Abel Ferreira versus os puladores de polichinelo

Na parte final do século XIX, um jogo de caráter extremamente intuitivo foi inventado na Europa e algumas décadas depois cruzou o Atlântico. Virou febre na América do Sul. No Brasil, especialmente, se desenvolveu de forma notável, graças a um inexplicável talento dos locais para tratar a bola com os pés.

Teses antropológicas e sociológicas tentaram explicar por que o Brasil se tornou o “País do Futebol”. Depois de um período de viralatismo que durou até o início da década de 50 e que foi superado graças à conquista da Copa Rio por um certo clube brasileiro, o país dominou o esporte por aproximadamente meio século, praticamente imbatível. Só perdia para si próprio, quando a desorganização e os conflitos internos sabotavam a competitividade do time nacional.

A brincadeira se tornou tão apaixonante que foi natural que os meios de comunicação de massa se aproximassem cada vez mais – e com isso, um mercado rudimentar passou a ficar cada vez mais sofisticado e a movimentar uma quantidade de dinheiro cada vez maior.

Onde tem dinheiro, tem pesquisa e tem estudo. O preparo físico evoluiu, regras novas alteraram a dinâmica do esporte. E os inventores da brincadeira, cansados de serem derrotados, seguiram estudando para virar o jogo.

Enquanto isso, o País do Futebol permanecia deitado em berço esplêndido, coberto de louros e certo de que o talento natural faria com que o que já havia acontecido cinco vezes continuaria se repetindo misticamente por tempo indeterminado. Até que veio o Mineirazo. SETE A UM.

O Brasil finalmente acordou do sonho, percebeu que tinha ficado para trás, se organizou e tirou a diferença, certo? Claro que não. O simplório povo tupiniquim, conduzido por comunicadores atônitos, preferiu apontar dedos, procurar culpados, e seguiu sem buscar soluções.

A falta de compreensão da nova versão do jogo era latente; atletas brasileiros com experiências recentes em campos europeus alertaram para a diferença brutal entre os conceitos de futebol praticados. E alguns clubes decidiram tentar quebrar um tabu e trazer europeus para o país – desde que falassem português ou, pelo menos, espanhol.

Dois deles, Jorge Jesus e Abel Ferreira, cada um a seu modo, arrebataram os corações das torcidas de Flamengo e Palmeiras. O primeiro já tomou o caminho de volta sem deixar legado algum – ao contrário, plantou um sebastianismo que segue sufocando o clube carioca; o segundo segue em sua trajetória primorosa na Academia de Futebol e tenta passar suas mensagens não só para o sucesso do Palmeiras, mas para a evolução do futebol brasileiro.

Contagem Regressiva: Abel sempre parece ter um plano.
Cesar Greco

Abel é uma figura ímpar. Sem conhecê-lo pessoalmente, podemos, através de suas atitudes e discursos, tentar imaginar sua personalidade. E o que vemos remete a uma pessoa extremamente racional e focada, obcecada por processos, que alia o conhecimento à experiência como atleta, o que lhe deu a chance de desenvolver talento para liderança.

O resultado é um treinador que, em pouco mais de cinco anos de carreira, alcançou no Brasil em menos de um ano e meio o que muitos medalhões seguem perseguindo há mais de 30 anos.

Sua visão macro lhe permite entender facilmente o cenário. E o que vê, sete anos depois de uma humilhação sem precedentes, são brasileiros inertes, ainda apontando dedos uns para os outros no meio de um picadeiro, cercados por uma imprensa abobalhada. Deve ser uma visão muito pior que a que Cabral encontrou há cinco séculos.

Tudo o que Abel parece querer é repartir suas ideias para ajudar a transformar o meio em que vive atualmente em algo mais próximo do que ele já experimentou e que parece perfeitamente aplicável. O português fala de tática, de processos, de organização, de gramados, de calendário, de combate à violência.

A imprensa brasileira, sobretudo a facção menos inteligente e mais nociva, que anda com um pé na canoa do jornalismo e outro na do clubismo, reage de forma agressiva, demonizando suas divagações, tratando-as como insultos vindos de quem teria sangue de colonizador. Até de supremacista, Abel Ferreira já foi chamado.

Abel Ferreira conversa com o elenco do Palmeiras durante treinamento, antes do início do treino tático e das atividades físicas, na Academia de Futebol.
Cesar Greco

Abel, como boa parte dos técnicos europeus de ponta, parte de um princípio simples: o objetivo do jogo é marcar mais gols que o adversário. Para isso, existem o sistema defensivo, o sistema ofensivo e as transições; o jogo com e sem a bola. Os dois sistemas são indissociáveis, influenciam um ao outro. Assim, uma defesa forte é tão importante quanto um ataque forte. A forma de jogar vem da característica dos jogadores.

