Irritado com a posição da Federação Paulista de Futebol, de não adiar o clássico contra o SCCP, válido pela segunda rodada do Campeonato Paulista 2021, o Palmeiras ignorou completamente o duelo em seus canais de comunicação. Não houve nenhuma menção no Twitter, no Instagram ou muito menos na TV Palmeiras/FAM. Nem a tradicional arte da escalação foi produzida pelo Verdão.
É claro que, internamente, todos do clube sabiam da importância de disputar um Derby – mesmo em um campeonato tão inútil como é o Paulista atualmente – e isso foi mostrado pelo onze inicial escolhido por Abel Ferreira.
Mesmo tendo à disposição diversos jovens jogadores que são pouco utilizados, ou até mesmo que nunca haviam jogado no profissional, o treinador ainda assim decidiu escalar jogadores importantes como Gabriel Menino, Luan, Danilo, Gustavo Scarpa, Lucas Lima e Willian.
Mas se ainda não foi este ano que ignoramos de vez o campeonato, o clube mostrou que, ao menos nas redes sociais, é bem possível fazer este distanciamento e sair fortalecido entre os que importam: os torcedores.
Mais um descaso da FPF
Após a escancarada interferência externa na final do torneio de 2018, que nos custou o título, esta foi a segunda vez que a entidade prejudica o Palmeiras, neste caso, antes de uma decisão importantíssima – a final da Copa do Brasil.
Não adiar um Derby, que esportivamente não vale quase nada, antes de um jogo que pode dar um título nacional ao seu afiliado, só reforça o quão mais saudável será para o Palmeiras tratar o Paulista como ele merece: um mero torneio de pré-temporada.
Agora, é preciso seguir com o plano
O primeiro passo foi dado. Deixar de falar do clássico foi algo bem significativo. E o Palmeiras deve manter a estratégia por todo o campeonato.
Como disse Abel Ferreira após a partida diante do Coritiba, pelo Campeonato Brasileiro:
“Temos que saber se queremos ser fortes no presente e prejudicar o futuro, ou se queremos pensar bem naquilo que é a organização e a definição de uma temporada, com Brasileirão, Libertadores e Copa”.
Ontem, Palmeiras e Puma fizeram o lançamento da nova camisa Alviverde para a temporada 2021. A campanha, apresentada em formato de vídeo, foi intitulada “Onde quer que seja verde”.
Minutos após a publicação, foram registradas algumas manifestações racistas no Twitter aludindo aos modelos presentes no vídeo.
É inadmissível e repugnante. Mesmo em 2021, todos nós sabemos que ainda existem pessoas racistas, seja no meio do futebol ou em qualquer outra área. Mas isso não pode ser, de jeito nenhum, relativizado. E neste episódio não foi. Depois de diversas denúncias de outros usuários, o Palmeiras soltou uma thread repudiando tais atos. Confira:
“O Palmeiras é de Todos” é nosso posicionamento institucional. O clube tem 16 milhões de torcedores e não faz qualquer distinção de raça, religião, gênero ou classe social.
A resposta mostra, ainda que óbvio, que o clube não tolera e nunca irá tolerar o racismo. E além disso, uma nota precisa e enfática, como deve ser com manifestações que já não devem (ou não deveriam) fazer parte de nossa sociedade, e principalmente da Sociedade Esportiva Palmeiras.
Muito bem o Palmeiras, muito mal (péssimos) ‘torcedores’.
Abel Ferreira desembarcou no Brasil há cerca de três semanas e já se pode sentir os efeitos de seu trabalho no time do Palmeiras. Os resultados, até agora, estão acima das expectativas e poderiam ser melhores ainda não fosse o surto de Covid-19 que acometeu o elenco.
O treinador luso traz uma bagagem importante que está sendo transmitida pouco a pouco ao grupo. O que faz de Abel uma novidade aos jogadores relaciona-se com seus conceitos sobre o futebol e também com os traços de sua personalidade.
Abel decidiu morar na Academia de Futebol, diante de toda a estrutura oferecida. A intensidade com que vive seu trabalho praticamente exige essa presença constante.
A mudança positiva no comportamento dos atletas em campo é nítida. Não só jogadores, mas também funcionários e até membros da diretoria estão, segundo relatos, contagiados pela forma com que o trabalho está sendo conduzido.
Gazeta Press
Mas quem parece não estar gostando muito de Abel Ferreira são os árbitros brasileiros. Em cinco partidas à beira do campo, Abel já recebeu dois cartões – um vermelho, mostrado por Bráulio da Silva Machado, e um amarelo, por Bruno Arleu de Araújo.
