O Palmeiras, a análise seletiva da imprensa e a luta contra o amadorismo

Há pouco mais de quatro anos, o Palmeiras estava numa situação desesperadora. Rebaixados para a segunda divisão com algumas rodadas de antecedência, víamos nosso então presidente desfilar de sunga pelas areias do Leblon pouco antes de embarcar para a Argentina, onde, em seu último ato no cargo, contrataria Riquelme para reforçar o time que disputaria a Série B – deixou tudo apalavrado.

Paulo Nobre assumiu a presidência em janeiro e rapidamente desfez o negócio. Depois de analisar a situação financeira, só não conseguiu desfazer a contratação de Fernando Prass porque já estava tudo assinado – R$300 mil por mês para um goleiro era um valor fora da realidade para o Palmeiras daquela época.

A contratação de Prass foi apenas mais um exemplo que no futebol, às vezes, fazer tudo errado pode dar certo. Com receitas futuras adiantadas e já comprometidas; o precipício financeiro tinha data para chegar: em abril de 2013 o Palmeiras não teria dinheiro para pagar sequer a conta da luz. A imprensa criticava, com razão, o amadorismo e a desorganização de nossa diretoria.

Reconstrução

Allianz ParqueA nova equipe então bolou um plano de reconstrução financeira emergencial, apoiado no poder econômico pessoal de Paulo Nobre. Era isso ou fechar as portas e refundar o clube com um novo nome e nova razão social – frase literal proferida numa das reuniões de diretoria naquele período. O novo clube teria que disputar a Série B1 do Paulista e tentar a classificação para a Série D do Brasileiro, para subir ano a ano até voltar à Série A.

O plano para oxigenar as finanças foi colocado em prática funcionou, mas não impediu que o clube, ainda semiamador na gestão do futebol, levasse mais um enorme susto no final de 2014. Desta vez, o acaso nos ajudou e a tragédia não se consumou. Com o fôlego renovado, o clube partiu então para uma nova fase: o Allianz Parque surgiu, o Avanti decolou; e logo depois surgiu o forte patrocínio da Crefisa. Foram sucessivos incrementos no orçamento que possibilitaram ao Palmeiras profissionalizar de vez o departamento de futebol e estamos desfrutando do resultado desde então. Desde 2015, o Palmeiras vem montando times mais fortes ano a ano.

Histórico

O futebol brasileiro já viu o predomínio de vários clubes nas últimas décadas. E desde que o futebol se profissionalizou, em 1933, inevitavelmente, o sucesso esportivo caminha lado a lado com o sucesso financeiro – um é consequência do outro, num círculo virtuoso, até que algum dirigente amador chega e mata a galinha dos ovos de ouro.

A partir da década de 90 o futebol mundial deu um salto de qualidade e deixou de ser apenas esporte. Bilhões de dólares foram despejados nos cofres dos times ao redor do planeta, resultado de uma convergência de fatores econômicos cuja locomotiva foi a televisão. Mais do que nunca, o dinheiro passou a ser o diferencial entre um time protagonista e um figurante.

O Palmeiras já esteve na situação de ser o clube dominante entre 1993 e 2000, durante a cogestão da Parmalat. Outros times tiveram seus momentos de predominância, e todos colheram os resultados financeiros do sucesso em campo, reinvestindo e estendendo seus domínios. O dinheiro e as taças andam lado a lado. Um bom orçamento não garante todas as conquistas, mas se um sistema vencedor for mantido e aprimorado, as conquistas continuarão vindo, inevitavelmente.

Os clubes e suas galinhas

Kia JoorabchianTodas as grandes camisas do futebol brasileiro tiveram suas galinhas dos ovos de ouro. O Botafogo, e até o Bangu, foram sustentados por cartolas envolvidos com jogo do bicho. O Flamengo, por anos, teve o aporte da Petrobrás, além de desfrutar de uma fatia imensamente superior à do resto dos clubes vinda dos direitos de televisão. Depois de tentar sem sucesso roubar o estádio dos outros, o SPFC construiu o Morumbi com recursos de origem duvidosa e por décadas teve a receita do aluguel do estádio, para shows e para todos os clássicos, e até para jogos dos rivais contra clubes menores.