O catenaccio, por aqui conhecido como “retranca”, foi um método eficaz de se conseguir resultados há algumas décadas, quando polichinelos eram usados para manter os jogadores em forma. Era um sistema predominantemente defensivo, físico, desenvolvido para nivelar o jogo entre equipes com grandes diferenças técnicas. Pouco se assemelha aos modernos sistemas do futebol atual.

A capacidade de compreensão de futebol desses comunicadores é semelhante à eficácia de polichinelos na preparação física. O máximo que conseguem fazer é reduzir um futebol extremamente eficiente a uma “retranca”. Criticam o modo como o Palmeiras de Abel vence usando parâmetros como “beleza” – ou a falta dela. Isso sem falar na sorte, já que além de vencer todos os jogos em lances fortuitos, ainda tem o vento a seu favor.

A imprensa tem um papel a cumprir para melhorar o futebol brasileiro – e não apenas os que falam com o público, mas principalmente os editores, que traçam a linha-mestra de cada redação. Por várias razões estruturais, infelizmente esse parece um desafio que poucos parecem aceitar. O público brasileiro, conduzido por comunicadores limitadíssimos, segue discutindo futebol reduzindo a pauta a “ofensivo x defensivo”. É o “jogo falado” a que se referiu Abel, bem distante do “jogo jogado”.

O que podemos fazer para ajudar a reverter esse cenário está na ponta de nossos dedos: o mouse, o controle remoto, a tela do celular. Escolha bem quem forma sua opinião. Se o profissional reduz Abel Ferreira a colonizador, retranqueiro, supremacista, ou outro adjetivo desse naipe, fuja. Se os números desses puladores de polichinelos despencarem, os verdadeiros profissionais, os que estudam futebol e ainda se preocupam em melhorar a discussão em torno do esporte, ganham espaço.

E o Palmeiras que trate de absorver ao máximo o conhecimento de Abel Ferreira para não repetir os erros que o Flamengo cometeu. Quando Abel seguir seu caminho, seu legado precisa ser aproveitado e nosso clube tem que estar pronto para seguir em frente. Algo está sendo feito nesse sentido?


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Cortes de Crias da Academia do Mundial devem ser divisores de águas em suas carreiras

O Palmeiras anunciou na manhã deste domingo a lista dos 23 jogadores que serão inscritos na FIFA para a disputa do Mundial de Clubes. Como a aritmética é implacável, seis dos 29 atletas em Abu Dhabi tiveram que ser excluídos da competição – coincidentemente, todos são Crias da Academia.

O primeiro cortado, com antecedência, foi Vinicius Silvestre, cujo teste de contraprova acusou positivo para Covid-19. Mateusão viajou para os Emirados Árabes para preencher a terceira vaga de goleiro.

Com a liberação de Piquerez, que negativou o teste de Covid-19 e viajou junto com Mateus, Vanderlan foi o corte mais óbvio. Nem o próprio jogador deve ter ficado surpreso.

Giovani viajou para cobrir a falta de Gabriel Veron, que também positivou o teste antes mesmo do embarque, mas acabou sendo preterido. O camisa 7 da Copinha também não deve ter alimentado grandes esperanças.

O corte de Renan não chegou a ser exatamente uma surpresa. Nos jogos pelo Paulista, o camisa 3 claramente perdeu terreno para Murilo, recém-contratado.

Outros dois reforços ganharam as vagas neste breve período de pré-temporada: Jailson e Atuesta. O primeiro era uma aposta forte até por poder ser utilizado também como zagueiro. O colombiano agradou à comissão técnica. Assim, para completar o quebra-cabeças, foram excluídos Patrick de Paula e Gabriel Menino.

Ponto de inflexão nas carreiras das Crias da Academia

Crias da Academia Gabriel Menino e Patrick de Paula em voo para Abu Dhabi, onde o Palmeiras disputará o Mundial de Clubes
Fabio Menotti

Não deve ter sido fácil para Renan, Patrick e Menino absorver a notícia. Abel tem como um de seus pontos fortes a gestão do grupo e não existe a chance deles não terem tido uma conversa franca antes da divulgação ao público.