Na partida contra o Ceará, no Allianz Parque, Bráulio marcou um pênalti inexistente. Abel, nervoso, esbravejou ao vento que o lance seria revertido com a revisão no VAR. O quarto árbitro achou ofensivo e dedurou nosso técnico ao árbitro principal, que o expulsou. Na súmula, um relato bem pouco verossímil transparece uma certa má vontade.
Na coletiva após a partida, Abel reconheceu a explosão mas justificou, dizendo que está num campo de futebol, não numa igreja. Reclamou de não ter sido recebido por Bráulio após o jogo, quando o foi procurar para esclarecer a situação. E disse: “antes de treinador, sou homem” – o que pode ser interpretado como uma acusação de que o árbitro não tem hombridade suficiente.
Reclamar acintosamente na área técnica não é um comportamento exclusivo de nosso atual treinador – o próprio Vanderlei Luxemburgo tinha seus impropérios corriqueiramente captados pelos microfones de transmissão; Luxa, curiosamente, usava a mesma justificativa mencionando a igreja.
Recado dado
Cesar Greco/Ag.Palmeiras
Talvez seja pela entrevista, talvez por seu jeito explosivo, intenso, que já era notado mesmo em Portugal. Talvez por ser estrangeiro, ou pela cor da camisa. Ou um pouco de tudo.
Abel parece já estar no caderninho dos árbitros brasileiros. O cartão amarelo mostrado por Bruno Arleu na partida contra o Goiás foi um recado claríssimo.
O intercâmbio cultural é sempre uma via de duas mãos. Assim como Abel Ferreira tem muito a ensinar a nós sobre futebol, também tem bastante a aprender, sobretudo sobre como as coisas funcionam por aqui, onde os juízes são corporativistas e vingativos.
Nosso treinador parece ser uma pessoa bastante razoável e inteligente. Alguém na Academia de Futebol precisa enfatizar a ele sobre como nosso clube é tratado e dos cuidados que ele precisa tomar para sair do radar dos homens de preto.
Com pequenos ajustes, Abel pode ficar ainda melhor, mantendo sua intensidade à beira do gramado, que está fazendo tão bem aos jogadores, sem ser punido pelos juízes brasileiros ou de qualquer parte do mundo. “AVANTI PALESTRA!”
O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.
O Palmeiras abriu mão de um mando no Campeonato Brasileiro ao solicitar à CBF que alterasse o local do clássico contra o Santos, no dia 23 de agosto, para o estádio do Morumbi.
A alegação é de que haverá um evento da série Arena Sessions – drive-in no gramado, com shows e filmes. A agenda do evento não contempla nada para o dia 23 em seu site oficial, mas haverá um show da dupla sertaneja Marcos & Belutti na véspera.
Uma das premissas para a troca do gramado natural para artificial era a rapidez com que eventos da véspera poderiam ser desmontados, aprontando o gramado para sua verdadeira razão de existir.
A não ser que o site esteja desatualizado, não há nada que aparentemente justifique abrir mão de um mando num clássico por causa de um show no dia anterior.
Nosso time tem uma casa. Nossos jogadores estão habituados com nosso gramado, com o vestiário, com as referências espaciais do estádio. Mesmo sem torcida real, o Allianz Parque continua sendo um diferencial para a conquista de vitórias e títulos.
Na ponta do lápis, a conta não parece alta para um orçamento como o do Palmeiras, de mais de R$ 500 milhões/ano. Os ingressos para o show variam de R$ 380 a R$ 650, o que pode projetar uma arrecadação bruta, contando eventuais receitas adicionais de consumo, de cerca de R$ 180 mil.
Descontando-se os cachês dos artistas, menos as despesas operacionais, menos o custo do aluguel do Morumbi, podemos chegar a um valor que permite questionar se não valeria a pena o Palmeiras negociar com a WTorre.
Além disso, a escolha do Morumbi como alternativa é altamente questionável. Desde 2007 o Palmeiras não manda jogos no estádio do SPFC, bem antes do Allianz Parque existir, por uma correta decisão estratégica de asfixiamento econômico do rival.
Ao decidir pagar aluguel para o SPFC para mandar um clássico, o Palmeiras faz uma escolha incompreensível.
Está claro que a operação do Allianz Parque sofreu um grande abalo devido à pandemia e que soluções criativas como a série Arena Sessions são alternativas inteligentes para manter a roda girando.
