Verde não é mais a cor da inveja, e sim, da esperança
Todo ano-novo é assim: recarregamos as baterias, viramos a
página e miramos nos objetivos, sejam novos, sejam os antigos que ainda não
conseguimos alcançar. Fazemos reflexões, tentamos aprender com os erros para
não repeti-los e esboçamos o plano de ação para mais um ciclo.
Como torcedores, ficamos limitados a torcer – a caneta está
nas mãos de uma pessoa, o presidente do clube, que está rodeado de diretores,
executivos e assessores para auxiliá-lo na tarefa de fazer o Palmeiras levantar
títulos. Nosso papel é torcer e, eventualmente, cobrar, nos canais apropriados:
a internet e as arquibancadas.
O que fizemos de errado? O que a diretoria fez de errado? O
que não podemos fazer de novo? Como devemos agir este ano para que melhore em relação
ao ano passado? Essas perguntas devem ser feitas por todos nós, em frente ao
espelho e em nossos círculos de confiança.
E junto com esse exercício, deve vir um impulso de
boa-vontade inequívoco, uma vontade legítima de fazer parte de mais uma
campanha campeã, de ser uma mola propulsora rumo a novas conquistas.
Conseguiremos?
Eles erraram
A diretoria errou. Avaliaram mal alguns atletas e gastaram mal. Perderam chances excepcionais de se desfazerem de atletas que não tinham nada a agregar. Falharam mais uma vez na construção de uma identidade futebolística. Pior que tudo isso: perderam desastrosamente a mão no controle financeiro. A política segue atrapalhando, e não “como sempre”: antes, os joguetes de poder apenas tornavam o ambiente carregado e tiravam o foco da direção, o que influenciava no desempenho dos atletas. Agora, além de tudo isso, a política também está interferindo de forma significativa na saúde financeira.
O Avanti foi deixado de lado e despencou. Um dos pilares mais
importantes do tripé financeiro (torcida + patrocínio + televisão) que sustenta
a competitividade do clube está ruindo. Decisões incompreensíveis do ponto de
vista administrativo, como o adiantamento do pagamento de uma dívida escalonada
também foram tomadas por viés político. Mas a pior decisão, de longe, foi
assumir uma vultosa dívida que não nos pertencia.
Os bodes expiatórios de sempre foram acionados: o técnico e
o diretor de futebol. Sem pulso para suportar a pressão, a diretoria
defenestrou personagens importantes nas últimas conquistas do clube. Felipão, o
maior técnico de nossa História, foi descartado de forma torpe.
Com o fluxo de caixa seriamente comprometido, embora os
documentos oficiais estejam sendo sonegados ao conhecimento público no limite da
lei, a estratégia do Palmeiras parece ser, novamente, cortar na carne – apenas
quatro anos depois de ter colocado a casa em ordem e de ter voltado a beber água
limpa. Essa é nossa atual realidade.
Nós erramos
A torcida caiu na pilha. Viramos o ano campeões e não resistimos à tentação de subir no salto. Verde virou a cor da inveja. Não conseguimos controlar nossas emoções e transformá-las em combustível positivo. Não empurramos nosso time pra cima dos adversários, não os esmagamos. Ao contrário, construímos uma pressão interna difícil para qualquer jogador suportar. Atletas que reconhecidamente rendem muito mais em outros clubes, refugam aqui. Decidir em casa deixou de ser nosso grande trunfo.
Será que não é hora de repensarmos a forma como cobramos
desempenho de nossos atletas? Será que não é preciso ajustar a forma de manter
os jogadores fora da zona de conforto? Será que os métodos vistos este ano,
como apedrejamento de ônibus antes de um jogo de Libertadores e ameaças de
morte não estão além de qualquer limite?
E nas redes sociais? Será que os linchamentos virtuais não estão ultrapassando as raias da sanidade? Será que quando criticamos nossos atletas, estamos fazendo para que eles rendam melhor ou apenas para aliviar nossas tensões e nossas frustrações por não sermos tão bem remunerados quanto eles? Ou estamos apenas dando showzinhos para fazer graça para nossos amigos e alimentar nossos egos? Estamos remando a favor ou contra?
Será que não existe uma maneira de canalizar melhor todo
esse turbilhão de sentimentos a favor do Palmeiras, que no fundo é o que
realmente interessa?
Correções
Fabio Menotti/Ag.Palmeiras
A diretoria, a fim de corrigir os erros administrativos cometidos recentemente, acionou a base. Nove jovens, entre os promovidos e os que retornam de empréstimo, terão a responsabilidade de fazer parte do elenco principal do Palmeiras.
Essa foi uma das exigências da torcida em seu movimento para
derrubar o diretor de futebol. O desejo foi duplamente atendido e a molecada,
enfim, terá uma chance.
Diante do gesto, cuja motivação não foi exatamente a de dar
chance à base e sim uma conveniência financeira, a torcida precisa redirecionar
a energia. O Palmeiras precisa da massa empurrando.
Esses moleques precisam de apoio, pelo menos pelo tempo
necessário para crescerem e evoluírem ao ponto de poderem performar como
esperamos. É muito raro um menino da base chegar pronto ao time adulto; eles
precisam de paciência e de tempo, coisa que o futebol quase nunca dá. Conseguiremos
fazer diferente desta vez?
Avanti!
A torcida precisa também voltar a abraçar o Avanti. Mesmo que o programa não seja perfeito. Mesmo que não dê os retornos desejados. O Avanti, em sua essência, é a materialização do amor que sentimos pelo Palmeiras, não uma forma de obter vantagens ou contrapartidas.
Ao cancelar o Avanti como forma de “punição” ao clube por não realizar nossos desejos, fazemos exatamente o contrário do que deveríamos. A cada Avanti cancelado, um gambá dá pulinhos de alegria na Marginal e um urubu dá rasantes acrobáticos nos morros cariocas. Se você deixou o plano de lado, por qualquer motivo, volte agora!
Vamos renovar nosso compromisso com o Palmeiras. Vanderlei
Luxemburgo tem muito o que provar. Não somos mais o ricaço favoritão com um
olho no exterior. Voltamos a ter que provar, antes de mais nada, nosso valor
aqui dentro de casa. Vamos com um monte de moleques talentosos – ainda que
possamos ter algum anúncio de reforço nos próximos dias.
A chance de conquista este ano são bem menores do que as do
início do ano passado – o que não significa que são desprezíveis. Nosso time
segue sendo bom. Nossa torcida, quando abraça o time, é difícil de segurar. E
se a roda voltar a girar, os eventuais títulos terão um sabor muito especial,
diferente das conquistas que soavam como “obrigação” diante do “valor investido”.
Podemos estar diante dos troféus mais saborosos deste século. O futebol é pródigo em oferecer novas chances a todos. Vamos aproveitar melhor as nossas este ano. AVANTI! VAMOS PALMEIRAS!