A dura decisão se relaciona com merecimento, seja por desempenho técnico, seja comportamental. Abel mencionou claramente em coletiva após o jogo contra o São Bernardo os critérios que seriam usados para a definição da lista.

“Os jogos antes do Mundial servem para mostrar o que temos de corrigir. Servem também aos mais jovens, que precisam entender que não pode haver brincadeiras e sim mais seriedade. Em todos os jogos estamos fazendo avaliações. O Jailson foi muito bem, teve muita vontade; por muitas vezes perguntam por que joga um e não joga o outro. Isso tem muito a ver com a mentalidade: se pensarem que são reservas, serão reservas. Os que pensam que podem estar entre os 11, jogarão.

O Atuesta foi muito bem. Os jogadores que querem ser titulares têm que falar dentro das quatro linhas e o Atuesta apresentou um bom jogo. Tanto ele quanto o Jailson são atletas que brincam pouco e entregam muito. É isso que tem que fazer. São os jogadores que se escalam, não sou eu. Nós premiamos a meritocracia dentro do elenco e eles sabem os critérios das escolhas”.

Um dos efeitos colaterais desta situação é que canhões serão apontados para as jovens Crias em caso de mau resultado na competição. A pecha de indisciplinados está batendo em suas portas e sabemos como nossa torcida tem a necessidade de direcionar frustrações em alguém.

Não se sabe ao certo nem quem estava de “brincadeiras” na fala de Abel. É possível até que o recado já tenha sido absorvido e que os critérios para os cortes tenham sido puramente técnicos – os três, de fato, não fizeram bons jogos em janeiro e os novos contratados mostraram mais serviço.

Mais uma vez, nós torcedores temos que confiar em Abel para a gestão do elenco e não bancarmos os justiceiros. Seja por motivo técnico ou comportamental, a punição já veio, e foi pesada: ficar de fora do Mundial é uma pancada realmente forte. Não é necessário que nossos jovens valores fiquem marcados como baladeiros e indisciplinados pela torcida, como foi feito com Luiz Adriano, num contexto bem diferente.

Uma vez que já foram punidos, esses jovens estão num enorme ponto de inflexão em suas carreiras. Mais do que nunca, o momento é de orientação. Serem perseguidos por uma ala irracional da torcida é tudo o que eles não precisam – nem eles, nem o Palmeiras.

Renan (19), Patrick (22) e Menino (21) já prestaram serviços inestimáveis ao Palmeiras e merecem nossa confiança para seguirem suas carreiras com esta dura lição aprendida. Cabe a eles honrá-la. Todos estão de olho.


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Tiago Costa, auxiliar de Abel, explica a função de analista e comenta sobre o futebol brasileiro

Tiago Costa, auxiliar de Abel, explica trabalho como analista e comenta sobre o futebol brasileiro.
Reprodução

Integrante da comissão técnica de Abel Ferreira desde 2019, Tiago Costa falou também das duas conquistas de Libertadores

No dia 2 de novembro de 2020, Abel Ferreira desembarcou no Brasil, ao lado de seus auxiliares João Martins, Vitor Castanheira, Carlos Martinho e Tiago Costa, para comandar o Palmeiras.

Pouco mais de um ano depois, a comissão técnica de portugueses já conquistou uma Copa do Brasil e duas Libertadores (consecutivas: 2020 e 2021) com o Verdão, algo raro entre os times brasileiros.

“Os brasileiros perguntam com frequência se a gente tem noção dessa conquista. E nós, apesar de termos noção da importância do feito, não o sentimos nem o entendemos como um brasileiro sente esses títulos. Talvez daqui a muitos anos tenhamos consciência da real dimensão das conquistas”, relatou Tiago Costa em entrevista ao site da Universidade do Porto.

Analista de desempenho, Tiago trabalha com Abel Ferreira desde 2015, mas foi em 2019 que o observador técnico se fixou na equipe. Profissional cuja função é exercida fora do campo, o assistente explica como funciona seu trabalho.

“O Abel desenvolveu uma equipe de trabalho com tarefas muito bem definidas, como se fossemos uma empresa dentro de um clube de futebol. Cada um de nós tem a sua responsabilidade muito bem definida e isso ajuda muito”, iniciou.

“De forma resumida, a minha responsabilidade na comissão técnica do Mister Abel Ferreira é observar e analisar os adversários e, a partir dessa análise, propor uma estratégia inicial para o jogo que é discutida em reunião entre nós. Como todos os jogos e adversários são diferentes, cada jogo tem uma abordagem diferente e tem uma história única”, acrescentou.