Mas a prioridade deve ser sempre o Palmeiras, ainda mais em clássicos. Ainda mais porque aparentemente não há show no dia do jogo e porque a conta é pequena. E ainda mais porque parte da grana vai para o SPFC.
Clique aqui para ver o retrospecto do Palmeiras no estádio do Morumbi.
O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.
O futebol voltou no estado de São Paulo depois de mais de quatro meses de paralisação devido à pandemia da Covid-19. Após duas rodadas disputadas – as duas que restavam para ser concluída a fase de classificação – foram definidas as oito equipes que disputarão o título do campeonato paulista.
Mesmo perdendo o Derby na reabertura dos trabalhos, o Palmeiras conseguiu ultrapassar o Santo André e se classificou em primeiro lugar no grupo, o que garantiu ao Verdão o mando da partida nas quartas-de-finais. Mas o futebol apresentado deixou a desejar nas duas partidas, causando apreensão em boa parte da torcida.
Diante do SCCP o Palmeiras teve 61% de posse de bola no segundo tempo, após as instruções de Luxemburgo no intervalo, mas não conseguiu reverter a vantagem no placar do adversário. O grande nome do jogo foi o goleiro rival. Já ontem, contra o Água Santa, a posse de bola chegou a absurdos 83% no primeiro tempo, mas o time tampouco conseguiu chegar às redes de Giovanni. A virada só veio quando o time entrou em modo desespero, após sofrer um gol inacreditável.
A dificuldade que o time mostra para converter a posse de bola em gols assusta. Nas redes sociais já é possível notar termos como “mais um ano perdido” e quetais. Será que é para tanto?
Aprender a ganhar e também a perder
Cesar Greco/Ag.Palmeiras
O pânico que se instala tem muito a ver com o resultado no Derby. O estrago causado por uma derrota no confronto contra nosso principal adversário é conhecido há décadas e nossa torcida não consegue se livrar desse efeito colateral.
Ninguém gosta de perder Derby e não se trata de pregar a indiferença ao resultado. Mas não podemos deixar que isso tenha um efeito tão prolongado.
Precisamos aprender a ganhar Derbies no campo tanto quanto precisamos aprender a perdê-los fora deles. A História mostra que as duas coisas acontecem em proporções idênticas.
A perspectiva fatalista que é traçada hoje devido aos resultados das duas primeiras partidas após quatro meses é absolutamente desproporcional. Foram apenas dois jogos e exige-se que o time esteja voando. É irreal.
Basta olhar ao redor
É claro que notamos ajustes a serem feitos nestes dois jogos. A saída de bola ainda precisa ser aprimorada. As jogadas pelos flancos podem ser mais frequentes, sobretudo usando os laterais, para furar retrancas.
As trocas de passes precisam ser mais ágeis. Nosso time ainda não consegue equilibrar disciplina tática e jogo pensado com rapidez e agressividade. A demora em se decidir o que fazer com a bola permite ao adversário se posicionar melhor e a barreira fica mais difícil de ser rompida.
César Greco/Ag.Palmeiras
Isso tende a vir com o tempo. Uma boa ocupação de espaços de forma coordenada é resultado de tempo. E ainda não houve tempo para que esse estágio fosse atingido, nem para nós, nem para ninguém.
Basta dar uma olhada a nosso redor. Nenhum dos grandes paulistas está jogando melhor que o Palmeiras; todos ainda estão brigando com a falta de ritmo e com a busca pelo melhor preparo físico, ainda com o entrosamento ainda em estágio inicial.
O único time que parece um pouco mais avançado é o Red Bull Bragantino – não por coincidência, o time da empresa de energéticos deu um jeitinho de furar a quarentena e recomeçou os treinos antes dos outros times.
E se ampliarmos um pouco o alcance do radar, constatamos que nos outros grandes centros tampouco há alguém jogando realmente bem nessa volta pós pandemia.
Todos estão com problemas e é natural que a diferença entre os times que se destacarão no Brasileirão e os que serão figurantes, neste momento, ainda não esteja pronunciada.
O Palmeiras precisa que a torcida, mesmo ausente dos estádios, seja um ponto de apoio do time. Cobramos que nossos jogadores sejam melhores que os dos adversários, mas não nos esforçamos para sermos melhores que as outras torcidas.
Entender o contexto da temporada, fazer as cobranças de forma equilibrada e ter maturidade para absorver rápido o impacto de uma derrota num Derby são alguns dos pilares desse esforço.
VAMOS PALMEIRAS!
O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.