O Santos, por anos, foi sustentado com o dinheiro do dono de uma rede de faculdades local, que se tornou presidente do clube. O Galo surfa no dinheiro de um torcedor-banqueiro, que financiou a montagem de um time que chegou à conquista da Libertadores. O Fluminense, por muitos anos, foi uma espécie de Unimed FC.

O Cruzeiro só se consolidou como time de expressão nacional depois que a família Perrella o controlou, durante anos; seu patriarca tem braços em várias atividades – de origem na pecuária, foi presidente da FIEMG, faz transportes por helicóptero e é senador. O Grêmio (que junto com o Inter recebe aquela mesadinha esperta de um banco estatal gaúcho) e, mais uma vez, o Flamengo, foram pontas de operação de uma empresa suspeita, a ISL, parceira comercial da FIFA.

O SCCP é um caso à parte, já fez de tudo: teve presidente que misturava o dinheiro do bolso com o do clube (Vicente Matheus); já teve patrocínio de torcedor (Kalunga); já ganhou (e ganha) muito mais dinheiro do que os outros times da TV, já teve grana de empresas suspeitas, por mais de uma vez (Banco Excel, HMTF, MSI).

E quase todo mundo tira uma casquinha da Caixa Econômica Federal.

Análise seletiva

Mauro Cezar
Reprodução

A mesma imprensa que criticava o Palmeiras a desorganização quatro anos atrás, agora critica pelo sucesso. Não há registros da imprensa falando em doping financeiro, em mecenato, ou em qualquer outro termo depreciativo aplicado a nenhum dos times mencionados no histórico acima. Mas todos se lembram do “esquema Parmalat”, expressão carregada de veneno cunhada pela imprensa, inconformada com o predomínio do Palmeiras quando teve a multinacional italiana como parceira.

O Palmeiras tem novamente o elenco mais encorpado do futebol brasileiro e é o principal favorito para vencer os campeonatos que disputa. E nunca se relacionou tanto quanto agora os domínios que cada time já exerceu no futebol com o dinheiro que o clube angariou para se chegar a esse domínio. Nunca se ouviu tanto a ponderação “…diante do volume de recursos investido” para se comentar o desempenho de um clube em campo, quanto nos dias de hoje. Antes, time campeão era time campeão. Falava-se sobre os jogadores, sobre o técnico, sobre o jogo. Dinheiro era só um detalhe.

A imprensa esportiva no Brasil, em regra geral, é incapaz de analisar um jogo de futebol. Agora metem-se a ponderar o jogo com análise financeira, com altas pitadas de clubismo. O resultado são essas baboseiras despejadas nos sofás e mesas dos intermináveis programas de debate. Não importa o quanto os outros clubes que dominaram o futebol brasileiro nas últimas décadas tiveram de auxílio financeiro, legítimo ou não: a análise é seletiva; só o domínio do Palmeiras é ponderado e muitas vezes depreciado pelo poderio econômico, como se fosse imoral ser bem-sucedido financeiramente.

O Palmeiras contra o amadorismo

Mustafá Contursi
Keiny Andrade/Folhapress

Futebol se tornou profissional em 1933. Desde então, o dinheiro anda junto do sucesso esportivo. Quando o Palmeiras não esteve atolado na incompetência de seus dirigentes, algo que só passou a acontecer desde que Mustafá Contursi construiu sua ascensão política em meados da década de 70, teve sucesso nas duas frentes.

O Palmeiras tem que se preocupar em não deixar que o anacronismo prevaleça e destrua tudo o que foi construído nos últimos anos. Todos os clubes brasileiros tiveram chances de estabelecer um domínio longo, mas fracassaram exatamente pelo amadorismo das instituições, incapazes de se proteger da vaidade de sócios influentes e de interesses pessoais. Se o Palmeiras aproveitar a chance e solidificar o sistema, estabelecerá um domínio por longos anos e, por cansaço, calará a imprensa, que se renderá quanto às críticas ao modelo financeiro e passará a cobrar seus clubes favoritos para que façam o mesmo.

