
A notícia do falecimento de Tonhão pegou todos os palmeirenses de surpresa e deixou consternado todo torcedor com mais de 40 anos de idade. Representante da torcida em campo nos anos 90, Tonhão foi um dos atletas da era pré-Parmalat que conseguiram se manter no time após a chegada da multinacional italiana, ao lado de alguns nomes “fraquinhos” como Evair e César Sampaio.
Tonhão era zagueiro raiz. Muito forte fisicamente, chegava arrepiando – e nem por isso foi tachado de violento. Não era de fazer muitos gols – nosso Almanaque aponta 4 gols em 161 jogos com nossa camisa, entre 1988 e 1996; o mais lembrado é o marcado contra o Sampaio Corrêa, pela Copa do Brasil de 1992 (veja aqui). Mas seu estilo de jogo simples cativava os torcedores.

O zagueiro também é muito lembrado por alguns episódios que vão além da proteção aos nossos goleiros. Certa vez, num jogo contra a Portuguesa no velho Palestra, Tonhão trocou camisas com um adversário ao final do jogo e se encaminhava para o vestiário, quando foi provocado pela torcida adversária. Ato contínuo, jogou a camisa no chão e a pisoteou, o que fez com que as padarias da cidade de São Paulo boicotassem os produtos da Parmalat por vários meses.

Quando Edmundo aprontava em campo e os jogadores partiam para as chamadas “cenas lamentáveis”, Tonhão sempre o protegia, o que talvez ajude a explicar por que o endiabrado camisa 7 era um ímã de confusões. É mais fácil ser folgado quando se tem um guarda-costas desse quilate.
Tonhão foi expulso na grande final do Paulistão de 93, de forma injusta. Quando Ronaldo atingiu Edmundo, que partia livre em direção ao gol, e recebeu o cartão vermelho, Tonhão chegou junto para, como sempre, garantir a segurança do craque – foi a deixa para o milongueiro goleiro rival fingir ser atingido e iludir o árbitro, que achou mais fácil expulsar um de cada lado. Mas sempre é bom lembrar que esse lance teve início numa jogada do próprio Tonhão, que limpou a jogada na defesa e meteu um lançamento espetacular de trivela para a corrida de Edmundo.
De qualquer forma, a torcida palmeirense não é, nem nunca foi, muito tolerante com jogadores limitados tecnicamente. O que fez com que Tonhão caísse nas graças da torcida, além da raça – predicado que passou a ser valorizado por nossa torcida somente a partir dos anos 80, com o crescimento das organizadas – foi estar no lugar certo, na hora certa.
Tonhão era o grosso que estava cercado de craques, um jogador que não comprometia e que, de certa forma, fazia com que a torcida se sentisse lá dentro num momento especial. E em sua segunda temporada completa, o time saiu de um enorme jejum de títulos, com ele participando de forma decisiva da grande final.
Outros jogadores grossos não tiveram a mesma sorte. Darinta não era pior que Tonhão, mas estava num dos times mais desgraçados de nossa história. Pra piorar, seu nome peculiar aumentava a sensação de ridículo por que passava a torcida. Darinta foi o melhor jogador em campo na célebre partida em que o Palmeiras bateu o Guarani na Taça de Prata de 81, com o Palestra lotado – foi uma das primeiras vezes que a expressão “colocou no bolso” foi ouvida – coube a Darinta anular ninguém menos que Jorge Mendonça naquela partida. Isso não o salvou de se tornar uma espécie de ícone da ruindade.
Hoje Tonhão seria massacrado pelas redes sociais. Esta forma contemporânea de torcer não admite que o jogador de futebol seja humano, falível. Nem cabe aqui discutir as razões. Mas pode-se afirmar isto só de observar o quanto sofre Rony, e o quanto já sofreram até jogadores muito mais dotados tecnicamente, como Luan.
Ainda bem que Tonhão não precisou passar por isso e, até o final de sua infelizmente curta vida, gozou do carinho da torcida palmeirense, que se inflamava nas arquibancadas, batendo palmas acima da cabeça para gritar TONHÃÃÃO, TONHÃÃÃO, TONHÃO, TONHÃO, TONHÃÃÃÃO!!!!