Apesar da função crucial de analisar os oponentes, o auxiliar aponta outra particularidade que é considerada tão importante quanto a observação. “O exercício da minha profissão requer um equilíbrio muito grande entre aquilo que é a importância dada aos comportamentos do nosso próprio time e aos comportamentos do adversário”, revela.

“Os comportamentos do adversário não devem ‘pesar mais’ do que os comportamentos da nossa equipe. É uma filosofia nossa que a componente estratégica, que deve existir porque não jogamos sozinhos, não deve ser mais influente que os comportamentos do nosso time nem deve colocar em causa a nossa identidade de processos”, completa.

Tiago Costa comenta as adversidades impostas pelo calendário brasileiro

Abel Ferreira e sua comissão técnica: o auxiliar técnico Vitor Castanheira, o analista de desempenho Tiago Costa, o preparador físico João Martins e o auxiliar técnico Carlos Martinho, do Palmeiras, durante treinamento, na Academia de Futebol.
Cesar Greco

Questionado sobre as diferenças entre o futebol praticado no Brasil em comparação com o da Europa, Tiago destacou a enorme quantidade de jogos disputados para argumentar a dificuldade de se ter um jogo mais intenso no país. Além disso, comentou como esse problema afeta diretamente o seu trabalho.

“Não pode haver um jogo mais rápido enquanto os gramados não melhorarem ou enquanto os jogadores atuarem com recuperações incompletas, acentuando o risco de lesão. Além disso, o próprio estilo de jogo do futebol brasileiro é mais pausado, porque aqui a maioria dos atletas são educados a jogar com a bola no pé. Fazem poucos movimentos sem bola e de ataque ao espaço”, destacou.

“A minha área de atividade é bastante afetada por este contexto. Por exemplo, na Grécia ou em Portugal nós tínhamos [com frequência] microciclos de trabalho de 6 ou 3 dias para analisar um adversário. No Brasil, tenho 2 dias e às vezes um dia para analisar o oponente. Ou seja, tenho menos tempo para executar o mesmo trabalho. Como é possível? Por causa dos profissionais do Palmeiras, já recebo um filtro de informação grande sobre os nossos adversários. Depois tenho que ser muito mais preciso, seja na informação que procuramos do oponente, do que passo ao treinador e o que passamos aos atletas”, completou.

Palmeiras inspira confiança no Mundial, apesar da letargia da diretoria

Abel Ferreira comanda treino do Palmeiras visando a disputa do Mundial de Clubes 2022
Cesar Greco

A menos de 4 semanas da estreia no Mundial de Clubes, Abel Ferreira trabalha para colocar o elenco que jogará a competição em condições de disputar o título.

A competição nos Emirados Árabes acontece no início da temporada e não há a preocupação com o desgaste físico acumulado. Os atletas do Verdão chegarão a Abu Dhabi perto da condição atlética ideal – ainda estarão “na subida”, dado o retorno das férias.

Por isso, o time considerado titular por Abel pode ser usado sem maiores restrições; o uso intensivo do elenco não deve ser necessário no Mundial. São apenas duas partidas, a serem disputadas com muita intensidade, mas numa fase bastante amena do calendário.

Assim, a base do time que venceu a Libertadores, mantida, deve permanecer para a competição nos Emirados Árabes. Dos reforços confirmados até agora, Atuesta e Murilo aparecem com mais chances de serem incorporados aos titulares, dependendo da opção tática de Abel para cada jogo.

Pressa? Que pressa?

O diretor de futebol do Palmeiras Anderson Barros, concede entrevista coletiva, na Academia de Futebol.
Cesar Greco

Talvez seja a confiança na manutenção do elenco titular que venceu a Libertadores que faz com que a diretoria do Palmeiras não demonstre a agilidade no mercado que a torcida deseja.

Na defesa, Abel ainda sonha com um zagueiro canhoto para melhorar a saída de bola e aproveitar Piquerez mais avançado. Sem essa peça, já que Murilo é destro, o uruguaio tende a seguir ajudando na saída de 3, prejudicando a saída rápida pelo lado esquerdo. Para resolver a questão, Gustavo Scarpa pode seguir sendo usado pelo flanco, região onde o camisa 14, claramente, não rende todo o seu potencial. A boa notícia é que Jorge parece bem mais desenvolvido fisicamente que no ano passado e passa a ser mais uma opção.

No ataque, Rony segue sendo o favorito para figurar como peça mais avançada, mas Deyverson, na esteira do gol decisivo em Montevideo, e o novato Rafael Navarro, que conduziu o Botafogo a uma campanha de destaque na Série B, aparecem como opções.

