivos que dividem os técnicos em castas são patéticos. O Palmeiras precisa de um profissional que defina uma identidade para o clube, de preferência condizente com os grandes times de nossa História e que tenha respaldo da diretoria, que precisará resistir politicamente às pressões estúpidas de conselheiros que ainda enxergam futebol como na década de 80, e da torcida, que vai na onda de uma imprensa que não pensa muito diferente das múmias que vagam pelas alamedas. Mas quem?

O nome do treinador não é tão importante assim. Para definir essa identidade, o Palmeiras pode implementar um diretor técnico, um cargo a ser ocupado a longuíssimo prazo por um profundo conhecedor do futebol, que seja a linha-mestra para os treinadores que terão seus ciclos no clube – não de cinco ou seis meses, mas de dois ou três anos. Uma figura que seja a referência para a montagem dos elencos e para a forma de montar o time em campo. Algo semelhante ao que Paulo Autuori faz no Atlético-PR, ou ao que Tite, mesmo sem cargo formal, segue sendo no SCCP. Com esta figura definida, a importância do técnico será bem menor – assim como a pressão sobre ele.

Nomes, nomes, nomes!

Segundo a cultura resultadista vigente, dentre todos os nomes hoje só um técnico presta: Fábio Carille, que até o Derby era duramente contestado pela torcida rival. Pelas circunstâncias, é impossível tirá-lo do rival – e mesmo que fosse viável, não teria aceitação por aqui sem um período prévio rodando por outros clubes, para tirar a casca preta e branca de sua pele.

Caso ganhe a Libertadores, Renato Portaluppi se transformará, como uma gata borralheira, num técnico de ponta – ele, que até outro dia, era folclórico, falastrão e boleirão. Ganhando, não sai do Grêmio nem por decreto; perdendo, o relógio baterá doze vezes e ele voltará a ser o que sempre foi.

Reinaldo Rueda é um profissional muito interessante que atravessa problemas no Flamengo. O colombiano vem enfrentando bastante resistência dos atletas devido às diferenças culturais. Se sobreviver à falta de resultados – a pequena Copa Sul-Americana parece ser sua tábua de salvação – pode avançar no projeto de implantação de uma identidade ao time carioca, que com seu bom elenco tem condições de se estabelecer com uma das maiores forças do nosso futebol em 2018.

Seja Rueda, ou qualquer outro nome, virá cercado de desconfiança pelo peso de não ter ganho nada relevante em 2017.  Luxemburgo, Felipão, Carpegiani, Jair Ventura e Abel – nenhum dos cinco nomes mais sugeridos por nossa torcida consegue chegar a 30% de aprovação – o que significa que terão resistência de mais de 70%, assim como Alberto Valentim. Quem quer que seja o escolhido, vai pegar uma bucha de respeito e precisará de muito respaldo para tentar implantar uma identidade ao Palmeiras.

Se quisermos realmente nos transformar no bicho papão do futebol brasileiro, nosso próximo treinador precisará de tempo. Nem que isso tenha como custo ser eliminado do campeonato paulista pela Ferroviária, num cenário em que o processo de ajuste esteja lento e que a enfrentemos numa tarde infeliz – como aconteceu em Campinas, no último domingo de Páscoa. O objetivo maior, neste momento, é estabelecer a identidade.

Alberto Valentim está à frente de todos os outros, porque já começou o trabalho. Começou errado, pelo ataque, e está com problemas na defesa – mas com o tempo, tende a acertar. Tem o apoio declarado do elenco e tem mais chances de conseguir resultados rápidos que alguém que comece do zero em janeiro, o que lhe daria mais tranquilidade quando as dificuldades reais da temporada começarem a aparecer, em meados de março. Além disso, não é filho de alguém que a torcida não gosta nem tem o fantasma de nenhum ex-técnico o assombrando. Parece ser a melhor escolha.

Mas seja quem for o eleito, será muito melhor se esteja subordinado a alguém em nível de diretoria que pense o futebol do clube, que defina a linha-mestra e que monte o elenco de acordo com ela. E esse alguém, parece claro, não pode ser Alexandre Mattos, cujo talento a ser explorado é seu fabuloso tino comercial. Sem uma identidade definida, sem tempo para implantação e sem respaldo, pouco importa quem será nosso novo técnico. Ele cairá na primeira sequência negativa ou eliminação, e todo nosso poderio estrutural e financeiro permanecerá subutilizado.


Verdazzo é patrocinado pela torcida do Palmeiras.

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