Rescaldo da eliminação: o que pode (e precisa) melhorar, dentro e fora do campo
Fernando Dantas/Gazeta Press
A derrota nos pênaltis ontem para o SPFC na semifinal do campeonato paulista fez eclodir uma revolta que estava represada na torcida, que só não tinha vindo à tona antes devido aos placares, até então positivos. Os números vinham sendo muito bons
Como sempre, a caça às bruxas começou, a fogueira já está
ardendo e o futebol segue sendo a válvula de escape para as frustrações diárias
de boa parte da população – não é privilégio da nossa torcida ter esse tipo de comportamento
nas derrotas.
Talvez seja por isso que a tendência de ignorar que as
razões do fracasso passam por vários fatores prevalece. A raiva cega; a capacidade
de tentar enxergar o retrato de forma ampla, abrindo o panorama, praticamente
desaparece.
Como na maioria das vezes, uma eliminação não tem apenas uma
razão. Poderíamos ter jogado bem melhor e não ter dependido de um lance aos 32
do segundo tempo anulado pelo VAR. Mas também poderíamos ter batido melhor os
pênaltis. E também poderíamos ter sido mais eficientes nos bastidores para
evitar o roubo institucionalizado.
Antes de falar de
bola…
O Palmeiras entrou em guerra contra a FPF há exatamente um ano, no dia 8 de abril de 2018. O roubo que aconteceu no Allianz Parque é histórico e a situação foi conduzida com o fígado por nossa diretoria. É difícil, na condição de torcedor, criticar esse posicionamento. Partir para o choque frontal vem ao encontro de nossos desejos – afinal, nossos fígados também trabalharam bastante naquela semana.
Mas o Palmeiras precisa decidir o que quer em relação ao
campeonato paulista. Se quer ganhar, vai ser quase impossível se mantiver a
guerra aberta. Todas as instituições – departamento técnico, imprensa,
arbitragens e tribunais trabalharão contra o Palmeiras de forma determinada. Para
vencer “contra tudo e contra todos”, precisa jogar muita, muita bola.
E normalmente isso não é possível em abril. Se tivesse
passado ontem, muito provavelmente seria vice-campeão. O Palmeiras de 2019 ainda
não está pronto para dobrar os adversários com a facilidade que a diferença de
elencos sugere. Para poder disputar o estadual com chances de vencer, uma
postura menos ácida e mais política precisa ser tomada.
Andar nesse fio é uma tarefa bastante complicada. O clube, diante de todas essas dificuldades, precisa de alguém com tarimba e trânsito para defender seus interesses – algo como um diretor remunerado de relações institucionais; um profissional com experiência em amarrar pontas e conduzir situações com frieza para chegar aos resultados. Ou se caminha nessa direção, ou deixa-se bem claro que não disputaremos o paulista para vencer, escalando times alternativos, recheados de moleques da base.
Temos que falar de
arbitragem, sim
Cesar Greco/Ag.Palmeiras
Diante da guerra aberta, os jogadores já entram mais pilhados que o normal, sabendo que seremos roubados. E fomos. A arbitragem de Flávio Rodrigues de Souza, ontem, vai lhe render troféus e medalhas. Não cometeu erros grosseiros, foi ajudado pelo VAR, teve a sorte do pé de Deyverson estar posicionado centímetros à frente de Reinaldo e com isso saiu com a avaliação muito positiva.
Mas arbitragem não se mede apenas nos lances capitais. Flávio de Souza roubou à moda antiga. Diante do jogo mais fluido do Palmeiras, amarrou a partida com as chamadas faltinhas. Truncou, inverteu, quebrou o ritmo. Erros que se diluem diante das duas midiáticas intervenções do árbitro de vídeo, que anularam gols – um para cada lado, aumentando a sensação de justiça. Mesmo jogando abaixo do que pode, se mantivesse o ritmo da partida, o Palmeiras mostrava que poderia chegar à marcação de gols.
Tenham calma, ainda falaremos sobre bola. Mas as coisas
podem andar em paralelo. O fato de termos involuído dentro de campo não impede
de pontuarmos mais um assalto, ainda mais considerando que as semifinais são
jogos de 180 minutos e que a anulação do pênalti no Morumbi, esse sim, foi um
lance grande e decisivo manipulado contra nós.
Mas vocês querem que o texto fale de bola para poderem pregar alguém na cruz. OK. Sigamos.
Dentro de campo,
andamos para trás.
