Lambendo as feridas: por que o Palmeiras perdeu na terça
O jogo da última terça-feira em que o Palmeiras perdeu para o Botafogo do Rio no Allianz Parque nos trouxe a sensação clara de que o ano acabou, com uma única conquista: o tri paulista. A natureza do torcedor tende a não se satisfazer nunca, ainda mais quando a temporada não correspondeu às expectativas, que eram muito maiores que um campeonato estadual.
É inevitável sentir um gosto amargo. A esperança do tri brasileiro está restrita ao campo das probabilidades matemáticas – ao menos até a próxima rodada. O que nos leva a outro aspecto da natureza do torcedor: eleger culpados e exigir dispensas e demissões, fruto da raiva e da frustração, mesmo que por vezes sejam justas.
Contraditoriamente, o que aumenta essas sensações é saber que houve pelo menos cinco lances aleatórios, que fogem ao controle dos jogadores e da comissão técnica, que penderam para o lado dos cariocas. Se qualquer um deles tivesse sido favorável ao Palmeiras, a sorte do jogo e do campeonato poderia ter sido outra.
Notem que os lances listados a seguir não anulam a importância dos erros táticos, de escalação e substituição do treinador, nem os erros técnicos e o nervosismo dos jogadores.
A arbitragem decidiu marcar escanteio num lance que foi tiro de meta;
Na sequência do lance, outro tiro de meta foi transformado em escanteio;
Na cobrança desse escanteio, Gregore não estava onde tinham ensaiado e, por pura sorte, acabou ficando livre para marcar o primeiro gol;
Pouco depois, a arbitragem de campo e o VAR decidiram não expulsar Luiz Henrique, após cotovelada clara em Rony;
No segundo tempo, a arbitragem de campo e o VAR decidiram expulsar Marcos Rocha, por um toque de mão aberta no rosto de Igor Jesus.
Nestes lances, não havia absolutamente nada que pudéssemos controlar. A moeda foi lançada e deu Botafogo nas cinco vezes.
– Nossos jogadores poderiam ter evitado as jogadas que originaram os escanteios? Talvez. – Muitos jogadores sentiram a pressão mudando de lado e desmoronaram, ainda no primeiro tempo? Claramente. – O time poderia ter tido uma escalação mais adequada para o confronto? Possivelmente. – O plano de jogo foi equivocado? Agora é seguro dizer que sim.
Nossos jogadores cometeram muitos erros, bem como nosso treinador. E não foi apenas neste jogo, mas ao longo do campeonato. Esses erros foram cometidos em partidas que vencemos e também nas que nos custaram muitos pontos.
Voltamos então à natureza do torcedor, que quer culpados e demissões.
Vai chegando o final da temporada, que é o momento de avaliação. Quem fica, quem sai. Barcas precisam ser montadas, é certo. Muitos jogadores parecem estar encerrando seus ciclos com nossa camisa; alguns, com várias temporadas de serviços prestados. Fato normal no futebol; caberia à nossa torcida tratá-los com respeito e deferência, apesar do rendimento decepcionante em 2024.
E o Abel?
Cesar Greco/Palmeiras/by Canon
Abel Ferreira foi chamado de burro pela primeira vez no Allianz Parque, embora o grito tenha sido rapidamente rechaçado pela maioria da arquibancada. O treinador encabeça a lista de dispensa de muitos torcedores.
No exato momento em que Abel for demitido, ela passará a ser a primeira opção de dez entre dez clubes brasileiros. Todos, sem exceção, vão querer tê-lo como treinador, o que já nos dá uma dica do quanto a decisão de dispensá-lo seria equivocada.
Nós, que o temos como referência nos últimos quatro anos, conhecemos muito bem suas qualidades e defeitos. A frustração pelos resultados desta temporada não pode encobrir o trabalho global feito por ele e sua comissão neste período. Parece ser um erro grave entender que não sai mais nada desse comando por conta de uma temporada frustrante e esquecer o que eles ainda são capazes de entregar.
Parece claro que é bem melhor tê-los motivados a nosso lado, cobrando as devidas correções na rota, com todo o respeito que eles fazem por merecer, do que entregá-los de bandeja para o Flamengo ou para o Corinthians.
Abel precisa rever alguns conceitos que o levaram a tomar decisões equivocadas. Ele sabe melhor que ninguém onde errou.
Menos pizza e mais gestão de futebol
Alexandre Guariglia/Lance!
Passado o período eleitoral, nossa diretoria precisa retomar a mão na gestão do futebol. Entre outros aspectos, precisa rever a política de formação de elenco, que deu muito certo até 2022, mas deu sinais de enfraquecimento em 2023 e fez água este ano – algo potencializado pelo aumento no volume de investimento dos adversários. Ainda deu para bater de frente nesta temporada, mas se o Palmeiras não ajustar essa metodologia, vai ficar para trás.
E claro, os bastidores, sempre os bastidores. As arbitragens seguem sem nenhum constrangimento em “errar” contra nós. Quatro dos cinco lances “aleatórios” listados acima foram por escolhas de Wilton Pereira Sampaio e de Wagner Reway. Fomos eliminados de várias competições de mata-mata nos últimos três anos por decisões das arbitragens, e agora estamos prestes a perder um Brasileirão. Nossa diretoria permanece mansinha nos bastidores e os árbitros seguem muito à vontade para nos tirar troféus.
Ainda temos a chance matemática de vencer este campeonato – entre 22% e 28%, dependendo do instituto. Se o título vier, será “culposo”, como foi o do Flamengo em 2009 e eles comemoraram muito. Ainda temos que manter o foco para vencer Cruzeiro e Fluminense, porque se acontecer do Botafogo do Rio perder do Inter e o Palmeiras não for campeão porque tropeçou de novo numa dessas duas partidas, aí a frustração será potencializada a níveis estratosféricos.
Mesmo que o título culposo venha, as bandeirinhas já estão espetadas, as luzes estão piscando e mudanças precisam ser feitas. Tentando pensar com clareza, demitir Abel e sua comissão parece claramente estar fora dessa lista.