O mundo acompanha online a busca pelo novo diretor: é muito Black Mirror
O Palmeiras encerrou o ano livre da nuvem negra que se
abatia sobre o time com Mano Menezes, o padrasto, à beira do campo. Alexandre
Mattos, tido por boa fatia da torcida como a razão de todos os problemas,
também já não faz parte do corpo diretivo. Então está tudo certo? Longe disso.
O Palmeiras segue atolado em problemas internos, a começar
pelos constantes vazamentos acerca da novela da contratação do próximo diretor
de futebol. Num cenário correto, o anúncio já teria acontecido e o profissional
seria oficialmente divulgado sem que nenhum jornalista ficasse sabendo antes.
Mas nosso ambiente está longe de estar protegido. Informações estratégicas vazam descontroladamente, como no tempo de Arnaldo Tirone. Conselheiros e aspones que não têm nenhuma função a não ser atrapalhar, pelo fato de carregarem votos importantes conseguem acesso a informações privilegiadas e as repartem com seus círculos de amigos – e um ou outro jornalista – para satisfazerem seus egos.
Assim, ficamos sabendo que a primeira opção para a
substituição de Mattos, Tiago Scuro, recusou o convite do Palmeiras. Assim,
ficamos sabendo que depois dessa recusa, nossa diretoria, esbanjando
auto-suficiência, fechou em dois nomes como “finalistas” – Rodrigo Caetano e
Diego Cerri. O primeiro foi execrado pela torcida em redes sociais e a escolha
recaiu sobre o segundo – que também recusou. E assim o Palmeiras voltou à
estaca zero.
Toco transmitido em tempo real
A quarta opção vazou imediatamente, logo após a recusa de Cerri, na noite de ontem: Anderson Barros, do Botafogo. É assustador como decisões tão importantes caem no domínio público tão rápido. Imagine que você está na balada procurando se dar bem e tem uma lente de contato com câmera transmitindo tudo pela internet. Com direito a legenda dos seus pensamentos. Todos os tocos que você levar ficam constrangedoramente registrados. Isso é muito Black Mirror.
Tão preocupante quanto os vazamentos são as razões pelas quais
o time com o segundo maior orçamento do país está com tantos problemas para
fechar com um diretor de futebol.
O que o Bragantino e o Bahia têm que o Palmeiras não tem? O
que levaram profissionais escolhidos a dedo por um clube de ponta declinar dos
convites para permanecerem em clubes secundários do cenário nacional?
Talvez esses clubes proporcionem algo que os profissionais sabem que não terão no Palmeiras atual: o ambiente sadio. A pressão da torcida sempre existirá, mas pode ser controlada se houver a devida blindagem – e temos exemplos recentes de que isso é possível. A ingerência pesada de pessoas com livre trânsito no círculo interno, ligadas política e financeiramente à direção, é outro problema que nenhum profissional sério gostaria de sofrer.
O Palmeiras, mais cedo ou mais tarde, vai conseguir seduzir
um profissional do mercado – mas a esta altura, a exposição aos tocos já
levados evidenciará que não foi nem a primeira, nem a segunda opção, o que já é
embaraçoso. E possivelmente, diante da urgência em definir os rumos da próxima
temporada, o acordo tenha que ser feito com muitas concessões – no modelo de
trabalho e nos termos financeiros.
Causa enorme aflição projetar, neste momento, o futuro do clube, no curto e no longo prazo, diante de tanto descontrole. Parece até que eles estão de volta.
O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.