Enquanto isso não acontece, teremos mais alguns anos de mecenato pra cá, Crefisa pra lá, e silêncio quanto a sócio torcedor e bilheteria. Um dia o palmeirense vai se acostumar com esse tratamento da imprensa – ou então vai apoiar mais a mídia alternativa palmeirense. O Verdazzo segue fazendo seu trabalho diariamente.

Está nas mãos da atual diretoria manter o atual poderio, apoiado no profissionalismo, sem deixar que pressões políticas ponham tudo a perder. As receitas estão equilibradas, o fluxo está sob controle, e há profissionais cuidando para que tudo se mantenha. Não haverá desculpas se este sistema ruir.


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Jornalismo-fofoca acirra tensão entre público e imprensa

No final da atividade de ontem, na Academia de Futebol, atletas e a comissão técnica disputaram o famoso rachão. Como todos sabem, é quando todos se soltam, se divertem e o profissionalismo fica um tanto de lado, e muitas vezes é quando acontecem as maiores discussões – exatamente como nas peladas que eu e você disputamos, por diversão.

Houve um desentendimento, já quando se dirigiam ao vestiário. Numa das imagens, aparece Felipe Melo, aparentemente de um lado do entrevero – ou não, depende de como se quer ver o registro – imagens frisadas dificilmente revelam a verdade nessas situações. Foi o suficiente para que as primeiras manchetes estampassem que “Felipe Melo e Osmar Feitosa discutiram de forma áspera”.

Discussão no rachão do Palmeiras alimenta o jornalismo-fofoca
BRUNO ULIVIERI/RAW IMAGE/GAZETA PRESS

Como se pode ver em vídeo capturado pela equipe do Esporte Interativo, a discussão foi entre Cuca e Omar Feitosa. Não se sabe o que houve antes, pode até ser que o Felipe Melo tenha mesmo batido boca com alguém. O fato é que o treinador gesticula, irritado, e depois chama o preparador físico para que o acompanhe para a parte interna. Fim da história.

Quem fez as matérias sabe que o ocorrido não foi nada sério. Mas faz parte da atividade do jornalista registrar os fatos. O material chega às redações, onde sempre existe alguém que faz a maquiagem antes da publicação, para render mais audiência e cliques.
– Apareceu o Felipe Melo numa das fotos? Valoriza!

Efeito colateral

Essa é a regra vigente. O jornalismo-fofoca é um efeito colateral da expansão das TVs a cabo e da internet, fruto da enorme competição entre os próprios veículos. Na televisão, os caras ficam naqueles sofás e mesas o dia inteiro, e precisam de assunto. Na internet, os números são frios e a cobrança pelo número de cliques é bruta.

Nossa torcida (e a dos outros times também) enche o saco dos jornalistas que dão as caras nas redes sociais, mas muitas vezes a culpa é de quem fica escondidinho nas redações. Sabemos que existem os repórteres maldosos, useiros e vezeiros em fomentar as confusões e plantar crises; mas não podemos colocá-los no mesmo balaio dos que estão lá honestamente fazendo seus trabalhos e relatando o ocorrido. Queiram ou não, teve uma tretinha, e isso tem que ser noticiado – desde que com as tintas corretas.

Cobrança deve ser interna

A informação sensacionalizada virou regra. Está cabendo ao público identificar os exageros dos profissionais que transformam copos d’água em tempestades. Temos que acessar o noticiário com o filtro ligado o tempo todo e isso cansa.

Isso sem mencionar o pessoal que usa a camisa do clube por baixo do uniforme da emissora. Conhecemos vários comentaristas que, se a mesma cena acontecesse no treino de outros clubes, diriam entre risos que é apenas a gana do elenco, que é tão grande que eles não admitem nem perder rachão.

Isso só reforça a tese defendida pelo Verdazzo há tempos: a relação entre imprensa e público só vai melhorar quando os próprios jornalistas se policiarem, quando os próprios repórteres cobrarem internamente o pessoal da maquiagem, a turma que aumenta, mas não inventa, e os clubistas disfarçados. Esses são os caras que, no final das contas, causam toda a revolta no público e jogam seus colegas no fogo.

Vamos melhorar?