Cesar Greco/Ag.Palmeiras
O sistema defensivo parecia bastante sólido – e, de fato, os
números apontam para isso. Mas nas últimas partidas temos visto nossos
zagueiros muito mais expostos que antes. A recomposição defensiva está falha;
Felipe Melo está marcando muito mal, à distância, se movimentando pouco e
preenchendo mal os espaços. Com isso, Bruno Henrique fica sobrecarregado.
Os laterais sobem ao ataque mas não têm apoio; com isso,
dependem de jogadas individuais ou de tabelas fortuitas para poderem chegar ao
fundo em condições de fazerem um cruzamento.
Na frente, temos três jogadores de qualidade indiscutível, que começaram a dar sinais de entendimento (importante lembrar que Dudu, Scarpa e Goulart só começaram a jogar juntos no dia 10 de março), mas nos últimos três jogos parecem já não estar mais falando a mesma língua; o entrosamento regrediu. As jogadas até começam, mas falta uma preparação mais adequada para a finalização. Isso passa também pela sintonia com o centroavante.
Nem Deyverson, nem Borja, conseguiram satisfazer a essa
dinâmica. Temos no elenco um rapaz de 22 anos, cuja contratação, inclusive, precipitou
o empréstimo de Papagaio, menino da base que poderia ser acionado conforme
mostrasse amadurecimento. Por tudo isso, a entrada de Arthur Cabral no time
parece ser a primeira atitude que precisa ser tomada pela comissão técnica para
tentar corrigir o time.
Thiago Santos, com muito mais mobilidade e precisão nos
desarmes, é outro que precisa ser mais acionado. Eventualmente, sua presença
pode até liberar Bruno Henrique para voltar a ser o jogador “box-to-box” do ano
passado, decisivo e marcador de gols.
Obviamente, para que tudo isso aconteça, o sistema geral de
jogo precisa passar por uma revisão. Os laterais não podem subir sem uma
cobertura bem ensaiada. As linhas precisam ficar mais próximas, mais compactas,
diferente do time cada vez mais espalhado que vemos ultimamente.
O Scolarismo está
falhando em sua base
Cesar Greco/Ag.Palmeiras
O grande problema é que Felipão não é muito adepto desse modelo de jogo mais apoiado, com linhas compactas. O Scolarismo é um sistema que joga com probabilidades; mais vertical, funciona muito bem quando a defesa está forte. Ocorre que a defesa anda mais exposta que o normal nos últimos jogos, quebrando a base do sistema.
Sem o apoio do segundo volante; o ataque depende das subidas
aleatórias dos laterais para apoiar a troca de passes pelos flancos. Tem
funcionado pouco. Para completar, os centroavantes vivem fases técnicas ruins e
não ajudam na construção das jogadas. Por isso, as chances de tomarmos gols
aumentou, e as de fazer pelo menos um por jogo, despencaram. Hoje, as probabilidades
estão contra o Palmeiras, o que reflete nos últimos placares.
Para completar, cruzamos com o SPFC, um time abaixo da linha do medíocre, tentando se recuperar de uma crise técnica profunda, no pior momento possível. Uma enorme falta de sorte do calendário fez com que uma vaga fosse decidida nos pênaltis ao colocar frente a frente um time no ponto mais baixo de sua oscilação contra um que até então não tinha atravessado um momento tão bom na temporada.
Calma; tranquilidade
Cesar Greco/Ag.Palmeiras
Quarta-feira temos um jogo-chave na Libertadores e a vitória
é mandatória. Não há tempo para implementar mudanças profundas no sistema de
jogo; vamos de scolarismo puro e torcer para que as probabilidades voltem a nos
sorrir.
O que pode aumentá-las é fazer as duas trocas sugeridas,
introduzindo Thiago Santos e Arthur Cabral no time, simplesmente para que seus
desempenhos técnicos suplantem os de Felipe Melo e Deyverson, até que eles
voltem a viver momentos mais felizes.
Nosso papel, neste momento, parece ser o de cobrar por mudanças – mas sem perder a essência de torcedor. Essa essência, ao contrário do que se pensa, não é a de cornetar, e sim a de apoiar. A corneta é um aspecto eventual, válido e até necessário. Mas a função primordial do torcedor é, sempre, apoiar, empurrar o time para frente, não ser âncoras.
Segunda-feira de derrota para inimigo, em casa, com eliminação, é duro. É impossível não se deixar levar pela raiva em alguns momentos. Mas nossos cérebros continuam aqui em cima. Com calma e tranquilidade chegaremos mais rápido às correções necessárias.
Esta conversa vai continuar no Periscazzo desta noite: às 20h, ao vivo, em nosso canal do Youtube: www.youtube.com/verdazzo1914. Inscreva-se!
O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.