Obviamente o torcedor espera ainda por uma grande contratação para ser o 9 do Palmeiras na temporada de 2022, mas a esta altura, parece pouco provável que uma negociação concretizada nas próximas horas renda o centroavante do Mundial, diante do tempo necessário para cumprir todo o processo de ambientação. É sabido que no futebol, às vezes, encaixes acontecem rápido – mas é bem raro.

Os novatos

Marcelo Lomba

Marcelo Lomba substitui Jailsão no elenco e sabe que sua função é estar à disposição quando Weverton, titular absoluto, estiver fora de combate.

Experiente e ainda em boa forma técnica, vai ser importante para o vestiário e também na lapidação de Vinicius Silvestre, que ainda sonha com a titularidade no futuro.

O zagueiro Murilo chegou para ser a opção de zagueiro pelo lado esquerdo, onde está acostumado a jogar, mesmo sendo destro.

Se tiver o passe com o pé esquerdo bem calibrado, pode tomar conta do setor. Mas vai precisar conquistar a confiança da comissão técnica e isso leva algum tempo.

Jailson

Jailson chega para fazer o “5” e ocupará a vaga de Felipe Melo no elenco. Além de ser um volante com características mais combativas, pode ser deslocado para a zaga numa eventualidade.

A falta de ritmo de jogo causada pela longa inatividade, no entanto, pode atrapalhar neste início de temporada.

Atuesta

O colombiano Atuesta aparenta ser um meio-campista completo, com noções de marcação, ocupação de espaços e capacidade para armar jogadas por dentro.

Tem tudo para ser o cara que dá o passe que quebra linhas, algo que Danilo ainda não desenvolveu por completo. Briga para ser o “8” do Mundial.

Bastante jovem, Rafael Navarro ainda não tem envergadura para satisfazer a torcida, que sonha com um anúncio de impacto.

No entanto, ser a principal peça numa campanha de destaque do Botafogo devia animar mais. O clube carioca já não tem porte para nadar de braçada nem na segunda divisão; se conseguiu, foi graças a um ponto fora da curva e os botafoguenses ainda lamentam demais sua saída para o Verdão. Dá para colocar algumas fichas no cara.

Confiança em ganhar o Mundial, apesar da letargia

O atual elenco certamente não dará conta de toda a temporada, mas pode ser perfeitamente capaz de trazer o bicampeonato mundial.

O entrosamento adquirido, o pleno entendimento das propostas do treinador, a forma física adequada e o foco ajustado são fatores que jogam a nosso favor. Não tivemos nada disso em 2021, no Catar. Todos os nossos principais adversários de 2022 têm problemas relacionados a alguns desses aspectos. Por isso, é bastante possível sonhar com mais uma conquista.

Mas isso não exime a diretoria de futebol de cobranças, mesmo se o título vier. Era obrigação do Palmeiras ter dado a Abel Ferreira o elenco completo já para o Mundial. Não se vence uma Libertadores toda hora; não se disputa um Mundial toda hora. É uma chance rara de conquistar um campeonato histórico que está sendo tratada como uma passagem trivial, apenas um campeonato a mais.

O tamanho da disputa merecia um esforço especial da diretoria. Fazer loucuras, cometer irresponsabilidades, nunca é o caminho correto, mas o diretor de futebol está no cargo há dois anos; a presidente já sabia que estaria eleita há tanto ou mais tempo e o trabalho não tem “apenas um mês”. Deveria haver planos de contratação para cada lacuna do elenco para entregar ao treinador o elenco completo no dia da reapresentação. As indefinições depõem contra a existência desse planejamento.

Que essa letargia da diretoria não nos custe uma chance de vencer mais um campeonato histórico. VAMOS PALMEIRAS!


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O maior beneficiado da fervura no mercado de treinadores é o Palmeiras

Cuca foi um dos treinadores mais intensos com passagens pelo Palmeiras neste século.
Cesar Greco

O mercado de treinadores ferve mais que o de jogadores nesta última semana do ano. As últimas notícias dão conta que Cuca pediu demissão do Atlético-MG e que o Flamengo, cujos diretores investiram as últimas semanas em tentativas tresloucadas (e fracassadas) de trazer de volta Dom Sebastião – ops, Jorge Jesus, estaria fechando com Paulo Sousa, treinador de trabalhos medianos.

