Zé Rafael e o trakinas
O meia Zé Rafael foi mais um alvo da cobrança dos torcedores nas redes sociais, ontem à tarde.
Como todos os atletas do elenco, o camisa 8 foi abordado de maneira boçal por um torcedor, mas decidiu não deixar barato:
Olha tua cara, parece uma trakinas com recheio e diz que eu to gordo?! Pega minhas medidas e peso aqui no clube, antes de falar merda seu coitado!
— Zé Rafael (@93zerafael) August 20, 2020
As opiniões se dividiram. Alguns acharam justa a resposta irritada do atleta, invocando a regra universal do “bateu, levou”. Outros aproveitaram o contato estabelecido para reforçar as cobranças, a maioria no mesmo tom boçal do primeiro torcedor, ou pior.
Errou!

Zé Rafael, por mais que tenha apenas reagido à provocação, errou feio ao responder o torcedor.
Ao acusar o golpe, ele concedeu a notoriedade que o torcedor queria. Quando resolveu xingar, o rapaz comprou um bilhete de loteria, cuja chance de estar premiado era ínfima. Mas foi.
O xingamento de volta foi um troféu, usado para se vangloriar perante os amigos. Ele conseguiu ser ouvido pelo jogador. Fez a pressão. Ele é o máximo.
Além disso, Zé Rafael deu pauta negativa para a imprensa, que explorou o episódio. Abutre vive de carniça.
Colocando na balança

O que Zé Rafael ganhou com isso? Colocando na balança, de um lado veio a rápida sensação de não deixar barato, de se defender; do outro, vem a frustração de saber que o ofensor adorou ser respondido, mais a carniça para a imprensa, e pior que tudo: entrou na alça de mira dos haters de redes sociais.
Zé Rafael perdeu o direito a erro. E mesmo que não erre, se o time for coletivamente mal, ele será um dos mais perseguidos, porque ousou bater boca com um torcedor.
Um coitadinho que só estava se manifestando, e que se exaltou apenas porque estava num momento de emoção. Afinal, torcedor tem o direito inalienável de ser idiota em redes sociais.
A resposta deflagrou o confronto do rico contra o pobre, do famoso contra o anônimo, do arrogante contra o humilde. Não é inteligente para nenhum atleta entrar nesse tipo de embate público.
Diretrizes
O atleta palmeirense, quando assina o contrato, recebe uma série de leituras, desde material institucional até seus direitos e obrigações, entre recomendações diversas, como qualquer novo funcionário numa grande empresa.
Espera-se que entre essas recomendações esteja a de não se expor de forma inadequada em redes sociais. Sem conhecer o material, é de se imaginar essa recomendação precise ser um pouco mais esmiuçada. Talvez seja interessante até promover palestras periódicas com especialistas para os atletas.
As redes sociais são um instrumento fascinante proporcionado pela popularização da internet, mas talvez a população em geral não esteja preparada para usá-las em sua plenitude. Não cabe aqui alongar sobre esse tema, mas sim sobre o que nossos jogadores podem e não podem fazer diante desse despreparo geral.
Afinal, são profissionais, representam uma instituição e precisam agir com tal, para evitar danos colaterais que podem virar apenas uma perseguição virtual, mas que também podem ter consequências piores, até em esfera cível e criminal, dependendo do caso.
O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.
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