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Sarrafo do Palmeiras atingiu nível de clubes europeus

Cuca
Divulgação

Na entrevista de apresentação de Cuca, um dos trechos que mais chamou atenção foi quando o treinador mencionou a pressão que o Palmeiras tem sobre si de ganhar todos os campeonatos que disputa pelo fato de ter o maior poder de investimento dentre os clubes brasileiros.

De forma correta, Cuca diagnosticou um dos maiores problemas vividos pelo time nesta temporada. É de se supor que Eduardo Baptista, sob esta intensa cobrança, tenha cometido equívocos que foram cruciais para a oscilação do time, culminando com a eliminação do Paulista pela Ponte Preta e gerando uma apreensão generalizada. A ansiedade pelas conquistas, diante de tanta responsabilidade, subiu o sarrafo do Palmeiras a níveis europeus – algo que não queremos e não precisamos ter que enfrentar.

De onde parte essa pressão?

O clube concluiu as obras do Centro de Excelência e orgulhosamente o mostrou ao mundo em fotos e vídeos, nos próprios canais e via imprensa. Divulgou um balanço que transmite tranquilidade e uma enorme capacidade de investimentos, ainda turbinado por um patrocinador que aproveita todas as brechas para deixar muito claro que injeta dinheiro no clube – o que possibilitou reforços do naipe de Borja, Felipe Melo e Guerra.

Tudo isso causa uma sensação de onipotência que, ao mesmo tempo que impõe respeito aos adversários, suscita uma espécie de revolta na imprensa, clubista e antiprofissional, que parece não se conformar que o Palmeiras venceu uma crise gravíssima – de forma irretocável – e vive atacando nosso modelo econômico, como se fosse pecado ser bem-sucedido.

Esse poderio estrutural, técnico e financeiro sobrecarrega a comissão técnica e os jogadores. Cuca, de seu retiro, percebeu isso e tratou logo em sua chegada de aliviar essa pressão. Naquele tom de voz manso que já estamos acostumados (e que sentíamos saudades), disse que o Palmeiras precisa comer mais pelas beiradas. Sua expressão fechada sugeria estar desconfortável sendo o centro de tanta atenção – de fato, nos noticiários e nos infinitos programas de debate da TV, nem parecia que nosso rival acabara de ganhar um título paulista.

Como aliviar essa pressão?

Lembram o quanto a imprensa mencionou o valor pago por Erik no ano passado? Pois com Borja isso vai ser potencializado. O palmeirense precisa ter em mente que os críticos vão aumentar o cerco. Vão falar em mecenato, em Crefisa, e colocarão quanta pressão puderem. Os torcedores rivais, alimentados por eles, aumentarão o coro. Isso já vem chegando aos ouvidos da torcida do Palmeiras, que acabou aceitando a obrigação de ser o campeão de tudo. E isso não corresponde à realidade do futebol. Nossa torcida não pode cair nessa provocação e transferir esse peso para nossos jogadores e comissão técnica.

Mesmo não tendo sido campeões paulistas, como em 2016, somos o protagonista do ano. A conquista do Brasileirão aumentou ainda mais a responsabilidade. Temos que saber lidar com a superioridade, e saber que a obrigação de nosso time é disputar os títulos, mas que eventualmente perdê-los faz parte do esporte, sobretudo em competições mata-mata.

A soberba e o oba-oba, que podem ser resumidos na popular expressão “entreguem as taças”, que é sempre usada em tom de brincadeira, devem ser extirpadas.

Nossa patrocinadora poderia ajudar, recolhendo um pouco seus cavalos, deixando de lado o bordão “patrocinador forte significa time forte” e se contentando em aparecer em nossa camisa, ao menos neste momento de turbulência – ajudaria a diminuir os ataques da imprensa e dos rivais.

Quem trabalha no Palmeiras sabe que a pressão é grande e constante. A camisa do Palmeiras, por si só, já confere a quem a enverga um peso extraordinário de forma natural; não aumentar essa responsabilidade é uma decisão sábia que todos os palmeirenses precisam tomar. Com todos fazendo suas partes, o grupo terá muito mais tranquilidade para trabalhar e assim transformar a superioridade potencial em real, o que facilitará o caminho rumo aos títulos. No final, será bom para a torcida e bom para a patrocinadora. Todos ganham.