Para bagunçar ainda mais o cenário, Jorge Jesus amanheceu por detalhes de ser oficialmente dispensado pelo Benfica, horas depois do vice-campeão da Libertadores desistir de sua contratação. Mas isso não quer dizer que o Flamengo não possa “desistir de desistir”, deixando Paulo Sousa na mão e recontratando seu amado “mister” – o que seria uma canalhice com o Sousa, que já se desgastou com a Federação Polonesa ao se demitir para assinar com os cariocas.

O Galo ganhou o Brasileirão e a Copa do Brasil, mas agora paga o preço de ter o instável Cuca como comandante. Sabemos, pelas duas passagens recentes pelo Palmeiras, que seu peculiar sistema de jogo traz resultados – mas o treinador não consegue fincar raízes, mesmo após trabalhos vencedores.

O comandante do ênea não consegue manter o vestiário em harmonia, além de ter questões pessoais – família e/ou saúde – sempre interferindo em sua carreira. Isso acaba por caracterizá-lo como um técnico-bombeiro, para projetos de curto prazo – o que é péssimo para sua imagem num mercado que finalmente começa a compreender que a longevidade do treinador é um fator determinante para o protagonismo.

Além de Atlético e Flamengo

O Palmeiras passou por cima de Atlético e Flamengo na Libertadores e os dois rivais parecem ser os principais adversários também para a próxima temporada. Mas existem ainda os coadjuvantes que têm potencial para incomodar.

Inter, SPFC e SCCP parecem ter projetos mais modestos para 2022. Os gaúchos estavam próximos de acertar com Paulo Sousa quando tomaram um passa-moleque do Flamengo e tiveram que recorrer ao plano B, o uruguaio Alex Medina. Nossos rivais paulistas insistem em técnicos de segundo escalão, com elencos duvidosos.

Já clubes como Athletico-PR, Bragantino e Fortaleza podem repetir ou até melhorar o bom desempenho de 2021, mas ainda não parecem ter peso na camisa para bater de frente em busca de títulos de primeira grandeza. Se tanto, podem almejar uma Copa do Brasil – o que não lhes cairia nada mal.

Alberto Valentim, Mauricio Barbieri e Juan Pablo Vojvoda tendem a seguir em seus promissores projetos, mas é inegável que vão, no mínimo, coçar a cabeça se Flamengo ou Atlético acenarem – e quaisquer eventuais saídas desmontariam os planejamentos de seus atuais clubes.

Por aqui, tudo bem

Abel Ferreira passa o Natal de 2021 com sua família, em Portugal
Reprodução / Instagram

Enquanto as vagas de treinadores nos dois principais adversários do Palmeiras seguem indefinidas, Abel Ferreira segue descansando em Portugal, certamente pensando em como pode aproveitar os reforços já anunciados pelo Verdão e os que, esperamos, estão em negociação.

Iniciar a temporada com o técnico definido tem muitas vantagens. O ciclo de reformulações no elenco obedece ao planejamento do comandante; assim, o Palmeiras tem condições de montar um elenco à feição das lacunas identificadas depois de pouco mais de um ano de trabalho.

Quem troca de treinador em plena janela de contratações perde oportunidades importantes de dar tiros certeiros e obriga o novo chefe a adaptar totalmente seu estilo a um elenco que ele ainda está por conhecer. Não é impossível fazer uma temporada vitoriosa desta forma, mas é bem mais difícil.

É dever da diretoria da Sociedade Esportiva Palmeiras proporcionar a Abel Ferreira, um treinador que tinha a opção de voltar para a Europa mas que escolheu seguir no Palmeiras, um elenco à altura do bicampeão da Libertadores.

Resta saber se a nova diretoria vai, desta vez, deixar o elenco como Abel deseja e não obrigá-lo a tirar leite de pedra, como em 2021. E não podemos nos esquecer que o preço desses milagres foi fraquejar no Brasileiro e na Copa. Se queremos ser de fato dominantes, precisamos de um elenco mais equilibrado e encorpado.

Como diz o chavão, chegar no topo é complicado, mas se manter lá é mais difícil ainda. Então, é preciso investir – com sabedoria e equilíbrio.

Tudo bem mesmo?

É pouco provável, bem pouco provável mesmo. Praticamente impossível. Mas este artigo seria completamente virado pelo avesso se o Benfica seduzisse Abel Ferreira e o tirasse do Palmeiras.

Talvez a única chance disso acontecer é se ele sentir que a atual diretoria não vai atender a seus pedidos.

Isola! VAMOS PALMEIRAS!


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