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Felipe Melo felipemelou. De novo

Felipe Melo felipemelou de novo. No embalo do Dia do Trabalhador, o volante aproveitou e divulgou um vídeo onde manifesta seus anseios políticos.


“Posso falar uma coisinha? Deus abençoe todos os trabalhadores e pau nos vagabundos, Bolsonaro neles!”, vociferou, e fechou o vídeo com cara de mau. Nada mais Felipe Melo.

Nosso volante, no entanto, errou – não por exercer seu sagrado direito de emitir uma opinião, mas sim por atrair mais uma polêmica desnecessária em torno de si.

Como cidadão, Felipe está em seu quadrado; ao manifestar suas preferências, ele contribui com o processo democrático por que tanto se lutou neste país. Mas Felipe é seguido por milhões de pessoas por ser o Felipe Melo, jogador de futebol. E suas opiniões pessoais inevitavelmente se misturarão com a do atleta.

É necessário contextualizar. O país vive há alguns anos, catalisado pela simplicidade das redes sociais, uma dicotomia política rasa. Ao mencionar um político que representa um dos extremos desta polarização, Felipe Melo ganhou a admiração de quem está no mesmo lado da política, seja palmeirense ou não; ao mesmo tempo que ganhou a repulsa de quem está do lado oposto, mesmo de palmeirenses.

No frigir dos ovos, Felipe não mudou o voto de ninguém, apenas acirrou os sentimentos do público sobre si – para bem e para mal. E isso não respinga apenas na pessoa, mas também no profissional. É notório que a classe jornalística, de uma forma geral, tem uma ascendência acentuada para o lado oposto ao defendido pelo volante. Felipe abriu uma brecha para ser atacado de forma covarde pelos menos providos de caráter, por aqueles que só defendem a livre manifestação de pensamento quando estes coadunam com sua própria opinião.

Felipe Melo com sua munhequeiraHouve quem relacionasse o perfil combativo e, por vezes, agressivo de Felipe em campo com sua preferência política.

Houve até quem tivesse a coragem de acusá-lo pelo uso da munhequeira – um jornalista doentio afirmou que ele a usa apenas para usar como proteção para os punhos em eventuais brigas, e não para secar o suor da testa e evitar que escorra nos olhos, como a maioria dos atletas carecas.

Mas Felipe Melo é assim. Ele gosta de atrair as polêmicas em torno de si e lida bem com a maioria delas. Mas nesta, passou do ponto – tanto, que ele mesmo acabou deletando o vídeo de seu perfil no Instagram, provavelmente ao avaliar melhor o custo/benefício desse passo mal calculado. Foi inteligente e bem assessorado o suficiente para recuar quando julgou necessário, assim como o fez no campo de batalha em Montevideo.

A se lamentar, e muito, a falta de maturidade do povo brasileiro para discutir um tema tão importante. Tanto os críticos quanto os apoiadores desempenharam, como vêm fazendo há quase dez anos, um papel ridículo num debate que se pretende político mas que acaba apenas sendo pretexto pra manifestações de ódio – dos dois lados.

Essa falta de maturidade levou até alguns palmeirenses tão extremistas quanto o político que dizem odiar a declararem que estão cancelando o Avanti por causa do Felipe Melo – por coerência devem deixar de torcer pelo clube enquanto o volante vestir nossa camisa. São nesses momentos que se mede quem realmente ama o Palmeiras. Um torcedor inteligente e maduro pode tranquilamente se decepcionar com um posicionamento pessoal de um atleta, mas jamais permite que isso afete sua relação com a camisa e com a instituição.


Pela falta de maturidade generalizada acerca do tema, este post tem o espaço para comentários excepcionalmente fechado. A maioria dos leitores do Verdazzo, ao largo do que se verifica nos portais e redes sociais em geral, tem plena capacidade para discutir sobre o assunto, mas o centro deste post não é a política, o Bolsonaro, o Che Guevara ou a Margaret Thatcher, e sim o poder que uma manifestação de um jogador do Palmeiras, naturalmente chegado numa polêmica, pode causar, sobretudo num ambiente viciado. Ciente de que os comentários vão inevitavelmente descambar para um embate devido a uma minoria ainda imatura, o Verrdazzo pede perdão pela atitude, mas prezamos pela civilidade em primeiro lugar.

A covardia da imprensa em seus pequenos detalhes

A entrevista pós-jogo de Eduardo Baptista em Montevideo continua repercutindo. A FBTF (Federação Brasileira de Treinadores de Futebol) emitiu nota dando respaldo a seu filiado, ressaltando que a o desempenho dos treinadores “muitas vezes é julgado de forma arbitrária” e que “existe uma relação de interdependência entre o futebol e a imprensa. Por isso acreditamos e queremos que a relação seja respeitosa, digna e honesta.”

O estopim da entrevista explosiva, todos sabem, foi o post no blog de Juca Kfouri, hospedado no UOL, que acusou o treinador de obedecer a Alexandre Mattos e a pressões de empresários para escalar Roger Guedes. A ESPN, que também dá espaço a Kfouri, noticiou o apoio da FBTF exatamente na contramão do apelo da entidade. E o fez de forma dissimulada, nos pequenos detalhes.

Escolher uma imagem para ilustrar um post envolve uma série de fatores, como clareza, adequação, relevância e momento – e a legenda, quando existe, reforça o ponto central da ilustração. Neste caso, uma das imagens que ilustrou a notícia foi esta, logo abaixo:

Print ESPN
A imagem irrelevante e a legenda dissimulada que ilustrou a matéria da ESPN

A imagem, justificada pela legenda, não tem relevância alguma: “Bertozzi fala sobre a postura dos torcedores e da reação de Eduardo Baptista”. O que a imagem quer mesmo fazer é soltar no ar a pergunta feita por um telespectador, que questiona se Eduardo teria a atitude se tivesse perdido o jogo.

A pergunta do torcedor é apenas isso mesmo: uma pergunta de torcedor. A ESPN, ao jogar a imagem no ar, dá relevância à pergunta, sem assumir a autoria. A emissora aproveita a ausência de compromisso que um torcedor tem numa rede social para manter nosso treinador sob ataque. Isso é COVARDIA.

A ESPN, se tivesse ressaltado a pergunta do internauta na legenda, estaria ao menos deixando claro que não gostou da resposta de Eduardo Baptista e questionaria a atitude do treinador com dignidade. Mas ao usar desse artifício, demonstrou uma torpeza assustadora.

Alguém na redação é responsável por esta atitude repulsiva. É de se imaginar que como em qualquer local de trabalho, existem os graduados e os juniores. O autor pode ter sido um moleque irresponsável e clubista, e a revisão deixou passar inadvertidamente. Ou pode ter sido uma imagem deliberadamente pinçada, com a legenda cuidadosamente redigida com a desfaçatez verificada. Que houve maldade em algum ponto da trajetória, é indiscutível. E o mais irônico é que na matéria há um vídeo de sete minutos em que o comentarista Zé Elias praticamente dá uma aula de respeito aos profissionais dentro da própria casa.

Unfollowzaço

Em outubro do ano passado a mídia alternativa palmeirense promoveu o “Unfollowzaço”, uma manifestação conclamando a torcida alviverde a boicotar a ESPN, que à época se destacava na tentativa de desestabilizar o Palmeiras que estava às portas da conquista do eneacampeonato – mas o convite se estendia a todas as emissoras, que em maior ou menor grau destilam seu veneno contra nós sempre que podem, na maioria das vezes apenas como expressão de clubismo e antiprofissionalismo.

É por isso que a mídia alternativa deve sempre ser a primeira opção da torcida palmeirense. Separem os politiqueiros, os sensacionalistas e os produtores de fake news (infelizmente existe essa praga entre nós também) e fiquem com os vários sites palmeirenses que produzem um trabalho apaixonado sem deixar de ser sérios. Somos clubistas e parciais e não escondemos isso. Sempre que o leitor consumir o trabalho da mídia alternativa palmeirense, saberá que existe um viés: PALMEIRENSE.


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